CHILE, Patricio Young •
Estamos num momento crucial da nossa história nacional. Sem dúvida alguma, o chão fugiu-nos de debaixo dos pés a todos nós. Vimos como as demandas surgem de todos os lados e também com a marcada solidariedade dos jovens das classes alta burguesia, entrevistados pela TV, que apontam que os seus privilégios lhes doem e por isso protestam.—
Hoje parece haver um grande consenso em que a causa está na grande desigualdade social que construímos e que se manifesta de muitas maneiras.
Mas onde está Schoenstatt em tudo isto? Dissemos, no 31 de Maio, que nos preocupamos com os vínculos; com Deus, com a natureza, com a sociedade. O tema dos vínculos parece estar centrado principalmente na esfera pessoal e muito pouco na esfera social.
Vamos esclarecer as coisas. É necessário encarar a nossa realidade, por muito rude que seja. Mas não há mais tempo para eufemismos, palavras tranquilizadoras ou simples evasivas.
Onde estamos e o que fazemos?
Somos um Movimento elitista. Somos maioritariamente compostos por famílias das classes média-alta, alta, e super-alta. Fora de Carrascal, os nossos Santuários estão localizados em bairros das classes altas. O nosso Pai só poderia estudar no Colégio Padre Kentenich de Puente Alto (bairro marginal), o único totalmente gratuito. Há alguns que são subsidiados, mas a grande maioria são para classes altas, embora alguns pais não gostem (porque me questionaram publicamente, mas não o negaram).
Apesar dos recursos da Família, Maria Ayuda não vive na bonança, pelo contrário, tem que fazer milagres para sobreviver.
Há alguns anos, um membro da nossa Família, que está connosco há mais de 50 anos, falando sobre a situação das regiões de Santiago da nossa União Apostólica das Famílias, disse-me que era difícil contar com membros que pudessem dedicar muito tempo à direcção, porque tinha um custo económico. Havia que trabalhar muito para ter um rendimento médio de 6 milhões de pesos por mês (US D 8245 ou € 7450 aproximadamente).
Depois desta conversa, tive uma depressão profunda. Onde está posto o nosso coração?
Enquanto Schoenstatt não tiver uma verdadeira abertura social como Família…
Enquanto Schoenstatt não tiver uma verdadeira abertura social como Família (não só na Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt ou nos Madrugadores), não estamos a ver a realidade em todas as suas dimensões. Há um Chile que não conhecemos e que não dialoga connosco dentro da Família. Alguns de nós só o vamos visitar, por exemplo, nas Missões Familiares. Precisamos trabalhar por Santuários em La Pintana, Chimba, Valparaíso e nem mais um em bairros da classe alta. Se quiserem fazê-lo, que o façam num sector popular, não perto da vossa casa.
É necessário incorporar a Família no outro Chile. Caso contrário, continuaremos a viver numa bolha. Continuaremos a ser um Gueto que tanto detestava o nosso Pai.
É aqui que deve ser demonstrada a nossa solidariedade e a valorização dos vínculos em todas as suas dimensões. Este é o momento em que devemos enriquecer o nosso olhar e ajudar a construir uma sociedade de solidariedade como o nosso Pai queria.
O problema do Chile não pertence a outros, é também o nosso problema.
Durante muito tempo, olhámos para os problemas da Igreja a partir do passeio da frente. Hoje não podemos fazê-lo com o nosso país. O problema do Chile não pertence a outros, também é nosso.
Há uma grande oportunidade! Ajudar a construir uma sociedade diferente que valoriza tudo o que é avançado, mas que redistribui melhor a sua riqueza. Porque um país onde 1% tem 33% da riqueza não é viável.
Esta dura realidade que estamos a viver, exige uma revisão profunda. Não é suficiente rezar, por mais importante que seja, mas precisamos ver até que ponto temos sido parte do problema e como ajudamos a ser parte da solução.
Esta é a hora da verdade.
Desculpem-me a franqueza e a dureza, mas este é o momento da verdade. Se não acordarmos agora, Schoenstatt não terá um amanhã, nem um dia depois de amanhã.
Pai, do alto ilumina-nos como nunca! Mãe Querida, é a hora da fidelidade!
Patricio Young faz parte da União das Famílias de Schoenstatt. É Assistente Social da Universidade do Chile com Mestrado em Ciências do Desenvolvimento, com Menção em Sociologia das Comunicações. Trabalha como consultor em Marketing e Comunicação.
Original: espanhol (26/10/2019). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
Foi com muito gosto que traduzi este artigo escrito por um irmão na Aliança. Quero agradecer em primeiro lugar a schoenstatt.org por ser um espaço schoenstatteano de grande amor ao Pai-Fundador e à Mater onde os valores pelos quais lutou e sofreu o Padre Kentenich se mantêm vivos e preservados e, por isso, é um espaço livre, de troca de experiências e opiniões onde se permite que quem pensa fora da caixa e está atento ao mundo real, aos sinais dos tempos possa expressar o que sente e o diagnóstico a que chegou, dando também pistas para a solução. Obrigada Patricio Young pela clareza e a ousadia em pôr o dedo na ferida da nossa querida Família. Dói-nos mas é necessário para que haja futuro para Schoenstatt na sociedade onde se DEVE inculturar. Não é só no Chile …ao pé da minha porta também se deveria tomar nota. Obrigada