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Posted On 2024-03-22 In Artigos de Opinião

Duradouro e resistente

Do Pe. Elmar Busse •

“Mamã, podes baixar as baínhas das minhas calças?” – “Mamã, podes alargar a minha saia?” A mamã pode fazê-lo porque tem uma máquina de costura e frequentou um curso de costura. Já em 1814, o alfaiate austríaco Madersperger registou uma patente para a primeira máquina de costura. A ideia básica era trabalhar com duas linhas, uma das quais deveria ser utilizada numa pequena bobina por baixo do tecido. O principal problema era: como é que as linhas superior e inferior podiam ser entrelaçadas de forma a criar uma costura duradoura? —

Actualmente, existe uma grande variedade de tipos de máquinas de costura com vários programas electrónicos de pontos decorativos. Mas o princípio básico permanece o mesmo: cada ponto da agulha une engenhosamente a linha do laçador à linha superior. Por vezes, não ficamos satisfeitos se algo tiver sido cosido com uma “agulha quente”, ou seja, se um botão tiver desaparecido após a segunda lavagem ou se a costura rebentar subitamente quando nos dobramos. Quanto mais curta for a distância entre os pontos individuais da agulha, mais duradoura será a costura, desde que a linha de costura seja adequada.

A máquina de costura como símbolo da minha relação com Deus

A máquina de costura pode tornar-se um símbolo da minha relação com Deus: como posso ligar bem o tecido da minha vida à vontade de Deus, como posso tornar esta ligação mais forte, como posso alcançar a fidelidade na Aliança com Deus?

Para estas questões, o Padre Kentenich desenvolveu uma espiritualidade que se baseia na ideia de aliança. A Aliança de Amor com Maria permite-nos, ao longo do tempo, moldar toda a nossa relação com Deus de acordo com o modelo básico da Aliança. Deus oferece à Humanidade, mas também a cada indivíduo, um fio de Aliança e espera que nós liguemos o nosso fio de Aliança, de forma mais ou menos engenhosa, ao fio divino.

Na quarta oração eucarística, o sacerdote reza: “Reiteraste a tua Aliança com os Homens e, através dos profetas, conduziste-os na esperança da salvação“. Uma oferta repetida de Deus para nós, mas também um desafio quotidiano. Deus não quer que vivamos a nossa vida separados dele, mas que mantenhamos uma comunidade de vida com Ele. “Nele vivemos, nos movemos e existimos”, foi assim que Paulo formulou o seu evangelho no mercado de Atenas. Escreve aos Coríntios: “Ele (Cristo) morreu por todos, para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Cor 5,15). Em Gálatas, dá o seguinte testemunho: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Mas, enquanto vivo neste mundo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim“. (Gálatas 2:20)

A Aliança com Maria capacita-nos para sermos aliados

Para o Padre Kentenich, o caminho para uma vinculação vitalícia a Deus, como Paulo nos demonstrou e testemunhou, é através de Maria. A nossa capacidade de podermos ser aliados cresce através dos nossos vínculos fiéis e calorosos com Ela. Porque o amor torna-nos semelhantes, estimula-nos a querer ser como eles, impele-nos a escutar a mensagem de Deus para as nossas vidas e a dizer-lhe um sim corajoso. “Nada sem ti, nada sem nós” é o pequeno lema que nos recorda a nossa contribuição para a realização do plano de salvação de Deus e quer reforçar a nossa confiança de que nunca poderemos viver sozinhos. A vida triunfa com Ela.

Ao costurar, não importa se, devido ao tecido da vida, a nossa costura se assemelha mais a uma costura tripla em ganga resistente ou a delicados pontos decorativos em tule perfumado. Há fases da vida em que flutuamos de felicidade e alegria, mas há alturas em que nos arrastamos laboriosamente por caminhos pedregosos. Há anos em que nos afogamos no trabalho, há dias em que somos atormentados pelo tédio. Seja qual for o aspecto do nosso tecido de vida, é importante vinculá-lo a Deus. Isto significa viver em Aliança.

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Como é que isto funciona na prática?

Como é que a fé se torna a força que atravessa o nó?

Na oração da manhã, podemos colocar-nos à disposição de Deus como seus instrumentos, podemos oferecer-Lhe que tudo o que fizermos hoje será para sua maior glória. E podemos pedir-Lhe que abençoe as nossas acções. Esta atitude afecta as nossas acções. Muito frenesim, muita superficialidade, muita indiferença desaparecem se quisermos realmente fazer bem o nosso trabalho, se soubermos porquê e para quem estamos a lutar.

Esforçar-se por manter esta atitude positiva (os mais velhos talvez a conheçam como “renovação da boa opinião”) não é uma acrobacia mental supérflua. Se, enquanto estudante, se pensa com horror nos “professores estúpidos”, se, enquanto secretária, se pensa no colega invejoso, se, enquanto enfermeira, se pensa nos doentes incómodos, se, enquanto desempregada, se pensa no tempo que o seu trabalho cobria, então sente-se como se começasse a conduzir o carro com o travão de mão puxado: parece que não puxa bem e, eventualmente, os travões começam a cheirar mal e a deitar fumo.

Um sim sincero ao que me espera hoje, um sim sincero às pessoas que me esperam hoje, é como soltar o travão de mão. Muitas vezes, este sim sincero não pode ser conseguido sem o amor à cruz. “Sim, Deus, quero tentar ultrapassar esta dificuldade. O exercício seguinte é um exercício de relaxamento: as muitas coisas podem levar-me a um frenesim, ou a carga de trabalho parece uma montanha intransponível. O Pe. Kentenich encoraja-nos a praticar conscientemente a confiança nas nossas orações matinais: “Se olharmos as nossas próprias forcas esvai-se toda a esperança e confiança; a ti, Mãe, estendemos as mãos e imploramos abundantes dons de amor. Mesmo nas tormentas e nos perigos, manterás sempre a fidelidade à aliança que selaste connosco e que enriqueceste com tantas graças….” (Rumo ao Céu, 13-14).

O exercício de relaxamento inclui também a atitude básica: “quer no êxito, quer no fracasso anunciaremos sempre o teu amor.” (Rumo ao Céu, 9). Apesar de toda a ambição saudável e de todo o esforço para o sucesso, o sucesso não é o resultado final. No fim de contas, o que conta é o que é feito por amor.

Continuar a coser a costura da Aliança

Depois deste duplo nó na minha costura da Aliança de manhã, há muitas oportunidades ao longo do dia para continuar a coser a costura da Aliança através de orações, de decisões conscientes, de sacrifícios, de pequenos actos de bondade para com Deus e para com as pessoas. Torna-se perigoso quando andamos à deriva sem tomar uma decisão, quando nos limitamos a contar as gotas de suor no lenço e perdemos de vista a razão pela qual o estamos a fazer. A apatia e a insatisfação têm muitas vezes a sua origem num empenhamento pouco convicto.

O Padre Kentenich considerava o trabalho como uma das fontes insubstituíveis de felicidade do Homem. Deus permite-nos partilhar a Sua força criadora e quer tornar o mundo mais humano e, portanto, mais divino através de nós. De vez em quando, é bom integrar conscientemente neste grande objectivo, mesmo as acções mais pequenas e discretas.

Porque a experiência da nossa própria insignificância pode, por vezes, ser uma fonte de insatisfação. Quem tem a sensação de que já não é importante não pode envolver-se nas suas acções. Por outro lado, que grande oferta nos faz Cristo quando diz: “Como o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). Nenhum acto de amor lhe passa despercebido. Como nos cansamos quando o nosso empenho é dado por adquirido e simplesmente consumido sem comentários! Que reservas de energia devem ter as mães quando os seus filhos devoram a comida saborosa e pontual sem comentários durante 30 dias, mas no 31º dia a salada demasiado ácida é criticada. Depois, no dia seguinte, volta a cozinhar com amor: tem as qualidades de um mártir. Porque sabemos como uma palavra de apreço, de elogio e de agradecimento nos inspira, não a poupemos quando lidamos com os outros.

Recuperar o contraste

O sector do lazer também oferece muitas oportunidades para continuar a coser a costura da Aliança. Fazer aquilo de que se gosta, descansar, procurar o equilíbrio físico ou mental no trabalho profissional é tão importante para cumprir a vontade de Deus como o trabalho. Höffner chama a este contraste recuperação.

Não adianta simplesmente aumentar a quantidade da devoção se a qualidade for prejudicada.

Uma mãe que se permite andar de bicicleta sozinha durante meia hora, três vezes por semana, pode tolerar um progresso lento ao caminhar com os seus três filhos pequenos. Antes de ter tido a ideia de andar de bicicleta, passear com os mais pequenos era um teste de paciência insuperável.

Um estudante pratica voleibol três vezes por semana porque não sabe o que fazer com a sua energia, porque infelizmente bater os tapetes passou de moda graças aos potentes aspiradores. De vez em quando, leva uma medalha para casa depois de uma competição. Isso reforça a sua auto-estima. Na sua equipa, aprende também, jogando, a adaptar-se às reacções dos outros.

Olha para as nuvens

Qualquer pessoa que tenha sido mordida pelo bichinho da viagem pode experimentar a beleza da Criação de Deus no vasto mundo: uma sensação de infinito ao ver o mar, um deslumbramento com a grandeza de Deus ao deparar-se com uma rocha, um deslumbramento com a sua imaginação criativa ao ver a flora e a fauna estrangeiras. Qualquer pessoa que evite os engarrafamentos e o stress de uma longa viagem e contemple as nuvens brancas no céu a partir de uma espreguiçadeira no jardim sentirá como o lazer pode tornar as coisas que já estão garantidas na vida num prazer e fomentar a capacidade de percepção.

Quando o relógio e a escuridão me lembram de ir dormir, é uma boa ocasião para rever o dia diante da face de Deus: só então posso realmente tomar consciência de algo das atenções do Deus Omnipresente. Então, talvez possa consertar uma ou outra parte da costura da Aliança que atravessa a minha vida com um “Obrigado, Deus!” ou um “Perdoa-me!” ou com um acto de confiança que reduza as preocupações e os medos.

Quem experimenta desta forma a fidelidade de Deus à Aliança pode fazer crescer a esperança no seu coração. Os outros também podem beneficiar com isso, porque a esperança é contagiosa.

Original: alemão (20/3/2024). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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