Factfullness

Posted On 2024-03-08 In Artigos de Opinião

As minhas razões para a esperança

César Fernández-Quintanilla, Espanha • 

Olhamos à nossa volta e o que é que vemos? Desigualdade e guerra. Falta de bons líderes políticos. Polarização da sociedade e da Igreja. A ideologia de género e a pornografia. As nossas igrejas estão a esvaziar-se e a sociedade está cada vez mais alienada das ideias transcendentes e da consciência de Deus. As alterações climáticas parecem ameaçar a sustentabilidade do planeta. Numa época em que as más notícias estão na ordem do dia, é fácil deixarmo-nos levar pelo espírito negativo. Nesta situação, os sentimentos de rejeição do mundo actual estão a crescer, o catastrofismo está a espalhar-se.

Num inquérito recente realizado a 100 000 jovens de todo o mundo sobre as suas atitudes em relação às alterações climáticas, mais de 75% consideravam que o futuro era ameaçador e 40% estavam a pensar em ter ou não filhos. Noutro inquérito, realizado nos Estados Unidos entre adultos sem filhos de todas as idades, 11% disseram que as alterações climáticas eram a principal razão para não terem filhos.

Felizmente, existe uma visão mais positiva da realidade. Uma visão que não se baseia nos relatos dos media e nos sentimentos de desgraça e tristeza que nos rodeiam. Uma visão baseada na razão (fundamentada em factos reais) e na fé. Neste sentido, gostaria de partilhar convosco três referências bibliográficas.

Factfullness

A primeira delas é o livro “Factfullness” (Factfulness: O hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos, ISBN 978-8501116529). Nele, Hans Rosling (1948 – 2017), epidemiologista de renome do Karolinska Institutet, em Estocolmo, analisa as principais razões pelas quais nos enganamos sobre o que se passa no mundo e explica por que razão as coisas são melhores do que pensamos. Segundo Rosling, temos vários instintos que distorcem a nossa visão. O primeiro é a nossa tendência para dividir o mundo em dois campos (nós contra eles). Outra causa do nosso astigmatismo é a forma como consumimos a informação dos media (baseada na exploração do medo). E, para além disso, temos uma visão distorcida do progresso (acreditando que as coisas estão sempre a piorar). O nosso problema é que não temos consciência do que não sabemos e, mesmo quando estamos informados, somos movidos por preconceitos inconscientes e previsíveis. Porque, apesar de todas as suas imperfeições, a realidade económica e social do mundo é muito melhor do que pensamos. Isto não quer dizer que não haja motivos de preocupação e que não haja necessidade urgente de melhorias. Há muitos problemas por resolver. Mas os dados dizem-nos que o mundo está a ficar cada vez melhor.

Not the end of the world

Not the end of the world

Not the end of the world

Seguindo a mesma linha de pensamento, mas centrado na sustentabilidade e nas alterações climáticas (dois temas muito actuais), o livro “Not the end of the world” (Little, Brown Spark, 978-0316536752) desfaz muitos dos mitos existentes sobre estas questões. Nele, Hannah Ritchie, investigadora da Universidade de Oxford, parte da premissa de que a sustentabilidade tem duas metades:

  1. satisfazer as necessidades das gerações presentes e
  2. possibilitar que as gerações futuras tenham as mesmas (ou melhores) oportunidades que nós, com um meio ambiente igual (ou melhor) do que aquele que nós temos.

Para muitos ambientalistas, este anseio implica um certo regresso ao passado, ao “natural”, quando o impacto do Homem no seu ambiente era mínimo e a terra e o mar eram puros e intocados. No entanto, Ritchie mostra-nos como a sustentabilidade nunca foi alcançada no passado: as necessidades da população humana nunca foram amplamente satisfeitas. Actualmente, estamos mais perto do que nunca de atingir essa primeira metade. É agora altura de nos concentrarmos na segunda metade.

É certo que existem ameaças muito graves que não podemos ignorar. As alterações climáticas são reais e sofremos com elas na nossa própria vida. Mas os dados mostram que, nos últimos anos, foram dados passos importantes para resolver estes problemas. Hoje é possível dizer que há uma boa hipótese de, se tomarmos as medidas certas, conseguirmos essa segunda metade. É neste sentido que Ritchie é optimista:

“Podemos ser a primeira geração a construir um planeta sustentável.

esperanza

A sorte de termos nascido no nosso tempo

A sorte de termos nascido no nosso tempo

A minha terceira referência preferida é ” L’aubaine d’être né en ce temps (Éditions de l’Emmanuel) de Fabrice Hadjadj. Neste pequeno livro, o autor, um jovem de 27 anos convertido ao catolicismo, introduz um novo elemento na equação: a fé. Para Hadjadj, a fé em Deus implica a fé na sorte inesperada de termos nascido nestes tempos conturbados e exige uma esperança acima da nostalgia do passado e da utopia do futuro. Se estamos aqui, é porque o Criador quer que estejamos aqui. A nossa missão específica é derramar a presença de Deus em todas as coisas, libertar o eterno que se esconde no temporal. Assumir essa missão implica assumir uma série de tarefas concretas. Citarei apenas três. A primeira parece muito simples: recordar ao mundo uma série de primeiras evidências (que a mulher é mulher e o homem é homem, que o casamento é entre um homem e uma mulher, que os filhos nascem de um pai e de uma mãe).

A segunda, intimamente ligada à primeira, é redescobrir a carne, desenvolver uma verdadeira “teologia do sexo” e, sobretudo, uma teologia da mulher e da maternidade. E a terceira é dar testemunho. Mas um testemunho que não seja apenas individual. “Deve ser o testemunho de uma comunidade viva, acolhedora, radiante, com um átrio aberto para a rua para atrair o transeunte ao banquete pascal, mas sabendo também retirar-se da multidão para lhe oferecer o recolhimento da adoração”. Será que somos testemunhas disso? Para Hadjadj, a dimensão desta comunidade não é uma questão de indiferença. É necessário que nestas fraternidades nos possamos conhecer intimamente, pessoa a pessoa, como os discípulos de Jesus.

Espero que esta visão não seja demasiado ingénua para vós. Creio realmente que é importante acalmar alguns dos medos irracionais que existem entre nós e reorientar as nossas energias para actividades construtivas. O medo paralisa e nós não podemos ficar parados.

Ainda há muito a fazer! E, ao mesmo tempo, é necessário oferecer uma esperança que não se baseie em estatísticas ou em perspectivas científicas e tecnológicas. Ela deve estar enraizada na fé no Futuro eterno. Afinal, a razão última da nossa esperança é Jesus.

 A fin de cuentas, la última razón de nuestra esperanza es Jesús.

É tempo de Páscoa. Afinal, a razão última da nossa esperança é Jesus

Original: castelhano (5/3/2024). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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