Joseph Challenge

Posted On 2021-01-12 In Ano de S. José

Pai na sombra

HOMENS SÃO JOSÉ 2021 | Klaus Wittmann, Alemanha•

The Joseph Challenge 2021 by schoenstatt.org, only for men  (O Desafio José 2021 de schoenstatt.org, apenas para homens): Homens de diferentes opções vocacionais na Aliança de Amor, de diferentes países e gerações, deixam-se desafiar pela carta sobre José do Papa Francisco Patris Corde, “esta figura extraordinária, tão próxima da nossa condição humana” e partilham o que mais os influencia e motiva na figura de São José e na carta do Santo Padre sobre ele. Hoje é Klaus Wittmann da Alemanha, membro activo da Academia Internacional Kentenich para Executivos de Empresas (IKAF); descobriu para si próprio o ponto 7: pai na sombra. —

Ninguém nasce pai, mas torna-se pai. E não se torna, apenas, para trazer um filho ao mundo, mas para cuidar dele de forma responsável. Cada vez que alguém assume a responsabilidade pela vida de outro, num certo sentido, exerce a paternidade em relação a ele.

Penso em como me tornei pai – foi um desafio! Eu não queria fazer nada errado e, mesmo assim, algumas coisas correram-me mal. Lembro-me de uma situação em que me senti completamente exigido: o menino gritava mesmo que, eu já tivesse tentado todo o tipo de coisas para o acalmar. Estava sozinho e não sabia como me ajudar a mim próprio, por isso abanei-o. Algo que não me perdoei até hoje.

Tenho sentido a responsabilidade pelas crianças desde o primeiro dia e não me arrependo de nenhum dia em que pude tomar conta delas.

Ser pai significa introduzir a criança na experiência da vida, na realidade. Não para a guardar, não para a aprisionar, não para a possuir, mas para a tornar capaz de escolher, de ser livre, de sair. Talvez por este motivo, a tradição também tenha dado a José a invocação de “casto”, juntamente com a de pai. Isto não é apenas uma indicação afectiva, mas a síntese de uma atitude que exprime o oposto de possuir.

A castidade é estar livre do afã de possuir em todas as áreas da vida. Só quando um amor é casto é que é amor verdadeiro. O amor que quer possuir, no final, torna-se sempre perigoso, aprisiona, sufoca, fazendo-nos infelizes. O próprio Deus amou o Homem com um amor casto, deixando-o livre até para cometer erros e voltar-se contra Ele.

Liberdade, esse é o meu tema e, por isso, este ponto diz-me muito. O meu próprio desejo de liberdade já era muito forte quando era jovem. Como pai, quero dar o exemplo deste valor e transmiti-lo aos meus filhos. Isso é mais fácil de dizer do que de fazer. Os nossos filhos são agora jovens adultos que estão a fazer muito para não se adaptarem e serem diferentes: pelo penteado, pela roupa, pela falta de objectivos, pela letargia, etc.

Muitas vezes, volto a cair na comparação dos meus valores com a vida (estado actual) dos meus filhos. Realmente, deveria dizer que não é o estado actual, mas o que percebo e o que acredito ser a visão global da realidade como um todo. Que presunção e que falácia! Acontece-me, vezes sem conta, criticar os meus filhos abertamente ou nas entrelinhas pelo seu modo de vida ou pela sua aparência, em comparação com o que considero ser o padrão. Às vezes, são coisas pequenas, mas porque não faço um esforço e digo apenas coisas simpáticas e edificantes?

O verdadeiro amor de José é então, como disse o padre José Kentenich, a educação abnegada de caracteres fortes, livres (e sacerdotais).

Uma paternidade que resiste à tentação de viver a vida dos filhos, abre sempre novos espaços. Cada criança traz dentro de si um mistério, algo sem precedentes, que só pode ser concretizado com a ajuda de um pai que, respeita a sua liberdade; de um pai que está consciente de que a sua acção educativa só atinge o seu objectivo e, que só vive plenamente a sua paternidade quando, se tornou “inútil”, quando vê o filho tornar-se independente e caminhar sozinho pelos caminhos da vida, quando se coloca na situação de José, que sempre soube que o filho não era seu, mas que tinha sido simplesmente confiado aos seus cuidados.

Como é belo ver a autonomia dos filhos, e como me orgulho de ser pai quando eles próprios “conquistaram” algo. O meu encorajamento serviu de alguma coisa.

Actualmente, o nosso filho fala em ir, durante alguns anos, para os Estados Unidos. No início, como pais, ficámos surpreendidos com a novidade e também assustados.

Mas percebemos o seu desejo e o seu entusiasmo em descobrir coisas novas por si próprio. Nós apoiamo-lo. Ele já não estará ao meu cuidado e, em grande parte, eu já não poderei ser-lhe útil. Eu serei pai na sombra.

Afinal, é isso que Jesus sugere quando diz: “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.(Mt 23,9). Sempre que nos encontramos na condição de exercer a paternidade, devemos lembrar-nos que nunca é um exercício de posse, mas um “sinal” que evoca uma paternidade superior. Num certo sentido, todos nos encontramos na condição de José: sombra do único Pai do Céu, “porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.” (Mt 5,45); e sombra que segue o Filho.

Estou a pensar no romance “A Cabana” de William Paul Young. A personagem principal Mackenzie tinha uma relação cortada com o seu pai terreno. Como foi difícil para ele, nessa história, relacionar-se com Deus Pai.

Aqui também vejo uma responsabilidade muito especial para os pais. Que imagem de pai é que eu reflicto para os meus filhos para que, possam aceitar o amor, a bondade e a misericórdia de Deus, porque verdadeiramente fizeram a experiência de um pai amoroso?

A alegria e os momentos felizes com os meus filhos adultos vêm quando sou capaz de reflectir algo desta paternidade divina, quando eu, como pai, fui capaz de ser a sombra do Pai do Céu.

 

Original: Alemão (8/1/2021). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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