Por Dr. Eduardo Jurado Bejar, Equador •
Vemos hoje o que está a acontecer na Venezuela, Haiti, Afeganistão, na região subsaariana de África e pergunto-me se, nos sentimos comovidos por isso. —
Que alguma coisa nos comova significa que nos perturba, nos desestabiliza, nos altera, que nos move efectivamente em relação a alguém ou alguma coisa; significa que agita os nossos sentimentos.
Erich Fromm assinalava que o amor e a solidariedade, se são genuínos, são também universais. Ele disse que se, se ama um ser humano, também se ama a Humanidade.
A solidariedade faz parte da nossa bagagem genética como garantia de sobrevivência da nossa espécie. E, a partir da nossa realidade cristã, é assumida como uma categoria moral e como uma virtude. Não é, portanto, uma sensação superficial para os males das pessoas, próximas ou distantes. Pelo contrário, é a firme e perseverante determinação de trabalhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, para que todos sejamos verdadeiramente responsáveis uns pelos outros.
Pode-se ser insensível ao sofrimento de muitos e, ao mesmo tempo, muito sensível à dor de poucos em qualquer momento. Há provas empíricas da existência de uma certa distância emocional associada a um comportamento claramente insensível ao infortúnio dos outros.
“Quantas vezes nós dizemos: não é um meu problema! Quantas vezes olhamos para o outro lado e fingimos que não vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, pára, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35).” (SS Francisco, Discurso no Hospital São Francisco de Assis de Providência, 24 de Julho de 2013).
Ser insensível ao sofrimento dos outros “distantes” é um oculto mecanismo de defesa nosso que se manifesta de diferentes formas: permanecer indiferente ao estado de necessidade ou pedido de ajuda de alguém; ou distanciar-se do apelo à acção para fazer algo.
“Além disso, como estamos todos muito concentrados nas nossas necessidades, ver alguém que está mal incomoda-nos, perturba-nos, porque não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios. São sintomas duma sociedade enferma, pois procura construir-se de costas para o sofrimento.” (SS Francisco, Fratelli Tutti, 65).
Eu sigo Francisco e pergunto-me: o sofrimento humano comove-nos?
Original: espanhol (16/8/2021). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal