Posted On 2019-04-19 In Casa Mãe de Tuparendá, José Kentenich

Pedagogia Kentenichiana na periferia (3)

Pedagogia Kentenichiana na periferia, Pe. Pedro Kühlcke •

Liberdade na prisão, é possível? Sim, disse um Padre Kentenich. E, demonstrava-o. Sim, diz o Pe. Pedro Kühlcke e demonstra-o: na prisão de menores (reformatório) de Itauguá, a poucos quilómetros do Santuário de Tupãrenda. Talvez, a pergunta mais ousada lha tenhamos feito nós, schoenstatt.org, há uns meses: Pedagogia Kentenichiana na periferia, é possível? Sim, responde e demonstra-o na prisão de menores, nesta terceira parte da sua reflexão em relação à pedagogia de ideais. Se é possível nesta periferia, deve ser possível noutras, também. E, inclusivamente dentro de Schoenstatt.

 

Pedagogia de ideais

Creio que esta parte vos é um pouco mais familiar. Pedagogia de ideais, o que quer isto dizer? Para o Pai o mais importante é o Ideal Pessoal. Querem saber uma das várias definições do Ideal Pessoal que o Pai nos dá? Estejam atentos, anotem bem, porque é muito complicada:

“Agora tenho que acrescentar, no sentido aristotélico e, também, no nosso próprio sentido: trata-se da ideia original que Deus teve da minha pessoa e da minha tarefa e, cujas bases Ele depositou nas minhas inclinações, nos meus dotes naturais e sobrenaturais. Neste contexto, quero lembrar apenas, brevemente que, juntamente com o referido, também é importante o meio, o ambiente. Por exemplo, o modo e o lugar em que cresci, os meus superiores e outros factores semelhantes”. [1]

Tudo claro? O que é o Ideal Pessoal?  È a ideia original que Deus teve da minha pessoa e da minha tarefa. Tradução: Quando Deus me criou, teve um sonho lindo – para cada um de nós, Deus tem um sonho lindo e, para cada um, um sonho diferente! Não somos bonecos repetidos, não somos soldadinhos marchando todos em fila. Cada um é original, único; nenhum de nós existe por acidente, ninguém foi “chutado” no mundo. Deus tem um sonho maravilhoso para cada um – lamentavelmente, muitas pessoas não têm ideia de qual é esse sonho. E, passam a vida a embebedar-se, para não dizer outras coisas piores.

A nossa tarefa é descobrir esse sonho: Para quê me pôs Deus neste mundo? Quando começo a descobrir esse sonho, imediatamente, vou ter força e vou poder dizer: “Eu quero realizar este sonho!” Então, já não importa o que dirão, não importam as tentações, porque eu tenho um sonho, eu quero realizar esse sonho.

Isto é Pedagogia de Ideais. Viram que não é tão complicado? Claro que, o Pai lhe acrescenta muito mais: fala da ideia original que Deus teve da minha pessoa, da minha tarefa… Qual é a minha missão? E como a descubro? As bases desse sonho, diz o Padre Kentenich, Deus depositou-as nas minhas inclinações, nos meus dotes, nos meus talentos. Viram como na Juventude Masculina fazemos o teste dos temperamentos e um montão de coisas para encontrarmos o Ideal Pessoal? Se Deus tem um sonho para mim, então, Ele dá-me as ferramentas para o descobrir e realizar. O Pai continua dizendo, que o ambiente também é importante. Deus também me fala através do meu meio ambiente. Porquê, precisamente, a mim me calhou esta família? Porquê, precisamente, a mim me calhou nascer na Alemanha no ano de 1963? E, porquê a mim me calhou isto ou aquilo? Com tudo isto, Deus fala-me e dá-me a possibilidade de descobrir o Seu sonho para mim e, dá-me as ferramentas para o começar a realizar: pedagogia de ideais!

Podemos falar de Ideais na prisão? Eu, pessoalmente, diria que é o mais importante,é o mais central daquilo que temos que falar. Na prisão encontro muitos jovens que me dizem: “Padre a minha vida não tem sentido, na realidade nem sei porque é que existo”. Um contou-me por exemplo: “A minha mãe abandonou-me quando eu tinha 3 anos e foi viver com outro homem, o meu pai nem sequer o conheço. Fiquei com a minha avó mas, morreu quando eu tinha 8 anos e, fiquei sozinho no mundo. Ninguém sabe que eu existo, ninguém tem interesse em mim, a minha vida não tem sentido”. Face a estes abismos de solidão e sem sentido, é impactante poder dizer: “Não tu não estás no mundo por acaso, a tua vida tem sentido, sim. Deus quis que existisses! Quando muito a tua mãe não te queria, quando muito o teu pai nunca se ocupou de ti mas, Deus fez quase o impossível para que existas, porque te ama muito”.

Às vezes conto-lhes a infância do Padre Kentenich. Vocês sabiam que o Pai do Padre Kentenich nunca o reconheceu, sempre o rejeitou? A mãe era empregada doméstica e, não o podia ter com ela. Cresceu com os avós, foi um abuela memby[2] mas, com o tempo, os avós envelheceram e já não podiam tomar conta dele. A mãe tinha um emprego como criada interna e não podia ter o filho com ela. Quando José Kentenich tinha oito anos, a mãe, com toda a dor do seu coração, teve que o entregar a um orfanato. Espantoso! Várias vezes fugiu desse orfanato, por causa do seu anseio pela liberdade e, pelo mal que lá se vivia – e a polícia levava-o de volta para o orfanato. O Pai não teve uma vida fácil! Mas, ele descobriu que Deus o amava e deu-lhe uma mãe no Céu.

Quando falo aos jovens na prisão, digo-lhes sempre: “Maria é a mãe que nunca te abandona, tal como, ao Seu Filho, Jesus. E Deus pôs-te neste mundo porque te ama e tem um lindo sonho para ti”. Ao ouvirem isto, olham-me como a dizer. “Mas, o que é que me está a dizer este Padre?”

Então, ponho-me a sonhar, um pouco, com eles e digo-lhes, por exemplo: “Algum dia te vês a ter uma boa profissão, um bom trabalho e com o suor do teu rosto comprares um pequeno terreno e construires a tua própria casinha? E, algum dia, teres ao teu lado uma boa esposa e teres filhos maravilhosos?” Com isto, o rosto dos rapazes vai-se iluminando. “E, imaginas que algum dia os teus filhos te digam: Obrigado, meu Deus, por este bom pai que me deste!? “Sim, Padre, isso agradar-me-ia muito!” E, que os teus filhos nunca sofram o que tu sofreste? “Sim, por isso quero lutar, Padre!” Este jovem já tem um sonho, já quase tem um Ideal Pessoal como diríamos em Schoenstatt: A minha vida tem sentido, sim, há alguma coisa pela qual vale a pena lutar! “Não quero que os meus filhos sofram o que eu sofri, quero ser para eles o pai que eu nunca tive.

Quase podriamos dizer que este, também, é o Ideal Pessoal do Padre Kentenich: Foi pai para muitos, ele que não teve pai. Os jovens na prisão sentem-se motivados com isso. O Pe. Guillermo Carmona que, há muito tempo, foi meu Mestre de Noviços e, também foi durante muito tempo Director do Movimento na Argentina, uma vez visitou-nos na Casa Mãe de Tupãrenda. Muito mais tarde, contou que uma das coisas que o impressionou foi quando a Directora da Casa lhe disse: “Quando um jovem descobre o sentido da sua vida, deixa a droga e a má vida.” É uma realidade! A pedagogia dos ideais muda-nos a vida!

Quando este jovem descobre o seu sonho: “Eu quero ser um bom pai, quero ser o pai que eu nunca tive!” então, falo-lhe de um modo muito directo. Digo-lhe: “Bom e, nesse lindo sonho para a tua vida, há droga, roubo, violência?” “Não, padre!” “Como mãe dos teus filhos queres ter uma boa mulher ou uma miúda da rua, bandida, drogada?” “Uma boa mulher, está claro!” “E, uma boa mulher vai querer estar com um ladrão, com um drogado, com um presidiário? Ou com um homem bom?” “Com um homem bom, padre!” “Bom, então qual é a tua tarefa?” “Tenho que chegar a ser um bom homem, tenho que deixar a droga e a malandragem, porque mais tarde quero ser um bom pai!”

Isto muda a vida! E, como disse a Directora da Casa Mãe : estes jovens deixam a droga. Pelo menos alguns… Claro que, há muitos que voltam a cair, abandonam e regressam à mesma vida desastrosa de antes. Mas, alguns conseguem-no! Não sei se vocês conhecem amigos, companheiros, parentes que andam nesta vida…Uma vez que se cai na droga, é muito difícil deixá-la – mas, a pedagogia de Schoenstatt é uma grande ajuda! “Tenho um Ideal, vale a pena lutar por esse ideal, ainda que a “fissura”[1] quase me mate e queira voltar a consumir. Não vou cair, porque quero ser um bom pai!”

Isto é pedagogia de ideais e, aqui em Tupãrenda temos a experiência! Na Casa Mãe há jovens que eram muito drogados, tinham caído muito baixo mas, conseguiram sair disso e, hoje em dia, são profissionais de sucesso. Dão-se conta como tudo isto tem a ver com o que estamos a ler? Este[2] não é um livro cheio de teorias mas, é o que estamos a tratar de fazer em Schoenstatt.

Foto: Equipa da Pastoral prisional

Palestra para a Juventude Masculina de Tupãrenda, 3ª parte
16 de Setembro de 2018
Pe. Pedro Kühlcke, parte 3

 

Transcrição: José Argüello, Tita Antras. Correção e redação final: Pe. Pedro Kühlcke

Original: espanhol (11/4/2019). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

[1]    Herbert King (ed.), José Kentenich: Una presentación de su pensamiento en textos. Tomo 5: Textos pedagógicos. Ed. Nueva Patris, Santiago de Chile, 2008. Citado como “King”. Pág.  344.
[2] ”Filho de avó” ─ criado pela avó, muitas vezes com pouco ou nenhum contacto com os pais.
[3] Síndrome de abstinência
[4] O livro dos “Textos pedagógicos”.

Pedagogía kentenijiana en la periferia (2)

Liberdade na prisão?

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