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Posted On 2023-07-13 In Artigos de Opinião, José Kentenich

Que estudo está ser feito da “Apologia pro vita mea”?

Por Rafael Mascayano • 

No número de Maio da revista Vinculo (pp. 26 e segs.), foi publicada uma entrevista com a Ir. M. Virginia Perera, que centrou a sua investigação no texto “Apologia pro Vita Mea” do Pe. Kentenich. Ela faz parte de uma comissão mais ampla que trabalha na causa do Pe. Kentenich. Em relação ao que ela disse, tenho algumas reflexões que penso ser oportuno mostrar.

Entrevista

Entrevista publicada em Vínculo, Maio de 2023

A Irmã Perera começa por dar o currículo da equipa, deixando clara a relevância académica dos seus membros, incluindo ela própria, Drª em Ciências da Vida.

Quando questionada sobre o objetivo do trabalho da comissão e o seu próprio, afirma que “é um trabalho científico”; “O nosso objetivo é procurar a verdade, deixar que o texto fale por si”; “Qualquer intervenção da nossa parte tem o objetivo de facilitar a compreensão deste escrito do Padre José Kentenich”.

E em relação à metodologia a ser utilizada, afirma: “No estudo interdisciplinar incluímos a crítica textual e a crítica contextual histórica”. É bom considerar que esta metodologia se refere a detectar se o escrito corresponde ou não ao autor e ao contexto em que foi escrito. Ou seja, uma metodologia que não diz respeito à sua compreensão interna, à sua estrutura de pensamento e análise argumentativa. No entanto, se nos ativermos à sua afirmação de “trabalho científico”, “o objetivo de procurar a verdade”, seria possível considerar que se realizaria um trabalho onde a objetividade é primordial.

Análise ou julgamento?

Infelizmente, já no parágrafo seguinte, são introduzidos juízos como “quem deixou espalhar os boatos”, afastando-se de uma análise para tomar o partido de afirmações que não foram verificadas empiricamente, nem por outros textos relacionados com o que o autor da Apologia escreve.

E, nos parágrafos seguintes, cai muitas vezes no preconceito de olhar o texto a partir de abordagens pré-concebidas e em defesa do autor do texto. Ou seja, deixa de lado toda a objetividade de análise, o que dificulta uma visão mais científica ou racional do mesmo. Assume como verdade o que o Pe. Kentenich diz e não diz para o defender em todo o documento. Não faz uma análise de processo, de estrutura, de gestão de relações, etc.

Não percebo um desenvolvimento de trabalhos na linha hermenêutica e fenomenológica, ou de pesquisa qualitativa como a estratégia da Análise de Discurso Crítica ou Estrutural e outras, que poderiam contribuir para a objetividade do conteúdo, que poderiam ajudar na interpretação e compreensão do que realmente diz o texto em questão, buscando assim uma maior objectividade e compreensão crítica do mesmo, bem como uma melhor compreensão dos argumentos e fundamentos feitos pelo autor. Talvez devido ao estilo da entrevista, isso não tenha sido suficientemente esclarecido, aspecto de vital importância para a confiança no processo que está a ser seguido.

Esperamos uma análise objectiva, por favor. A narrativa já conhecemos

O acima exposto é muito relevante, tendo em conta as expressões da Dra. Perera na entrevista da Revista Vínculo, uma vez que é possível notar uma forte presença da prespectiva do “pré-julgamento” ou de olhar para o texto a partir da sua subjetividade. Esta perspectiva é expressa repetidamente nas suas respostas às perguntas que lhe são feitas, levando ao extremo de apresentar o Pe. Kentenich num carácter quase sobrenatural, que só pode ser visto como transparente de Deus, deixando de lado o seu carácter humano, situação que não está presente no texto, mas da qual ela toma partido. Por outras palavras, ela não lê o texto objetivamente, mas incorpora opiniões na análise para validar alguns dos comportamentos nele descritos. Isto é, esta abordagem, vai mais longe do que foi escrito pelo Pe. Kentenich, pelo que não é possível considerá-la como uma análise objetiva do texto da “Apologia pró vita mea” .

Através do que manifesta a Dra. Perera, preocupa-me sinceramente um trabalho académico que se diz orientado para a busca da verdade e da objectividade e, ao mesmo tempo, não mantém uma linha metodológica adequada que ajude nesse sentido. A integridade da investigação científica internacional apela a boas práticas de investigação, exigindo “objectividade, imparcialidade e confiança no exercício da actividade de investigação”[1].

De nada serve uma defesa com perspectivas sentimentais do Pe. Kentenich

Tendo em conta esta entrevista com a Dra. Perera, considero que é necessário insistir mais na clarificação da metodologia utilizada e no âmbito do estudo objectivo do referido escrito, procurando assim um estudo científico, metodologicamente adequado aos objectivos esperados, e não numa defesa com perspectivas sentimentais em relação ao Pe. Kentenich. Compreendo que a especialidade do Drª. Perera possa não implicar necessariamente o manuseamento de metodologias qualitativas, incluindo a análise de discursos e metodologias ad hoc para o efeito, pelo que considero oportuno convidar especialistas nestas disciplinas qualitativas hermenêuticas, que podem realmente ajudar a estudos mais alinhados com a obtenção da verdade esperada, uma vez que desta forma será possível obter uma maior confiança no estudo realizado, algo que todos esperamos.

 

Escrito pelo autor como comentário à entrevista da Vínculo, onde não foi publicado.

Entrevista (Vínculo, pp 26 ss., mayo de 2023)

Apologia pro vita mea (ES)

 

[1] Código de Boas Práticas Científicas do CSIC, CONSEJO SUPERIOR DE INVESTIGACIONES CIENTÍFICAS, Madrid, 2021.

Original: castelhano (21/6/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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