Gonzalo Urcelay, Chile •
Alguns comentários em relação à coluna “Uma reflexão sobre os antecedentes relativos à integridade moral e ao conceito de autoridade espiritual do fundador de Schoenstatt“. —
A publicação de Alexandra von Teuffenbach recentemente disponível em espanhol sobre abusos graves cometidos pelo fundador de Schoenstatt, José Kentenich, em relação a algumas Irmãs de Maria, questiona a integridade moral e a autoridade espiritual do fundador. Por esta razão, o bispo de Tréveris teria convocado um grupo de especialistas externos ao processo de canonização para analisar estas acusações.
Para nós schoenstattianos, oferece-nos uma oportunidade única de compreender um capítulo, que para a grande maioria não parece claro na história de Schoenstatt: o das relações entre o padre Kentenich e as Irmãs de Maria, assim como o período entre os anos de 1948 e 1953, incluindo as sucessivas visitas apostólicas, as causas do exílio, o longo período em Milwaukee e o subsequente regresso a Schoenstatt. É também uma oportunidade para esclarecer, deixando de lado interpretações épicas, aquilo que conhecemos como o terceiro marco na história de Schoenstatt. É tempo de historiadores rigorosos que, com método científico, examinam as milhares de cartas, documentos, e testemunhos relativos a este período.
A intenção da publicação dos documentos
As contribuições da publicação de Alexandra von Teuffenbach são cartas suspeitas e incriminatórias, documentos escolhidos pela autora para demonstrar que o padre Kentenich não seria idôneo para um processo de canonização. O clima atual de desconfiança e de conclusão imediata gerado nas redes sociais, nem o longo e negro período da nossa Igreja, profuso em abusos e encobrimentos por parte das autoridades, tampouco contribuem a favor do padre Kentenich. O ocultismo e a falta de transparência por parte dos membros da nossa Igreja criam uma atmosfera adversa de suspeita; é neste ambiente que a acusação contra a pessoa do padre Kentenich acontece.
A conclusão de Pedro Pablo Rosso a partir da leitura dos documentos
No seu artigo publicado a 26/03/2021, Pedro Pablo Rosso analisa o livro de Alexandra von Teuffenbach “O pai pode fazê-lo” (“El padre puede hacerlo”), no qual a autora resume os testemunhos de algumas irmãs contra o fundador. Peter interroga-se se os abusos descritos constituiriam, pelo menos, falhas notáveis da caridade. Questiona ainda o princípio de autoridade do padre Kentenich, dada a sua liderança descrita como prepotente, controladora e de poder absoluto. Finalmente, pergunta-se se as suas ações revelariam um eventual trauma psicológico, associado a uma personalidade arrogante com conotações narcisistas e mesmo misoginia. Finalmente, apela a Schoenstatt para assumir os fatos lamentáveis e admitir que as causas do exílio teriam sido os erros, excessos e fraquezas do padre Kentenich. Chama-nos a desmistificar a sua figura e a empreender uma etapa de reflexão crítica e de renovação da Família de Schoenstatt.
Que se faça justiça com verdade e caridade
Embora compartilhe com Pedro a necessidade de a Família de Schoenstatt olhar o futuro de uma maneira renovada para assumir seu papel de evangelização, esta renovação tem que partir da verdade. Precisamos ouvir e analisar todas as versões e até agora só ouvimos uma. Antes de tirar conclusões precipitadas, devemos nos perguntar se as publicações selecionadas de algumas cartas constituem o método adequado e prova suficiente para incriminar o fundador. Como um promotor que escolhe suas melhores provas e deixa de fora outras (como os múltiplos testemunhos de muitas Irmãs de Maria que testemunham a favor sobre os métodos e a pessoa do padre Kentenich), e provavelmente sem conhecer a história de Schoenstatt, e em particular a relação do fundador com as Irmãs de Maria, é retratado um fundador manipulador, autoritário e abusivo. Quão longe está da imagem recebida por tantos testemunhos de pessoas e comunidades, além de múltiplas palestras e textos próprios, e de tantas pessoas consagradas e não consagradas, o que mais se destaca do fundador é sua exemplar coerência de vida e a de ser um reflexo da imagem do Bom Pastor. O padre Kentenich contribuiu para mudar a vida de muitos não somente através de sua Obra, mas também através de seu exemplo de vida e identificação com a pessoa de Jesus Cristo.
Precisamos que a justiça seja feita com verdade e caridade, para não colocar em risco a integridade e a dignidade de muitas pessoas, inclusive a do padre Kentenich. Caminhar na verdade é a única maneira de que Schoenstatt, como obra de Deus, possa assumir seu papel de evangelização, como parte de uma Igreja mais profética e esperançosa, não apesar de nosso fundador, mas com toda sua pessoa.
Gonzalo Urcelay é médico, cardiologista pediátrico e pertence à União de Famílias de Schoenstatt no Chile
Original: Espanhol (06/04/2021). Tradução: Luciana Rosas, Curitiba, Brasil
Conheces aquela terra, preparada para o combate,
acostumada à vitória em todas as batalhas:
onde Deus se desposa com os fracos
e os escolhe como instrumentos;
onde todos confiam heroicamente n’Ele,
não se fiando nas próprias forças;
e estão dispostos a entregar por amor,
com júbilo, o sangue e a vida?
Eu conheço essa terra maravilhosa;
é o prado do sol, nos esplendores do Tabor,
onde Nossa Senhora Três Vezes Admirável
reina no meio dos seus filhos predilectos
e retribui fielmente todos os dons de amor
manifestando a sua glória
e uma fecundidade ilimitada:
É a minha pátria, a minha terra de Schoenstatt.
Deixemos o Bispo e Juiz do Tribunal Eclesiástico de Tréveris fazer o seu trabalho! Não nos compete a nós, o povo, condenar e julgar.