Posted On 2018-09-22 In José Kentenich

A Igreja sem poder, mas cheia de vida

15 de Setembro de 2018, Tupãrenda, Encerramento do Ano do Padre Kentenich, Mons. Francisco Javier Pistilli, Bispo de Encarnación •

1          Quem dizem que eu sou? Identidade, poder e seguimento.

A pergunta de Jesus aos Seus discípulos ocorre no contexto do que muitos comentam depois de terem visto o poder do Senhor. Este novo Mestre tornou-se conhecido pelos Seus muitos prodígios. Quem dizem que eu sou? Não se trata só de definir a Sua natureza mas, de compreender a Sua força, o Seu poder, o Seu mistério.

Muitos seguem o Senhor porque, querem estar ao lado do poderoso. Reconhecendo-O como Messias, reconhecem que o Seu poder é superior, é divino. Mas, a aliança com o poderoso entra num conflito, quando o próprio Jesus fala da Sua Paixão e da Sua morte. O próprio Pedro que, tinha confessado a sua fé, não por conhecimento humano mas, divino, não compreende e é repreendido pelo Mestre, acusando-o de agir com o poder contrário, por um pensamento humano a respeito de Deus e da Sua força. A Aliança com o Senhor, daqueles que caminham com Ele, deve dar-se pela negação de si próprio, na oferenda de si mesmo para que, se manifeste a victória da vida de Cristo.

Este é um assunto muito actual na Igreja e no mundo. O poder continua a ser o foco da atenção de muitas perguntas. A força sedutora do poder humano e a distorção da compreensão do poder divino, continuam a gerar zonas de obscuridade na vida humana e na vida da Igreja.

2          O poder da Aliança de Amor. A escola do Pai-Fundador.

A nossa Família de Schoenstatt encerra hoje um ano dedicado ao nosso Pai-Fundador. Cumprem-se 50 anos da sua partida. A sua Aliança, a Aliança de Amor com Nossa Senhora é a fonte de vida e a chave do carisma que nos identifica.

Do ponto de vista humano, muitos veêm os sinais exteriores de uma Família com sucesso. Pensam em fortes recursos, talvez em influentes benfeitores. Quem sabe, também muitos dos nossos terão sentido a tentação do poder, ao pensarem que somos melhor que os outros. Mas, no carisma do Padre Kentenich, ser melhor significa ser aliados do verdadeiro poder e não, escravos dele, significa privar-se do poder terreno para que se manifeste o poder do Amor Divino, aspirando à Carta-branca e à Inscriptio, entendidos e vividos plenamente como oferta de si mesmo.

A escola onde aprendemos a viver esta maneira de ser cristãos, é a Aliança de Amor com a Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, a Mater. È a escola da vida do Fundador. Quem dizemos nós que é o Padre José Kentenich? Por vezes, gostaríamos de o apresentar com critérios humanos que agradem ao público, mostrando a sua grandeza nos seus múltiplos escritos e na extensa difusão do seu carisma. O verdadeiramente grande do Pai está em ter vivido a Aliança correcta, como caminho para pertencer, plenamente, a Cristo. Nessa Aliança, foi-se despojando de si mesmo, para deixar que se manifestasse o Deus Providente e rico em misericórdia, o Senhor da História e o Mestre de Vida. A sua biografia é para nós, testemunho dessa escola, onde se vê desde a sua infância até ao seu regresso a Schoenstatt, como, tantas vezes, foi despojado do poder para que, só, confiasse no seu desvalimento filial nas mãos correctas. Gymnich, Oberhausen, Dachau, Milwaukee, neles está revelada a resposta à pergunta. Quem dizem que é o Padre Kentenich?

Pio X gravou para toda a Igreja, na Encíclica “Ad Diem Illum Laetissimum” de 2 de Fevereiro de 1902, essa verdade que o nosso Fundador nos ensina a encarnar com a sua própria vida e com as suas palavras. “Segue-se, como consequência, que jamais alguém será mais poderoso que a Virgem para unir os Homens a Cristo, como já o temos insinuado. Se, com efeito, segundo a doutrina do Mestre divino, “a vida eterna consiste em que eles te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que tu enviaste” (Jo 17, 3); como por Maria chegamos ao conhecimento de Jesus Cristo, por ela também nos é mais fácil adquirir a vida, da qual Ele é o princípio e a fonte.” (VI) O conhecimento vital de Cristo que adquirimos na Aliança de Amor com Maria, leva-nos a estar na proximidade e na intimidade do Senhor. O carisma do Pai e da Família encarna algo do sensus fidei eclesial e do magistério, como dom para este tempo. Em Fevereiro de 1904 a Igreja, como Mãe Providente, punha à disposição do Noviço Kentenich, a verdade sobre a devoção mariana que se tornará carisma na superação da crise que teve início nesse mesmo ano.

Ninguém mais eficaz que Maria…Ninguém tem mais poder que Ela para nos unir a Cristo. Qual é o Seu poder? A Graça que A inunda, pelo Seu Sim que A esvazia, pelas Suas, pequenez e humildade escolhidas por Deus, pelo Seu desvalimento fiel, a Sua indicação simples ao encontro da vontade divina, o Seu coração maternal cheio de amor pelos filhos de Deus, a Sua entrega eficaz e a Sua permanente súplica desde a impotência dos despojados, dos que a Mater educa para que sejam livres, firmes e apostólicos.

 

3          O poder de Schoenstatt: Um carisma para a Igreja.

Vocês, o que dizem que é ser schoenstatteano? Qual é o nosso poder? O carisma do Fundador deve viver em nós, tornar-se biografia concreta. O carisma do Fundador deve dar-nos o verdadeiro poder para sermos Nação de Deus e Coração da América.

O nosso poder, vivido no carisma, é o da Aliança de Amor. É a força dos que se sabem amados na sua pequenez e põem à disposição de Deus a sua fragilidade, para que, unidos a Maria, o Senhor faça grandes coisas, para a glória do Deus Uno e Trino. É a força do vínculo querido por Deus, o poder da filialidade, onde o desvalimento do filho se torna bênção do Pai. O nosso poder é o compromisso de seguir Cristo, com Maria, oferecendo o poder humilde do Capital de Graças, a força do concreto que molda a nossa vida cristã, para que Maria, como ministro das graças de acolhimento, transformação interior e envio apostólico, nos ajude a alcançar a plenitude da graça sobrenatural dos filhos redimidos.

O que somos é o que fazemos. Somos aliados que oferecem a sua vida para construir Schoenstatt, Nação de Deus. Somos filhos da confiança radical na Providência Divina e queremos ser, na Igreja, a força do amor, o coração, um coração cheio de fé e cheio de caridade, cheio de misericórdia e de entrega. Não procuramos os primeiros lugares, para sermos aplaudidos e reconhecidos. Só queremos fazer o que o Senhor nos diz, como nos ensina Maria.

Do nosso Fundador aprendemos a querer uma Igreja Nova, procurando realizá-la na própria Família. É a Igreja sem poder mas, cheia de vida, de riqueza espiritual. É a Igreja da liberdade, a máxima possível, normas só as necessárias mas, o máximo cultivo do espírito. É a Igreja da Aliança com o único poder, o poder do Mandamento Novo, manifestado em pessoas e em obras, em comunidades e serviços, numa cultura e numa espiritualidade sempre aberta, ao encontro, ao diálogo, à fraternidade, à misericórdia, à oração. Uma família que se reconhece e se sente Igreja viva, na Igreja, com a Igreja e pela Igreja. Não somos mais, somos esta Igreja que apoiamos, com as suas luzes e as suas sombras, com as provas e tentações deste tempo. Não somos a outra Igreja, porque Ela é uma só. Somos a Igreja que se deixa moldar sempre pelo Seu Mestre, despojando-se para ser toda do Senhor.

Amou a Igreja. Assim diz a mensagem eternizada no Túmulo do Pai. Amamos a Igreja, deve permanecer escrito no coração dos aliados que vivem o seu carisma, dando-o a conhecer. Quem é Kentenich, quem somos nós? Os que, com Maria, conhecem e amam Cristo e O seguem docilmente, para construir a Sua Igreja e manifestar o Seu Reino, esse Reino que só cresce e floresce quando o poder do Alto o impulsiona e fecunda.

4          A um maior desvalimento, maior entrega. Escola Kentenichiana.

Os tempos que vivemos sacodem, uma vez mais, a cultura, a sociedade, as instituições. Família, identidade, autoridade, Igreja, comunidade, vêem-se confrontadas com fracassos, críticas que despertam reacções, algumas conservadoras, outras reacionárias. Velhas posições ideológicas regressam à pugna, não já a nível de políticas geograficamente identificáveis mas, em todos os âmbitos, superando fronteiras até nos espaços íntimos.

A tentação do desvalimento pode levar alguns à atitude de Pedro que, uma vez mais, só conseguirá a recriminação do Senhor porque, desvirtua o Seu Evangelho. O desvalimento só se vence, entregando-nos e unindo-nos com Jesus. Como fazê-lo da maneira mais eficaz, mais poderosa? Ninguém tem mais poder que Maria: Aliança de Amor.

Em Aliança, sentarmo-nos ao lado do Fundador que, com os braços abertos quer receber todos os aliados de Maria. Voltemos a dizer com fé. “Aqui estou”. Que se faça em mim e em nós a vontade de Deus. E o sorriso carismático do Pai far-se-á nosso.

+ Francisco Javier Pistilli Scorzara, P. Sch.

Bispo

 

 

 

Video de la homilía

Original: espanhol (17/9/2018). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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