Posted On 2016-02-21 In Artigos de Opinião

Um homem extraordinário – também ao serviço de Schoenstatt

Oskar Bühler – Por ocasião do centenário do nascimento de Mons. Wilhelm Wissing (1916-1996), 31 de Janeiro de 2016 •

“Que garoto, nos enviaram os Bispos?” Perguntou o Chanceler Konrad Adenauer a um dos seus ministros, quando lhe apresentaram o novo chefe da “Oficina Católica” que, corresponde ao representante dos Bispos católicos perante o Governo e o Parlamento em Bonn. O novo chefe era Wilhelm Wissing sacerdote da Diocese de Münster, até então, Vigário do Movimento Juvenil Rural Católico alemão e que, por aquela altura, tinha 42 anos. Um ano mais tarde, o próprio Chanceler disse ao mesmo ministro: “ O Wissing não é impiedoso mas, ele também percebe alguma coisa do mundo”. Quando lhe lembraram a opinião expressada um ano antes, Adenauer teria preferido não o ter dito.

Quem era Wilhelm Wissing?

IMG_20160121_0002 abEm 31 de Janeiro completaram-se 100 anos do nascimento de Mons. Wilhelm Wissing. Quem era Wilhelm Wissing? Porque o recordamos agora? Alguns marcos da sua vida: sucessor de Karl Leisner como chefe da Juventude da Diocese de Münster – pastor de juventudes e “braço direito” de Monsenhor Heinrich Tenhumberg – Vigário da Juventude Rural Católica Alemã e fundador do “Klausenhof” – Director da “Oficina Católica”/Comissário dos Bispos Católicos em Bonn – Director das Obras Missionárias Católicas “Missio” em Aachen, para além, de algumas outras tarefas secundárias, como por exemplo, Director Sacerdotal do Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt – Assistente do Bispo, Dr. Josef Höffner na sua qualidade de “Moderator et Custos” da Obra de Schoenstatt – Administrador Apostólico da Obra de Schoenstatt – primeiro Superior Geral do recém-fundado Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt – Consultor da Congregação para os Religiosos no âmbito dos Institutos Seculares.

“Que o mundo não acaba nas fronteiras da Alemanha”

Para além da casa paterna em Köckelwick/Vreden, Wilhelm Wissing foi marcado pelo movimento juvenil católico dos anos 30. O trabalho eclesial com a juventude implicava, naquela altura, inevitavelmente, entrar em controvérsia e em conflito com o nacional-socialismo. Wilhelm Wissing comprometeu-se, logo muito cedo, com o trabalho com a juventude católica, o “rebanho juvenil”. Um grande exemplo, foi para ele, Karl Leisner, o primeiro dirigente juvenil diocesano do Episcopado de Münster e, mais tarde, mártir em Dachau. “Nos nossos encontros em Vreden fazia-nos experimentar, sobretudo pela mão de algumas passagens das Sagradas Escrituras, o que ele próprio escreveu no seu diário:” Cristo é a minha paixão” … As situações, com frequência, não fáceis, da juventude de Vreden não teriam podido ser lidadas, sem a força de Leisner, sem o seu entusiasmo e a sua disponibilidade para o sofrimento, inclusivamente, ao atrever-se ao máximo contra o Estado. “Detestava o falso sistema e, dizia-o abertamente no grupo de dirigentes”, recordava o entrevistado de 73 anos numa pormenorizada entrevista na sua cidade natal de Vreden. E, continuava: “Na minha época de juventude, raras vezes ouvi ou experimentei maior alegria do que, quando ele nos acompanhava e nos explicava as Escrituras. Karl Leisner também nos fazia comentários, nas suas descrições sobre a grande Alemanha e sobre a Europa. Com entusiasmo, descrevia-nos as suas viagens, por exemplo, pela Flandres ou pela Suíça. Numa época tão restringida pelo nacionalismo, lembrava-nos que, o mundo não acaba nas fronteiras da Alemanha. Movia-se pelos países do velho continente e, para nós, nunca era suficiente o que lhe ouvíamos. Inclusivamente, chegou a gerar-se entre nós, algo assim como um entusiamo pela Europa”. No Outono de 1936, Wilhelm Wissing assumiu o cargo de chefe da juventude diocesana que, até então, tinha tido Karl Leisner. Não tinha à sua frente uma tarefa fácil. Passou no bacharelato, sózinho, porque foi chamado a fazer o exame oral no dia em que o representante da inspeção escolar do Estado se encontrava ausente, ainda que, de acordo com a ordem alfabética lhe correspondesse fazer o dito exame três dias depois.

Acerca do seu serviço militar, Wilhelm Wissing conta que, uma doença lhe salvou a vida. Devido a esta doença foi devolvido da frente, enquanto, a maior parte dos seus companheiros encontraram a morte sob o fogo inimigo. O seu comentário a este respeito foi:” Deus mais não faz do que ajeitar as circunstâncias”

A partir das pessoas reais

A seguir à Ordenação Sacerdotal, em 21 de Dezembro de 1946, Wissing foi Capelão em Coesfeld, durante uns três anos. O trabalho com a juventude que, ali organizou, serviu-lhe como recomendação para algo “mais elevado”. Em Outubro de 1949 foi nomeado Assessor da Juventude Masculina Diocesana no Episcopado de Münster. Já em Coesfeld se tinha dado conta que era preciso desenvolver um modelo claro para o trabalho com a juventude. Agora, tinha a oportunidade de o fazer. Em estreito contacto com Heinrich Tenhumberg – os dois conheciam-se desde a juventude – desenvolveu um modelo, que, em parte, continha acentuações diferentes, às entregues pela central em Düsseldorf, sob a direção de Mons. Ludwig Wolker. Enquanto, estes se queriam restringir, exclusivamente, às estruturas eclesiais (“juventude paroquial”), Tenhumberg e Wissing partiam da base que, os interesses dos jovens entre os 17 e os 18 anos estavam fortemente marcados pela vida profissional. Destas considerações nasceu o Movimento Católico Rural Juvenil (KLIB), em cuja fundação Wissing teve um papel decisivo. Este modelo foi, também, uma resposta para os jovens trabalhadores cristãos (CAJ) e para a obra de Kolping, por aquela altura, ainda, fortemente, orientada para os trabalhadores artesanais.

Também este trabalho de desenvolvimento duma coisa nova a nível diocesano serviu a Wilhelm Wissing como recomendação para algo “mais elevado”. Em 1952 foi chamado a ocupar o cargo de Vigário para o Movimento Católico Juvenil Rural (KLIB, a nível nacional. Tratava-se de aplicar, em toda a Alemanha, o modelo desenvolvido para Münster. Um ponto central deste trabalho que, durou cinco anos, foi a fundação da Academia Klausenhof. (www.akademie-klausenhof.de).

1980_Wilhelm Wissing abA ideia duma solidariedade internacional

Em 1958, ainda antes do termo do seu trabalho como Vigário, Wilhelm Wissing foi escolhido pela Conferência Episcopal de Fulda – assim se chamava então a Conferência Episcopal Alemã – para uma nova tarefa: devia converter-se em Director da “Oficina Católica”, com sede em Bonn, o que, implicava passar dum trabalho pastoral para um trabalho mais político. E, isto para alguém que dizia de si próprio que, até então nunca se tinha interessado por um compromisso político. Mas, as considerações que colocou aos Bispos, ao começar o seu novo trabalho, relativas à concepção do serviço que devia prestar, demonstram, sem lugar para dúvidas, as capacidades que o recomendavam para dita tarefa.

O trabalho neste novo cargo era extremamente diversificado. Poremos, apenas, em destaque, um ponto central. Era a época em que os Bispos alemães tomaram consciência da sua responsabilidade pela Igreja universal, dado o incipiente “milagre económico alemão” e, em que prepararam a fundação das obras de caridade MISEREOR (“contra a fome e a doença no mundo”) e ADVENIAT (“para as necessidades pastorais na América Latina”). Ao mesmo tempo, no âmbito da política, descobriu-se uma nova tarefa: a “ajuda para o desenvolvimento”. Como costuma ser o caso na política, a questão dos lucros económicos próprios tinha um não menor papel. Foi Wihlelm Wissing quem reconheceu a oportunidade de, mediante uma ajuda conjunta, entre a Igreja e o Estado, para o desenvolvimento, não só se alcançariam efeitos maiores mas, também, que as metas da ajuda estatal para o desenvolvimento, não estivessem tão orientadas para o lucro económico próprio, mas antes, para pôr as pessoas em primeiro lugar, na sua dignidade e nas suas necessidades. Wissing descreve o seu raciocínio da seguinte forma:

“Uma das grandes tarefas que a Oficina Católica abordou… de modo voluntário…foi a ajuda às pessoas que sofrem, no Terceiro Mundo. A ideia duma solidariedade internacional também devia realizar-se na República Federal Alemã, mediante um trabalho conjunto entre a Igreja e o Estado. É preciso convir que, para ambas as partes, era um caminho inusual e que, além disso, também, implicava um risco para os dois lados. Ao princípio, ninguém sabia, exactamente, como se realizaria, concretamente, este trabalho conjunto, nem que dificuldades surgiriam, nem como deviam ser aplanadas”. Nas suas memórias Wissing descreve pormenorizadamente as muitas e variadas conversações e negociações que foram necessárias para se pôr em marcha este projecto e, para fazer dele um instrumento útil e permanente de ajuda para o desenvolvimento humano. O que, por aquela altura, pôs em andamento Wilhelm Wissing e que, construiu de modo prudente e bem pensado, sobreviveu às diversas coligações e constelações políticas e é, ainda hoje, um caminho importante para a ajuda conjunta entre a Igreja e o Estado para o desenvolvimento. Trata-se duma obra de Wilhelm Wissing, tal como, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Schroeder escreveu na saudação que lhe enviou, por ocasião do seu 50º aniversário: “os benéficos efeitos da ajuda para o desenvolvimento patrocinados pelo Governo e pela Igreja são, em grande medida, o resultado do seu esforço…”

Uma tarefa adicional

Wissing - Kentenich acDurante o período do seu trabalho à frente da Oficina Católica, assumiu, também, o seu compromisso com o Movimento de Schoenstatt como “uma tarefa voluntariamente aceite”. Como chegou a isso, conta-o nas suas memórias que, escreveu nos últimos 18 meses de vida: “Num dos nossos encontros de duas semanas perguntou-me (o Cardeal Frings, por aquela altura Presidente da Conferência Episcopal de Fulda) se estaria disposto a assumir, adicionalmente, uma tarefa mais de caracter pastoral, a saber, participar na Direcção e na Assistência Pastoral ao Instituto Secular de Nossa Senhora de Schoenstatt”. Com isto, começaram para Wissing uma série de tarefas que requeriam um “diplomático crente”.

Schoenstatt era para Wissing um campo de trabalho até então desconhecido. Pode ser que, às vezes, o tenho apercebido como um “campo minado”. Duas visitações eclesiásticas – uma diocesana, outra papal – tinham posto a Obra de Schoenstatt numa situação difícil: em 1951, o Santo Ofício enviou o Fundador para o exílio, nos Estados Unidos. Esta autoridade suprema da Igreja tentou interferir nas diversas Comunidades da Obra de Schoenstatt passando por cima do poder do Superior Geral dos Padres Pallotinos instituído pelo Santo Ofício em 1953. Schoenstatt devia continuar a sua evolução, no parecer do Visitador, mas não de acordo com a ideia do Fundador. Os Padres Pallotinos que trabalhavam em sintonia com o Fundador foram retirados do Movimento de Schoenstatt. Outros Padres Pallotinos e, também, outros sacerdotes que não pertenciam ao Movimento deviam assumir a Direcção das Comunidades schoenstatteanas.

O ter-se pensado em Mons. Wissing para o caso das “Senhoras de Schoenstatt” pode ter-se devido à sua boa relação com o Bispo Auxiliar Heinrich Tenhumberg. Com isto fica claro que, Wissing não se deixou, simplesmente, envolver no sentido pretendido. Deu-se conta da situação e Schoenstatt confiou nele.

Para Schoenstatt, um golpe de sorte

Como durante o Concílio Vaticano II (1962 – 1965) se entabularam intensas conversações com os diferentes organismos da Cúria romana – principalmente o Bispo Auxiliar Heinrich Tenhumberg e também o Bispo Adolf Bolte – e, como para o fim do segundo período de sessões se perfilava uma solução para a questão de Schoenstatt (ainda que, não ainda, para o caso do Fundador), novamente se pensou em Wilhelm Wissing. A solução que se perfilava foi decretada em 3 de Dezembro de 1963, num documento da Congregação para os Religiosos, dirigido ao Bispo de Münster daquela altura, o Dr. Joseph Höffner. Ali se diz: 1. Nomeia-se o Reverendo Pe. Albers O.P. como Delegado desta Santa Congregação para que examine a situação actual das diversas agrupações de Schoenstatt e informe o que apurou. 2. Nomeia-se Vossa Excelência como Moderator et Custos da Obra de Schoenstatt até que esteja concluída a tarefa encomendada ao Reverendo Pe. Albers. 3. Para que essa tarefa possa, melhor, ser levada a cabo, queira Vossa Excelência nomear como Assistente e Delegado Mons. Wilhelm Wissing…” (H. Tenhumberg, Diário do Concílio 3/12/1963). Mons. Wissing recebia, assim, um encargo oficial para actuar na causa de Schoenstatt. Este encargo abria-lhe, também, as portas dos organismos competentes da Cúria romana. Esta nomeação foi para Schoenstatt um golpe de sorte – ele próprio diria, muito de acordo com a nossa maneira de pensar, aquilo que repetia com frequência: “Deus mais não faz do que ajeitar as circunstâncias”.

O objectivo do seu trabalho ao serviço do “Moderator et Custos” era conseguir a independência e a autonomia da Obra de Schoenstatt, da Sociedade dos Pallotinos, sendo a maior dificuldade o facto da Direcção de então dos Padres Pallotinos querer impedir isto a todo o custo. A desejada independência de Schoenstatt foi declarada por meio dum decreto da Congregação para os Religiosos de 6 de Outubro de 1964 e, foi anunciada em 18 de Outubro seguinte, durante a Celebração Jubilar de Schoenstatt, pelo Administrador Apostólico nomeado no mesmo decreto. Este administrador Apostólico era Mons. Wilhelm Wissing.

Até ao limite das suas forças

Esta nova posição – tinha acesso directo ao Papa e respondia a ele directamente – deu a Mons. Wissing a possibilidade de fazer avançar a solução das difíceis questões pendentes à roda de Schoenstatt. Estes problemas eram, entre outros:

  • a situação no lugar de Schoenstatt – o Santuário Original era propriedade da Sociedade dos Pallotinos.
  • a situação e futuro dos padres pallottinos que se queriam comprometer com a construção da Obra de Schoenstatt em sintonia com o Fundador e, que, nisso viam a sua vocação e, unida a ela, a formação duma Comunidade que assumisse na Obra de Schoenstatt o lugar da, agora, separada Sociedade dos Pallottinos
  • e, em último lugar, o exílio do Fundador ainda vigente, sob a tutela do Santo Ofício.

O Bispo Auxiliar Tenhumberg comentou esta nomeação no seu diário do Concílio com as seguintes palavras: “Mons. Wissing está, plenamente consciente da dificuldade da tarefa que tem pela frente mas, está disposto a assumi-la por amor à causa, pois durante a sua actividade como Assistente Geral das “Senhoras de Schoenstatt” e, como Assistente do Bispo Höffner em relação a todo o Movimento de Schoenstatt, pôde dar-se conta de que se trata duma Obra sumamente importante para a Igreja” (11/10/1964). Wissing pôs-se a trabalhar com vigor e habilidade e, com uma dedicação que lhe exigia até ao limite das suas forças e, que levava a cabo, em adição ao seu trabalho diário em Bonn. O próprio Wissing escreve: “ tratava-se dum trabalho que requeria muito tempo, com muitos documentos e com um sem fim de conversações na Alemanha, na Suíça, em Roma. Houve meses em que fui de avião a Roma três vezes num mês – partia à sexta-feira e regressava na segunda-feira de manhã – para começar novamente as diligências e o meu verdadeiro trabalho em Bonn”. No diário do Concílio do Bispo Auxiliar Tenhumberg pode ler-se que os colaboradores de Bonn estavam preocupados com a saúde do seu chefe; numa ocasião o seu substituto solicitou, expressamente, que Wissing fosse liberado da sua tarefa em Schoenstatt porque estava, totalmente, assoberbado o que lhe afectava a saúde. (5/12/1965)

Acerca do conteúdo do seu trabalho, Wissing recorda nas suas memórias: “ as minhas disputas com o Santo Ofício estavam relacionadas, sobretudo, com duas questões: o tema da obediência e o tema do carisma. E, de facto, o Pe. Kentenich defendia um conceito de obediência que possuía um caracter mais familiar e que não correspondia ao conceito habitual que existia na Igreja. [O Pe. Kentenich usa neste contexto o conceito de “obediência familiar” – O.B.] E, acerca do carisma, no fundo existia a suspeita de que ele valorizava mais a sua missão que, a missão da Igreja e, que era ele quem tinha a última palavra. Em muitas conversações e exposições pude esclarecer estes problemas, de modo a que nada se opusesse ao regresso do Fundador”.

O assunto Kentenich

Contudo, apresentar-se-iam outras dificuldades. Mons. Wissing tinha conseguido do Santo Ofício que, o Pe. Kentenich fosse, provavelmente, chamado a Roma em Outubro de 1965 – isto é, durante o quarto período das sessões do Concílio. Contudo, no primeiro dia deste período de sessões, em 13 de Setembro de 1965, aconteceu algo que modificou bastante a situação e, num primeiro momento, a complicou consideravelmente: o Pe. Kentenich recebeu um telegrama que dizia que devia ir para Roma imediatamente, o qual estava assinado pelo substituto do Superior Geral dos Padres Pallottinos. Ao chegar, a 17 de Setembro à Casa Generalícia, em Roma, foi informado que, dali, ninguém lhe tinha enviado nenhum telegrama. A origem do telegrama não pôde ser esclarecida, apesar duma intensa pesquisa realizada por Schoenstatt, tanto em Roma como em Milwaukee, a confusão era grande. Na Cúria romana surgiram suspeitas que, diziam que, os schoenstatteanos e, inclusivamente, o próprio Pe. Kentenich poderiam ter enviado o dito telegrama.

O Administrador Apostólico foi chamado. Fortemente apoiado pelo Bispo Auxiliar Tenhumberg e, depois de numerosas conversações, pôde rebater estas suspeitas. Além disso, teve que impedir que o Pe. Kentenich fosse mandado de volta para Milwaukee (o que já tinha sido decidido pelos Cardeais do Santo Ofício), pelo que, também, teve que entabular numerosas conversações. Em 20 de Outubro os Cardeais do Santo Ofício decidiram mudar o caso Kentenich para a Congregação para os Religiosos, cuja consequência foi o Pe. Kentenich ser libertado. O Papa Paulo VI confirmou esta decisão em 22 de Outubro, tendo entrado, imediatamente, em vigor. O Pe. Kentenich viu, neste atribulado desenvolvimento, uma disposição da Divina Providência, onde, também, estava incluído o telegrama não esclarecido. O Administrador Apostólico pôde assentir dizendo: “Deus mais não faz do que ajeitar as circunstâncias”.

Superior Geral dos Padres de Schoenstatt

Para além das conversações para solucionar a causa Kentenich, teve que negociar muitas outras questões. Já em Julho de 1965 tinha sido fundado o Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt, ao fim de muitas negociações. Wilhelm Wissing conta como, de repente, recebeu um novo cargo:

“Para a elaboração deste decreto [de 6 de Outubro de 1964 – s.o.] fiquei quatro semanas em Roma, depois de me recuperar duma grave operação. Lá, entrei em negociações todos os dias. E, o resultado disso mostra que Deus tem sentido de humor: a nova Comunidade sacerdotal tinha nascido, tinha estatutos, estava aprovada mas, ainda não tinha um Superior. Tinha que ter um Superior. O Cardeal encarregado deste assunto informou-me dizendo: “em Roma não existe nenhuma comunidade que não tenha um Superior. Tem que ter um Superior. Caso contrário não posso propôr ao Papa esta comunidade”. Ao olhá-lo por um instante, um pouco perplexo, o Cardeal acrescentou: “portanto, proponho que você seja o Superior desta Comunidade”. A minha objeção foi: “mas eu nem sequer pertenço a Schoenstatt, ainda menos aos Sacerdotes e, nem sequer tenho a intenção de me integrar neles”. Então, o Cardeal disse: “ de momento isso dá no mesmo. Ou bem, você aceita ou, eu encerro as actas e, não proporei ao Papa esta fundação hoje à tarde”. Assim, me converti do dia para a noite em Superior duma Comunidade Sacerdotal de Schoenstatt”.

Santuário Original

No quadro deste artigo não é possível apresentar, em pormenor, a quantidade de problemas e de matérias que deviam ser esclarecidas em múltiplas conversações: questões, em torno do lugar de Schoenstatt; questões, relativas aos Padres Pallottinos (na Alemanha, Suíça, Chile) que desejavam incorporar-se no Instituto dos Padres de Schoenstatt, entre outras. Mencionaremos um facto especialmente típico, tanto para o Pe. Kentenich como para Mons. Wissing. No decreto de nomeação do Administrador Apostólico era dado, também, poder a Mons. Wissing para nomear o Reitor do Santuário Original, em Schoenstatt, ainda que, este fosse propriedade dos Padres Pallottinos. Entre o Administrador Apostólico, o Presidente do Conselho Geral da Obra, o Bispo Auxiliar Tenhumberg e o Fundador – o Pe. Kentenich -, por um lado e, o Padre Geral dos Padres Pallottinos, Wilhelm Möller, por outro, tinha sido elaborado, através de longas negociações, um modus vivendi, em torno do Santuário Original, no vale de Schoenstatt. Quando estas negociações estavam praticamente encerradas e prontas para serem assinadas, o Pe. Kentenich propôs renunciar a deixar por escrito os acordos alcançados e, deixar a sua realização à magnanimidade de ambas as partes, isto é, renunciar a “um meio de pressão jurídico”. Esta proposta continha, também, o pedido ao Administrador Apostólico para que se abstivesse de nomear um Reitor para o Santuário Original, porque isso seria uma intromissão muito profunda nos direitos de propriedade dos Padres Pallottinos que, poderia ser considerada uma humilhação. Mons. Wissing aceitou esta proposta. Ele não renunciaria ao seu direito a fazer a nomeação mas, na prática, não o exerceria, para, assim, contribuir, de acordo com o desejo do Pe. Kentenich, a um acordo de paz profunda no lugar de Schoenstatt. Este é um sinal da relação de confiança que existia entre o Administrador Apostólico e o Fundador de Schoenstatt. Infelizmente, este acordo de paz previsto para os anos seguintes não chegou a entrar em vigor.

Wilhelm Wissing exerceu o cargo de Administrador Apostólico da Obra de Schoenstatt até 31 de Maio de 1966. Contudo, continuou vinculado à Família de Schoenstatt e foi membro conselheiro do Conselho Geral da Obra, até à sua morte.

Missio

Mons. Wissing teve que pôr um fim ao seu trabalho na Oficina Católica em 1967, devido a uma grave doença. No princípio de 1969 já se tinha recuperado o suficiente para lhe permitir assumir uma nova tarefa. O seu novo campo de acção encontrava-se em Aachen na “Obra Pontifícia para a Propagação da Fé”. Ultrapassaria os limites deste artigo se mencionasse o labor de Wissing neste âmbito, ainda que, apenas, de forma sucinta. Para terminar mencionar-se-á apenas o modo como começou o seu novo trabalho em Aachen. As palavras que dirigiu às suas colaboradoras e aos seus colaboradores revelam, não somente, a situação daquele tempo naquela instituição, mas também, revelam que pessoa era Wilhelm Wissing e, a forma como abordou esta nova tarefa. Karl Höller, seu colaborador de muitos anos em Aachen conta:

“O novo presidente pediu a todas as suas colaboradoras e colaboradores que fossem à Capela, o lugar mais amplo da Central Missionária da Rua Hermann, em Aachen, e revelou-lhes amargas verdades.

“A Obra Pontifícia para a Propagação da Fé é um barco que se está a afundar. Não recebemos donativos para as Missões e isto ameaça a nossa existência. O número de membros diminui”.

As recentes obras Misereor y Adveniat com as suas atraentes propostas de ajuda social para o desenvolvimento e para a Pastoral da América Latina ultrapassaram, largamente, a Obra Missionária com o seu objectivo da conversão dos pagãos que, já tem mais de 130 anos.

“Se, rapidamente, não nos recuperarmos, promovendo donativos e conquistando novos membros, por meio dum intenso trabalho de formação”, disse Wissing, “podem começar a procurar um novo lugar para trabalharem!”

A Obra “Missio” que, surgiu desta Obra Pontifícia para a Propagação da Fé, tal como, hoje, a conhecemos, é obra de Wilhelm Wissing. Não é apenas Schoenstatt quem lhe deve o penhor duma imensa gratidão!

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Fonte:
Wilhelm Wissing, Deus mais não faz do que ajeitar as circunstâncias. Memórias duma vida em tempos turbulentos, editado por Karl R. Höller, Mainz 2001
Heinrich Tenhumberg, no Concílio Vaticano II, Diário 1962 – 1966 (publicado parcialmente por Joachim Schmiedl, Münster 2015)
Original: alemão. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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