Ignacio Quintanilla Navarro (1960-2023)

Posted On 2023-07-13 In Schoenstatteanos

Ignacio Luciano Quintanilla. Mors non est finis

ESPANHA, 2º Curso da União Apostólica de Familias de Espanha •

Um cínico ditado espanhol afirma que “não há morto mau”. Refere-se ao facto de que, quando uma pessoa morre, todos os seus defeitos são esquecidos e as suas virtudes são exageradas e, por vezes, inventadas. —

Por esta razão, quem ler este texto, sem ter conhecido Ignacio Quintanilla, pode legitimamente pensar que se trata de um obituário típico. Mas não é. Queremos refletir, com absoluto respeito pela verdade, como era realmente o nosso amigo e irmão de Curso. Ele e a sua mulher, Pilar, são pessoas extraordinariamente discretas, muito pouco dadas a colocarem-se no centro e, por isso, não quisemos guardar estas memórias na intimidade do nosso Curso, mas partilhá-las neste momento em que se misturam a dor e a gratidão.

Apesar da sua estatura intelectual, nunca teve pretensões elitistas

A sua grande capacidade intelectual é-nos evidente. Era um filósofo que possuía a virtude de analisar as questões mais complexas (como sentiremos a falta das suas intuições sobre a inteligência artificial que está a chegar) com uma originalidade absoluta; uma originalidade que tornava impossível classificá-lo num dos campos de pensamento mutuamente exclusivos e que, por vezes, deixava os seus interlocutores perplexos.

Quando nos explicava algo, não tentava deixar-nos sem palavras, mas sim ser didático, tornar-se compreensível. No meio académico, existe também uma atitude classista, tal como no mundo do dinheiro ou da aristocracia. Da mesma forma que se despreza quem não tem um mínimo de riqueza ou antepassados ilustres, existe no mundo intelectual um sentimento de superioridade em relação a quem não tem o seu doutoramento ou as suas publicações com um elevado número de citações. Ignacio nunca teve pretensões elitistas e preferia considerar-se um professor de liceu de uma pequena cidade, apesar de ter publicado vários livros, numerosos artigos e feito colaborações nos meios de comunicação social.

A sua estatura intelectual e o seu interesse pela ciência eram para ele compatíveis com uma fé profunda, talvez por não a ter recebido acriticamente em criança. A sua vinculação com Deus era adulta e madura e, ao mesmo tempo, cativante e confiante, o que era transparente nos momentos difíceis.

Foto del día en que presentó su último libro, junto a su mujer, Pilar, una semana antes de morir.

Apresentação do seu último livro, uma semana antes da sua morte

Construir pontes

el día en que presentó su último libro, junto a su mujer, Pilar, una semana antes de morir.

Apresentação do seu último livro, uma semana antes da sua morte

O Ignacio gostava de construir pontes, grandes e pequenas. Contribuiu, na medida das suas possibilidades, para criar uma plataforma capaz de ultrapassar a situação criada pelo processo de independência da Catalunha. Foi pessoalmente afetado pela agitação que estava a ocorrer, não tanto pelas consequências políticas. Mas não se limitou a causas de interesse geral. O seu irmão contou-nos que Ignacio foi quem manteve a sua família de origem unida, em circunstâncias difíceis. E isso não significa que Ignacio não tivesse opiniões “fortes”, mas que, para ele, era essencial que todos reconhecessem a possibilidade de agir de boa fé e que não é honesto pretender ter razão de antemão, mas que se deve fazer um esforço sincero para convencer através de argumentos racionais. Em 27 de abril, publicou um artigo no jornal El Mundo sobre a forma como deve ser tratada a questão do aborto, que resume muito bem as suas ideias sobre o debate de um assunto tão polémico.

Foi sempre empático. Sabia muito bem como detetar as necessidades e a perspetiva de interesses do seu interlocutor e adaptava-se a elas. Era sempre um prazer falar com ele e muito fácil fazer coisas em conjunto. De facto, o seu último livro, escrito em conjunto com a Pilar, nasceu da preocupação da Pilar com a ecologia. Não era um tema que estivesse entre as prioridades de Ignacio, mas ele apercebeu-se de que era uma tarefa que ajudaria Pilar e acabou por assumir a questão ecológica como sua. O interesse de Ignacio pelos assuntos dos outros não era fingido, porque no final a pessoa detecta-o e essa ficção gera rejeição. O afecto levou-o a fazer seu o que movia a pessoa que estava ao seu lado. Como o interesse de Elías pelas tarefas e pequenas reparações e actualizações domésticas em que ambos trabalhavam.

Um homem de família

E, evidentemente, Ignacio era um homem de família. A sua prioridade era clara. Não eram os seus livros nem o seu trabalho exigente como diretor de um liceu. Estava sempre presente para a Pilar e para os seus filhos. A Pilar e o Ignácio eram um casal apaixonado. Não queremos dar uma imagem açucarada e, portanto, falsa da sua relação, mas esta baseava-se claramente no amor e na admiração mútua.

A Pilar e o Ignacio foram bons educadores, serviram a vida que lhes foi confiada. Basta olhar para os seus filhos, Pablo, Lorenzo, Pilar, Almudena e Elías, e para o tipo de pessoas que são, para ter a certeza disso.

Queremos recordar os bons momentos. Ignacio gostava de desfrutar das pequenas coisas: um bom livro, uma boa conversa, música… E gostava de partilhar esse prazer. Convidava-nos sempre a provar um queijo, uma cerveja, uma infusão que tinha descoberto… A certa altura, propôs ao Curso que a formação, o apostolado e a educação estavam muito bem, mas que procurava um lugar para descansar e divertir-se no Curso. E isso levou a uma série de encontros muito frutuosos. Preparou um sobre os anjos e deu-nos uma palestra no Museu do Prado, explicando o tema através da arte. Um momento muito especial que levaremos sempre connosco.

Tal como ele desejava, esperamos que o seu anjo da guarda o tenha levado para o Céu.

Até à vista, Ignacio.

Estas fotos se tomaron desde el tanatorio el día de la muerte de Ignacio.

Foto tirada na casa mortuária no dia da morte de Ignacio

Escrito para publicação no site da União das Famílias e schoenstatt.org. Publicado (quase) simultaneamente.


Ignacio, assim te recordamos, na equipa editorial de schoenstatt.org:

Nada sem Ti, nada sem nós? Cinco grandes cenários para o 31 de Maio depois do 2 de Julho de 2020

Original: castelhano (21/6/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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