Hugo Gómez, funerales

Posted On 2024-03-15 In Schoenstatteanos, Vida em Aliança

Um amigo fiel: Hugo Gómez

ARGENTINA, Quitito Asencio, Héctor Ríos, María Fischer •

No dia 7 de Março, Hugo Gómez, um dos primeiros aliados da Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt no Paraná, Argentina, peregrinou à Casa do Pai, onde se encontra agora com Cristo e a MTA e a sua amada Beby, falecida há três anos, no dia 10 de Março de 2021. Um fundador. Em 1959, Quitito Asencio, Hugo Gómez e Elvio Gómez fundaram o primeiro grupo de Schoenstatt no Paraná.

Beby Asencio e Hugo Gómez fazem parte da história da fundação de Schoenstatt Paraná, do Santuário de La Loma, e são pais de dois Padres de Schoenstatt, os Padres Martín Gómez e Beltrán Gómez, que actualmente trabalha em Roma, Itália. Ambos puderam estar com ele na altura da sua morte.

Beby y Hugo Gómez llevando ofrendas en una Fiesta de Sion

Beby e Hugo Gómez levando oferendas numa festa de Sion | Foto: Claudia Echenique

“Este continente que não pode ser englobado num único comentário”

“Descanse em paz! Um grande homem de Schoenstatt da Argentina, além de um grande pai e esposo”, comentou o Pe. José María García ao saber da morte de Hugo Gómez.

Héctor Ríos não só tirou fotografias durante o funeral, como também pediu ao seu amigo e cunhado Quitito Asencio, outro dos fundadores, para escrever um testemunho sobre o Hugo. O resultado é um belo texto de 15 páginas, intitulado: Um amigo fiel. Na primeira página, o autor afirma:

“A pessoa de Hugo não pode ser expressa apenas por palavras, e o que for partilhado ajudará a dar vislumbres e sombras, e os olhos de todos poderão contemplar este continente que não pode ser englobado num único comentário. É também uma mistura do meu e do teu e de um tempo rico em história… O que acontece é que 63 anos de dedicação ao Movimento não podem ser resumidos.

Sim, Quitito, 63 anos de dedicação a Schoenstatt, 63 anos de Aliança de Amor, toda uma vida para Cristo, toda uma história sagrada de Aliança não se pode resumir. Mas obrigado, porque através desta história podemos conhecer este amigo fiel. Partilhamos, com gratidão, nostalgia e fé, a história de Quitito – resumida por Héctor Ríos para este artigo e também na sua versão integral em pdf (ES).

Quitito Asencio

Quitito Asencio junto à campa de Hugo Gómez | Foto: Héctor Ríos

A história de Quitito 1: o que o Hugo tinha muito claro

Encontraram-se no trabalho apostólico e social, acesos por um fogo que os incitava a sair. Em 1956, no projecto Emaús, construíram choupanas para os pobres, após o que Hugo foi a principal liderança da Juventude da Acção Católica da Diocese do Paraná.

“Hugo é daqueles que vai directo ao assunto e, mais do que o conhecimento e a doutrina da fé, interessava-lhe o encontro pessoal dos jovens com Jesus e que eles realizassem obras concretas dentro da igreja. Ele dizia: “Não se aquecem cadeiras ou se serve de acólito enquanto o comunismo avança, é preciso empreender com ousadia e coragem um trabalho semelhante“.

Como falar a alguém como Hugo sobre Schoenstatt? Como apresentar a missão de Schoenstatt, as minhas dificuldades em expressá-la e o que mostrar? A coisa da Emaús era palpável e concreta, mas isto era blá, blá, blá… Foi a amizade que permitiu a abertura e também que Beby – minha irmã e futura esposa de Hugo – participasse; é aí que creio que o resultado foi, não pelo que se falou ou pelo que se mostrou, mas a filialidade simples da minha irmã, quebrou a carapaça do Hugo”.

Lembro-me, escreve Quitito, “que O Hugo tinha muito claro o segunte:

  • O conceito de Capital de Graças na vida
  • A Mater instalada num lugar
  • O vínculo com o irmão e a hospitalidade
  • Os ideais no topo
  • A Missa diária.

Eu ficava enredado na tentativa de explicar o Homem mecanicista versus o Homem orgânico e ele trazia-me sempre de volta a López Jordán, Rosas e Artigas (NR: heróis da história argentina e uruguaia) e muitos outros homens da Argentina que ele admirava apaixonadamente. Era como estender uma cana de pesca com linhas de pesca, mas sem isco, não havia isco, apenas a fé de que algo aconteceria”.

Hugo Gómez

A história de Quitito 2: as viagens a Córdoba

sepelioAssim também chega o seu irmão Elvio e partimos os três no dia 15 de Agosto de 1959 do Paraná para Villa Warcalde, na província de Córdoba (450 km). A casa era muito velha, quase uma choupana, quartos com morcegos, escuridão total, à noite não havia luz. No dia seguinte, ao meio-dia, os rapazes da juventude de Córdoba trouxeram-nos empanadas que aquecemos num velho fogão a lenha; não as tirámos a tempo e queimaram-se. Esta foi a primeira visita do Paraná à Ermida e ela deve ter visto o que poderia fazer connosco aqui no Paraná. Trouxemos-lhe toda a pobreza acumulada da Emaús e também a nossa, que era muito maior, mas Ela impressionou-nos num lugar tão simples, pobre e humilde e creio que especialmente Hugo pelo tempo corajoso e constante que dedicou anos mais tarde à procura do lugar para a Mater no Paraná.

Poucos dias depois, 17 e 18 de Agosto, um grupo de meninas também chegou à Villa Walcalde, e assim se completou o grupo que iniciou o Movimento de Schoenstatt no Paraná.

O desenvolvimento ou o comportamento desta “tribo” (era assim que nos chamavam) gerou dúvidas e mal-estar. Não tínhamos Assessores, não tínhamos lugar fixo, as pessoas não sabiam do que estávamos a falar e o fundador foi sancionado pelo Santo Ofício e preso nos Estados Unidos. [Com estas e outras dificuldades, Hugo estava no “seu elemento”, quanto mais difícil melhor, as coisas mais difíceis atraíam-no e ele continuou o seu voo apostólico. Sabia escolher as pessoas que queria para alargar a sua obra. O Paulo de Tarso aparece em Hugo, e todos os que estão ao seu lado são inflamados por esta aventura de um Homem Novo confrontado com o pensamento e a acção mecanicistas. Assim convenceu Horacio Sosa e com ele produziu-se um efeito dominó no Colégio La Salle: Os Irigoyen, os Martínez Garbino, os irmãos Royano, Sallenabe, Yosbiac, Coll, Tandesky, Tabani, Lucio Uranga e muitos outros.

As viagens mensais a Villa Walcalde para visitar a Ermida, cobrindo todas as despesas de deslocação, a gasolina para o barco, os recursos necessários para atender um ou outro visitante, tudo isto provinha dos rendimentos do trabalho na fábrica de Quilmes e também da auto-poupança que se impunha ao suprimir o custo dos cigarros. Nele, não havia meias medidas, não havia desafios sem convicção; era um homem determinado, decidido, mesmo que por vezes pisasse calos e a relação com ele doesse.

Todos os dias o mantínhamos ocupado na vinculação com um ou outro que aparecia, e essa intensidade nos vínculos gerava o início de uma família, mesmo que ainda não tivéssemos um lugar comum.

Estes vínculos também se entrelaçavam em relações afectivas, o que contribuía para a sustentabilidade desta pequena comunidade. Muitos dos casamentos iniciais derivaram desses namoros que deram origem a essas trocas: Hugo, Maldonado, Reynoso, Penas e outros. A vida afectiva ajudou a construir a comunidade inicial, digo isto sabendo que pode levantar “poeira”, mas é uma descrição do que vivemos.

A história de Quitito 3: Queima a tua vida e levantarás o Santuário

Los Padres Martín y Beltrán Gómez

Padres Martín e Beltrán Gómez

Um dia o Pe. Bodo Erhard visitou-nos e, enquanto estava com Joaquin Lavini, viram ao longe uns enormes eucaliptos. A distância era de cerca de 300 metros e entre eles comentaram: “poderia ser o lugar do Santuário”. Nós nem tínhamos visto, mas tudo aconteceu de forma surpreendente e acelerada. O lugar era a antiga fazenda da família Bersano e o proprietário na época era o Sr. Pizzola. O assunto avançou, apesar da nossa incredulidade e pobreza. O Sr. Pizzola tinha organizado a venda de parcelas de terreno e também de uma fração com uma velha casa e barracões de horticultura com uma superfície de 1,4 hectares. As Irmãs Marianas de Florencio Varela compraram este terreno e os leigos da comunidade compraram os terrenos em frente para ampliar a área, para proteger o lugar.

A construção do Santuário foi possível graças à ajuda e à solidariedade da Família Nacional e à mão generosa de outros carismas da Igreja. Passo a detalhar alguns desses gestos de que me recordo:

  • Madeira do telhado: Comunidade de Oberá.
  • Porta de acesso: Monges beneditinos de Los Toldos.
  • Bancos: Comunidade de Mendoza
  • Campanário: Monges Beneditinos de Victoria.
  • Altar: Irmãos de Maria do Brasil.
  • Hugo, junto com Jorge Fabro, deu uma contribuição importante: buscar o retábulo em Uruguaiana (Brasil), levá-lo a Paso de los Libres (Argentina) e trazê-lo para o Paraná. Ninguém tinha um camião. O construtor do Santuário, Sr. Giggi, cedeu-nos a sua camioneta Ford F100. Tivemos que passar por duas alfândegas e Hugo tinha um bilhete de Monsenhor Tortolo para que nos deixassem entrar no país. Para a alfândega, tratava-se de obras de arte e não havia dinheiro para pagar direitos aduaneiros. Hugo tinha ligações com o lado de Paso de los Libres porque tinha trabalhado lá como funcionário da DGI (NR: Dirección General de Impuestos) e conhecia a língua e a forma de se comportar perante estes controlos. A Providência estava sempre a fazer-nos surpresas e a sua presença era visível, chegámos com dinheiro suficiente para pagar os nossos salários quinzenais, não nos faltou mas também não nos sobrou nada.

Este tempo foi vivido com um lema preciso e concreto, desafiante: “Queima a tua vida e levantarás o Santuário”. Hugo viveu-o.

A história de Quitito 4: Amigo

Los Padres Martín y Beltrán Gómez

Os Padres Martín e Beltrán Gómez

No final deste texto, devo dizer que somos muito diferentes em gostos e opiniões, e como a verdade é, deve ser dita:

  • Os seus heróis e referências não são normalmente os meus.
  • As suas ironias por vezes irritam-me ou magoam-me
  • A sua intransigência bloqueia-me
  • A sua intolerância para com as pessoas que lhe são próximas perturba-me.
  • A dificuldade de diálogo fraterno com outros que têm uma forma de pensar diferente.

Contudo: Amigo do coração

  • Por ser rocha
  • Pela sua fidelidade incondicional
  • Pela sua autenticidade e integridade
  • Pela sua nobreza
  • Pela sua fé expressiva de poucas palavras

Hugo, obrigado por toda a tua vida!!!

 

Beby y Hugo Gómez

Até sempre

Um amigo fiel (ES)

Original: castelhano (13/3/2024). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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