Posted On 2015-04-09 In Schoenstatteanos

O vencedor em cadeias – o Arcebispo Emérito Zollitsch comemorando o centenário de nascimento de Karl Leisner

M. Fischer.•

“Durante a vigília do ano de 1938, Karl Leisner entrega seu diário a seu amigo e dirigente do grupo, Heirinch Tenhumberg, pedindo-lhe que escrevesse algo ali. Fico me perguntando o que eu teria escrito no diário desse seminarista de 23 anos, conhecendo sua personalidade tão dinâmica e seu dedicado compromisso com Jesus Cristo e os jovens. O mais provável é que teria escrito as mesmas palavras que Santo Inácio de Loyola compartilhava com seus companheiros, aquelas que muitos de nós também escutamos do Padre Kentenich, como despedida em Milwaukee: ‘Ite, incendite mundum – Ide e incendiai o mundo’; com certeza, Heinrich Tenhumberg escreveu algo muito diferente: ‘Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, ficará só; mas se morrer, produzirá muitos frutos’ (Jo 12, 24). Parece-me como se, naquela noite de Páscoa, o futuro bispo tivesse pressentido profeticamente o que para Karl Leisner seria seu último desafio”, disse o Arcebispo Emérito Dr. Robert Zollitsch, da diocese de Friburgo/Alemanha, na tarde de 4 de março, na Igreja da Trindade no Monte Schoenstatt, durante a Celebração Eucarística pelos 100 anos do nascimento de Karl Leisner (28/02/2015): “Uma vez que a tensão entre a luta por Deus e com Deus e a morte como grão de trigo consumiram-se na vida de Karl Leisner”.

 

Selos postais comemorativos, monumentos e exposições: o centenário de nascimento de Karl Leisner faz com que, na Alemanha e também em Schoenstatt (sua pátria espiritual), coloquemos nosso olhar sobre esse jovem a quem o futuro Bispo Heinrich Tenhumberg – membro do Instituto Diocesano dos Sacerdotes de Schoenstatt – lhe dedicou em seu diário a frase do grão de trigo que cai na terra e morre. Estamos suficientemente conscientes do dom que Deus nos deu com Karl Leisner e sua mensagem profética?, pergunta o Arcebispo Zollitsch e esclarece: ele é o primeiro de nossa família schoenstattiana mundial que se apresenta aos nossos olhos como santo. O Papa João Paulo II, durante sua primeira visita à Alemanha, em um encontro em Fulda, o incorporou como modelo sacerdotal para os sacerdotes e seminaristas. Em Estrasburgo, no ano de 1988, apresentou-o para a juventude europeia como exemplo a seguir. René Lejeune dedicou assim seu livro da biografia de Karl Leisner: “Aos jovens da Europa, à juventude de todo mundo (e) aos sacerdotes que surgirão deles” [1]. Estou convencido de que com a vida e a luta de Karl Leisner, com sua batalha e com sua oferta como holocausto, recebemos um fascinante santo como presente; com sua pessoa, um tesouro que devemos conservar: para a juventude, para os sacerdotes, para nossa família no mundo todo. Agradecemos, Pai, por Karl Leisner! Deixemo-nos incendiar por seu fogo!

 

O tempo assim te exige!

Essa noite, o Arcebispo Zollitsch enfatizou um aspecto em particular do grande ventilador de características fascinantes de sua personalidade: Karl Leisner é completa e totalmente contemporâneo, em meio às vozes de sua época, atento a elas; naquele tempo se posicionou clara, audaz e consistentemente e, a partir dali, atua com coragem, coerência e clareza. O tempo de Karl Leisner é o de promoção e tomada de poder do nacional-socialismo, seu reino de terror, sua brutal perseguição e aniquilação de tudo o que se opõe à sua pretensão de poder. Ele se coloca contra e, por isso, deve pagar um preço muito alto.

 

“Para um jovem que ardia assim por Cristo, a tomada de poder de Hitler significava um enorme desafio”, disse o Arcebispo Zollitsch. “Agora, cabia a ele. O jovem de 19 anos, líder do grupo de desafios da diocese, reconhece-se diretamente escolhido por Deus: ‘Em frente! Tu és quem deves conduzir meus jovens’ (Diário 12/9/34). Ele não sentiu medo e respondeu: ‘Te prometo… solenemente: Senhor, Deus Todo-Poderoso, ser teu instrumento… Todas as minhas forças te pertencem, a partir deste momento… O povo alemão deve ser novamente um povo cristão, católico’ (Diário 12/9/34). Ele sabe e se deixa dizer: ‘O tempo assim te exige!’ (Diário 17/2/39). ‘É a santa vontade de Deus.. por isso, em frente, com santa coragem!’ (Diário 1/5/34). Karl Leisner não escolheu seu tempo, nem tampouco perdeu tempo com reclamações ou queixas. Enfrentou os desafios que lhe surgiam e cumpriu ativamente as tarefas. Ele não queria ser um nazista, mas também não queria ficar sentado, sem fazer nada. Ele se reconheceu como um guerreiro chamado por Deus e para sua causa”.

Vocação

Referindo-se à citações de seu diário, o Arcebispo Zollitsch conta a apaixonante luta de Karl Leisner por sua vocação de vida e a luta pela clareza na decisão entre o casamento e o sacerdócio. “Foi uma longa luta entre Karl e Deus, uma longa e difícil luta pelo seu sim definitivo ao chamado para o sacerdócio. Em retrospectiva, ele se torna cada vez mais consciente da forma pela qual foi conduzido pela Mãe de Deus e da imensa fonte de energia que o Santuário de Schoenstatt significa para ele”, menciona o Arcebispo.

“Um dia antes, estava como de costume dando aulas no seminário de Lantershofen (sou professora de teologia espiritual nesse seminário). O tema deste trimestre é: exemplos de fé vivida. Exatamente nesta semana, estudamos a vida de Karl Leisner”, disse Alicja Kostka. “Durante a missa, fiquei pensando nos estudantes e seminaristas com os quais, um dia antes, analisando seu longo e doloroso caminho ao sacerdócio, tratamos de decifrar ‘a santidade’ de Leisner – o santo para nossos tempos. Os estudantes questionaram se não teria sido melhor para Leisner optar por uma vida matrimonial; quem sabe, opinava outro estudante, se mesmo assim o braço destruidor dos nazistas o teria alcançado. Agora ele vive em muitos sacerdotes do mundo, disseram, e assim eu também o senti durante a missa de ontem. A luta por sua vocação traz uma mensagem para os tempos atuais: entregar-se completamente ao chamado de Deus – como disse o Arcebispo Zollitsch na homilia – e encontrar em Jesus a verdadeira paixão sacerdotal, aquela que se sobrepõe e supera qualquer outra paixão”.

Depois de um longo caminho de espera, o sonho de Karl Leisner se torna realidade: ele é ordenado sacerdote. “Karl Leisner viveu no fim o inferno de Dachau, ou seja, a libertação. Porém, ele já vivia em outra liberdade ainda maior e Deus aceitou sua oferenda como holocausto”, acrescentou o Arcebispo Zollitsch. “Inclusive na maior necessidade e durante as dificuldades mais duras, nunca perdeu de vista o passo seguinte: o dia da Páscoa. Sem se importar com quanto humilhante e doloroso tinha sido o dia, a certeza de sua última vitória, a vitória de Páscoa, o sustentava. Por isso, os sacerdotes de Schoenstatt do grupo ao qual ele pertencia em Dachau desenharam para sua primeira missa a seguinte imagem: mãos presas que se abrem para o alto, para a coroa: Victor in vinculis – vencedor em cadeias.  Karl Leisner venceu. O grão de trigo que caiu na terra dá fruto”.

Homilia Dr Robert Zollitsch

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