Posted On 2020-03-30 In A Aliança de Amor Solidaria em tempos de coronavírus

Dentro de uns dias será de novo o meu aniversário

ESPANHA, Paz Leiva •

Daqui a alguns dias será novamente o meu aniversário. Noutros anos eu já sabia quem viria, quantos seríamos para almoçar, para um lanche. —

Este ano é raro e diferente de qualquer outro. Mesmo diferente dos aniversários passados fora de casa, em que, por falta de telemóvel, tive de telefonar para casa para ser felicitada.  O meu aniversário geralmente cai na Quaresma, às vezes até numa sexta-feira – o menu fica complicado, vou ter de pôr peixe  – e outras vezes a meio da Semana Santa.

Eu não tenho uma lista de compras feita. Não é preciso pensar no que todos gostam para o aperitivo. Vão sobrar algumas azeitonas Camporreal no frigorífico: nada de netos. Vou colocar umas quantas “tapas” antes do almoço e o meu marido e eu vamos brindar sozinhos com um bom copo de vinho, por mais um ano.

Não me trarão presentes e não vou escolher os meus amigos favoritos (que são todos os meus netos ao mesmo tempo) para trazerem o bolo comigo. E este ano, que bolo devo colocar? Gosto de bolo de castanha. Por vezes, já me dei esse capricho, apesar de saber que não é o preferido de todos. Aviso: no próximo ano não vos livrais, haverá bolo de castanha.

Mas ver-nos-emos…

Este ano, um bolo caseiro será suficiente. Para as velas, não há problema. Já se passaram anos desde que todas as velas cabiam, uma para as unidades e outra para as dezenas é suficiente. E se não, só uma, no centro.

Não vou receber nenhum presente, mas ver-nos-emos numa sessão de Zoom ou de Video-chamada. E eu, sim, terei um presente para todos: o esforço que estou a fazer durante todas estas semanas para não sair de casa. Aqueles que me conhecem sabem que não me importo de estar em casa. Eu gosto disso. Mas por causa do meu temperamento, por causa da minha estrutura, eu gostaria de estar na linha da frente lutando contra o vírus; organizando alguma acção de cidadania para ajudar aqueles que estão a viver o pior momento; trabalhando até eu cair. Mas eu não vou… “porque estarmos separados nunca nos aproximou tanto.

Cuidar de mim para não dar mais problemas ao SNS.

Este ano, a minha obrigação é cuidar de mim. Nós schoenstatteanos chamamos-lhe “Capital de Graças”. Nós, avós, não devemos expôr-nos ao vírus. E é isso que nós fazemos. Para não dar mais preocupações à família. Não dar mais problemas aos cuidados de saúde, porque nos hospitais de Madrid já dão prioridade a quem tratar, tendo em conta a idade, porque não há meios para cuidar de todos. Que inveja tenho dos médicos – que são vários anos mais velhos do que eu – que regressam às suas posições para voltar a trabalhar!  Como na “guerra total”, tudo, desde estudantes de medicina até médicos aposentados, estão a ser chamados.

Este ano, no meu aniversário, depois de cumprir a nossa atarefada agenda para mantermos o cultivo do espírito o mais alto possível, visitaremos um museu, iremos ao teatro ou à ópera. E iremos à janela às oito horas da noite para aplaudir o pessoal do hospital, os polícias, os armazenistas e os caixas dos supermercados… e veremos a família. Bendito seja Deus, que permitiu invenções tão boas quanto as comunicações de hoje.

Juntos nunca perdemos

Estamos a enviar-nos, mutuamente, canções e quadras que circulam nestes dias com mensagens de encorajamento, de alegria, de esperança. Vamos ensaiar. Tal como nos outros anos que ensaiámos para os Ofícios e para a Vigília Pascal.

E este ano, que é raro e diferente de qualquer outro, o repertório da Páscoa também será raro e diferente, mas celebraremos a Páscoa e cantaremos em voz alta numa sessão de Zoom, sem o cordeiro do Domingo de Páscoa; sem nos reunirmos, cada um em casa, mas juntos… porque “juntos nunca perdemos”.

Original: espanhol (25/3/2020). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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