Navidad Solidaria

Posted On 2021-12-30 In Aliança solidária, Projetos

Natal Solidário em La Plata: “Hoje posso dizer que senti Jesus a nascer no meu coração”

ARGENTINA, Natal Solidário, Maria Fischer •

“Hoje posso dizer que senti Jesus a nascer no meu coração”, lê-se numa story de Instagram do Natal Solidário 2021 em La Plata. Testemunho de um dos jovens que saiu, na Véspera de Natal, para as ruas de La Plata para partilhar a alegria do Natal com aqueles que lá estão, para transformar o Natal daqueles que estão sozinhos. —

Navidad Solidaria“Depois de caminhar pela cidade e ver todas as realidades que Jesus quis trazer ao meu encontro, hoje estou feliz e alegre por ver no outro, no irmão, no solitário e no desamparado uma clara necessidade de amor. O que, creio eu, só pode ser satisfeito com Jesus”, diz Geronimo Donati.

“A minha experiência no Natal Solidário foi bela. Com o meu grupo fui à Clínica Infantil, ao DDI (Polícia Judiciária) na Rua 61, a uma farmácia na Rua 12 e ao Sanatório Argentino. Conhecemos algumas pessoas muito amigáveis com as quais pudemos passar muito tempo a conversar. Era evidente que alguns deles precisavam dessa companhia, pois estavam sozinhos no Natal por causa do seu trabalho.

A verdade é que enche a alma ver que, com um simples gesto, se pode alegrar a noite de alguém que não pode passar o Natal com a sua família. Natal Solidário é uma experiência que todos deveriam ter para desfrutarem de um tipo diferente de noite”, diz Maximiliano Giannota.

Durante 20 anos, na Véspera de Natal, um grande grupo de jovens reúnem-se à 1h30 no Santuário de Schoenstatt na cidade de La Plata, para participar no Natal Solidário.

São motivados pela intenção de levar a alegria do Natal a todos aqueles que, por muitas razões, não o podem experimentar com os seus entes queridos, seja porque estão sozinhos, seja porque estão numa situação de rua, porque estão doentes num hospital, ou porque têm um horário de trabalho e não podem estar com as suas famílias.

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A origem do Natal Solidário

Navidad SolidariaO Natal Solidário começou no meio dos momentos de grande incerteza e desespero da crise de Dezembro de 2001. Por toda a Argentina, os saques foram notícia e retrataram a tragédia de um país mergulhado na pior crise económica da sua história recente. Actos de vandalismo e manifestações de decomposição social chegaram mesmo a pequenas lojas e restaurantes. O então presidente, Fernando De la Rúa, demitiu-se e, nesses sete dias de pilhagem, sete pessoas foram mortas.

Naquela situação em que reinavam a desilusão e a angústia pelo futuro, um grupo de 20 jovens do Movimento de Schoenstatt decidiu dar um sinal de que algo diferente poderia ser feito, porque mesmo no meio de grandes crises, ainda é Natal e Jesus renasce, a meio da noite e numa manjedoura, para dar esperança e alegria àqueles que sofrem.

Hoje, 20 anos depois, esse grupo cresceu para mais de 200 membros pertencentes a diferentes comunidades religiosas e Movimentos juvenis da Arquidiocese de La Plata, para viver esse mesmo espírito de ser comunicadores da alegria do Natal e “Testemunhas da Esperança”. Todos os dias 24 de Dezembro vão a hospitais, praças, postos de serviço, esquadras de polícia, postos de bombeiros, paragens de autocarros, instalações comerciais na cidade, e serviços de permanência, para partilhar fraternalmente um gesto de proximidade com um panettone, uma pagela, e um momento de diálogo.

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Véspera de Natal na rua

Na madrugada de 25 de Dezembro de 2021, formaram-se grupos de 5 ou 6 pessoas entre os participantes, que caminharam ou conduziram por diferentes partes da cidade e arredores para levar uma mensagem de paz e solidariedade.

Uma vez que cada grupo terminou o percurso, por volta das 5h30 da manhã, todos se reuniram novamente no Santuário de Schoenstatt para partilhar um testemunho do que tinham realizado e para concluir com a Missa de Natal ao amanhecer, que foi presidida pelo Bispo Auxiliar Jorge E. González.

Entre os participantes do Natal Solidário está Seba Iakonis, que desde há vários anos tem vindo a gravar o movimento dos jovens de La Plata e posta-o no seu canal YouTube com uma síntese de como é vivido o amanhecer do 25 de Dezembro. Ele explica que “sai-se ao encontro daqueles que estão a passar por um Natal solitário”. Porque o Natal é o nascimento de Jesus, a chegada de um sinal de esperança, luz e alegria para o mundo e nós queremos levar essa mensagem de alegria a todos.

As recordações dos primeiros

Navidad SolidariaO Padre José María Iturrería, que, como jovem estudante universitário, esteve presente no início, diz que “saímos para transmitir uma mensagem de esperança, que há um futuro possível, que nem tudo está perdido, porque Jesus nasceu de novo”. Partilhar um panettone, uma pagela ou um momento fraternal, mesmo em tempos de crise, é um sinal de que a alegria pode ser comunicada mesmo nas situações mais difíceis. Lembro-me de parar os autocarros e de confundir os condutores porque em vez de pedirmos um bilhete, dissemos-lhes “Feliz Natal! Queremos dar-te um panettone e celebrar contigo”.

Carlos Fiorucci, outro membro do início, diz-nos que “Quando tinha 19 anos, em 2002, participei no meu primeiro Natal Solidário. Nessa altura éramos cerca de 40 jovens com alguns padres. O melhor dessa experiência foi ver como um gesto tão simples mudou tanto para aqueles que não podiam passar o Natal com as suas famílias. E nesse dia tive o primeiro clique para compreender que a mudança começa com cada um de nós, que não devemos esperar que os outros mudem a realidade, mas que temos de ser os protagonistas. Lembro-me de momentos de grande emoção, de pessoas que não esperavam partilhar um panettone com alguém naquela noite porque tinham de trabalhar. Agora que tenho 38 anos de idade e tenho duas filhas, dou muito mais valor ao que costumávamos fazer do que antes. Não sair para “festejar” com amigos nessa noite, para poder dar esse gesto importante àqueles que não podem ver os seus filhos, o seu parceiro, os seus irmãos porque têm de trabalhar. Foi uma escola para a vida, que me deixou amigos e uma marca muito importante”.

Tome, leve-o a outra pessoa

Navidad SolidariaSofi Andrade, uma jovem estudante universitária que participa há alguns anos, diz-nos: “Antes de ouvir falar do Natal Solidário, não via grande interesse em tresnoitar no Natal. Em 2019, falaram-me desta iniciativa, que iriam realizar uma reunião prévia para fazer presépios que seriam dados a pessoas em situações de rua, e eu não hesitei em ir à actividade. Não conhecia quase ninguém, mas encontrei pessoas muito humanas que queriam fazer algo pelos outros. O dia 25 chegou ao amanhecer e eu fui ao Santuário de Schoenstatt. Havia muitas pessoas, lembro-me que elas explicaram a dinâmica de como tínhamos de conduzir, por isso formei um grupo com pessoas que não conhecia e fizemos o percurso de carro.

O nosso primeiro ponto foi o terminal de autocarros e lá conhecemos muitos sem-abrigo. Ficámos muito tempo a conversar e a partilhar coisas de Natal para que pudessem desfrutar. O que mais me impressionou foi que, quando íamos embora, deixei um saco com panettone e outras coisas a um rapaz e ele disse “leve-o a outra pessoa”. Depois pensei: quão incrível, aquele que tem menos, pensou em alguém que está na mesma situação, e em vez de ficar com o panettone, disse-me para o levar a outra pessoa.

Carrego essa atitude no fundo do meu coração, que dá sentido ao Natal e à vida. Dá-me muita esperança.

Deparamo-nos com a realidade de ver pessoas a dormir nas ruas e a não terem nada para comer

Entre os vários testemunhos do que o Natal Solidário deixou para trás, Martín Cheves disse: “Quero partilhar convosco a minha experiência do Natal Solidário: normalmente dividimo-nos em grupos e os membros do meu grupo eram: Agustina Celentano, Matías Mariescurrena, Agustín Olavarría, Estefania Ojeda, Paola Silva e Yessica Silva.

Foi uma noite de aprendizagem e risos, de ouvir cada trabalhador que fomos visitar numa noite em que poderiam querer passar tempo com as suas famílias ou descansar tranquilamente em casa, mas não podem. Também nos deparámos com a realidade de ver pessoas a dormir nas ruas e a não ter algo para comer num feriado como o Natal; contudo, o nosso grupo não ficou à margem, mas fomos directos ao assunto: ajudar a dar-lhes um panettone, amêndoas caramelizadas e alguns pudins para que tenham algo quando acordarem e tenham esperança de que a dada altura na vida isso mude ou melhore. Ouvimos especialmente os outros, acompanhamos as pessoas nos bons e maus momentos”.

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A presença de Jesus vê-se e sente-se em cada coração com que nos cruzamos e entre nós

Navidad Solidaria“O Natal Solidário é um testemunho muito concreto do que Deus fez connosco, dando-nos pessoas que se preocupam quando precisamos de algo. Vai ao encontro de pessoas que estão sozinhas para que se sintam acompanhadas por este Jesus que nasceu e que quer chegar a todos.

Jesus é uma criança, e como Maria O trouxe até nós, Ele precisa que O levemos até aos outros.

No Natal Solidário, a vinda de Jesus aos nossos corações vive-se à flor da pele à medida que encontramos o sorriso e a gratidão dos nossos irmãos e irmãs na rua. A presença de Jesus vê-se e sente-se em cada coração com que nos cruzamos e entre nós .

Enchamos os nossos corações de Esperança levando Jesus ao encontro dos outros, tal como Deus no-l’O deu a nós através de Maria e das pessoas que, na nossa caminhada, foram instrumentos fiéis do seu Amor e Paz, dando-nos a Esperança de que, juntamente com Ele, tudo é possível.

Um Feliz Natal a estes 20 anos de Natal Solidário”, comentou Juan Martin Dagostino.

“O Natal Solidário não é uma entrega de guloseimas de Natal, nem uma saudação espontânea, tão espontânea como qualquer outra. É um encontro genuíno e sincero, onde a surpresa dos destinatários se transforma em alegria… Como crianças abrindo presentes, talvez” disse Seba Iaconis no Instagram de Natal Solidário. “E talvez haja corações endurecidos que não se abrem ao encontro connosco, mas o gesto, o presente e a saudação podem deixar várias coisas a ressoar em qualquer coração”.

Natal Solidário: “Hoje posso dizer que senti Jesus a nascer no meu coração”.

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Colaboração em destaque: Pe. José María Iturrería, La Plata, Argentina


Original: espanhol (29/12/2021). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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