Posted On 2015-01-04 In Francisco - iniciativos e gestos

Quarto 201

Pe. Hugo Tagle. Quarto 201: Este é o número do quarto do Papa Francisco, na Casa Santa Marta. Talvez, já nos tenhamos habituado à sua opção por um estilo de vida austero, numa casa de hóspedes. Mas, as suas ocorrências, fugas ao protocolo, frases afiadas como facas, surpreendem-nos e desconcertam-nos positivamente, dia a dia. Com o Papa Francisco iniciou-se, sem dúvida, um caminho eclesial que, não tem volta atrás. Desde a sua eleição como Sucessor de Pedro, a Igreja e, Ela na sua relação com o mundo, não serão as mesmas.

Continua a aparecer com altas quotas de popularidade e simpatia, coisa difícil de manter no complexo mundo das comunicações. Está longe de o procurar ou de se avaliar por sondagens. Isto é o sinal de que o seu estilo supre uma carência; enche um vazio que afastava os fiéis da Igreja, a passos de gigante. O Papa Francisco não fez mais do que, o que ele gosta e deve fazer: servir a Igreja, ser esse “pastor com cheiro de ovelha” do qual falou em numerosas ocasiões; tornar carne o que se prega às pessoas. O Papa serve-se da Luz de Cristo e, de caminho, coloca a fasquia alta àqueles que pretendam prestar um serviço público, não somente dentro dos círculos eclesiais.

O Papa semeou o ano, com acontecimentos notáveis, de profundo significado humano. Começando com a peregrinação à Terra Santa e o seu encontro com o Patriarca Bartolomeu I, no qual, assinaram uma declaração conjunta pela unidade das duas Igrejas quase, dez séculos depois, do Cisma entre o Oriente e o Ocidente. O seu carinhoso abraço ao Rabino e a um líder muçulmano, ao terminar a sua oração no Muro das Lamentações, em Jerusalém, criando com este gesto, um novo marco nas relações entre as três religiões monoteístas. A sua viagem à Turquia, na qual, nos convidou a aproximarmo-nos do mundo muçulmano, ao mesmo Deus de Abraão, Isaac e Jacob, com a consciência daqueles que, fazem de Deus, o centro das suas vidas, não poderem brigar entre si, nem usá-l’O a Ele como desculpa para matar. “As religiões devem ser fonte de paz e, não de discórdia”, disse.

O Sínodo da Família assinalou outro grande marco, abrindo a uma reflexão partilhada, no desafio que significa incluir a tantos que se sentem afastados da Igreja e feridos n’Ela. Uma reflexão conduzida “pelo Espírito Santo e pela mão firme do Sucessor de Pedro”, como o disse o próprio Santo Padre, para, assim, evitar suspeitas e receios mal-intencionados.

O Papa Francisco tornou realidade o seu chamamento de ir às “periferias existenciais” da vida, sair ao encontro dos abandonados, dos feridos, dos desanimados e marginalizados.

As suas boas intervenções na procura do restabelecimento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, ao finalizar o ano, são um novo sinal de prova da sua prudência, sabedoria, valentia e notável dom de comando. Francisco dedicou-se ao que lhe compete: ser pastor da Igreja, que acolhe, compreende, anima e cura. A sua palavra ultrapassou, em muito, as fronteiras eclesiais para ser assumida e apreciada por sectores, secularmente, distantes e cépticos em relação a Ela. O Papa Francisco foi o homem certo, no momento e lugar certos.

O seu discurso, acompanhado com eloquentes sinais de proximidade e calor, confirma uma grande verdade:” A rigidez é sinal de fraqueza”, como ele mesmo disse. Não é, a partir, do enclausuramento numa torre de cristal, julgando o mundo, a partir da unilateralidade na defesa de, apenas, alguns aspectos da moral, que se presta serviço ao Homem. Tudo isto, finalmente, revela falta de fé, vaidade pura, tática malévola que ergue cortinas de fumo e omite ou, silencia, outros grandes temas que bradam aos céus como o são a pobreza extrema, a desigualdade, o desrespeito pelos direitos humanos, a corrupção, os abusos laborais, o abuso de menores e da mulher, os danos ao meio ambiente, as situações de injustiça que sofrem tantos homens, mulheres e crianças no mundo.

Como foi assinalado por um cronista de um jornal europeu, há umas semanas, um bom exemplo do seu engenho para captar a atenção da opinião pública deu-se na sua recente visita ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo: “O forte discurso foi interrompido, constantemente, pelos aplausos dos Eurodeputados. Mas, não de todos, ao mesmo tempo. Quando atacava o sistema económico mundial, os privilégios e as castas do poder, um sector aplaudia até mais não e, o outro calava-se ou, fazia-o com timidez. Mas, quando falava a favor do “respeito pela vida desde o momento da concepção”, os aplausos invertiam-se.

O perigo não está no Papa. Está numa audiência que, parecia querer escutar só o que lhes convém e, não, o que lhes é incómodo.

No Papa Bergoglio não têm espaço duas leituras. Mostrou-se de uma só peça, consequente e congruente. Citou o amplo e rico leque de temas eclesiais, na sua genuína extensão, recordando, assim, que à Igreja “nada do que é humano Lhe é alheio” (Gs 1); que a mensagem cristã abarca o Homem integral, o Homem todo e todos os Homens.

Fonte: http://phugotagle.blogspot.com/2014/12/habitacion-201-sobre-el-papa-francisco.html

Com autorização do autor

Original: espanhol – Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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