FRANCISCO NAS PERIFERIAS, Aica / mfi •
“Jesus sabe tudo sobre nós e ama-nos tal como nós somos, lavando os pés a todos”, disse Francisco aos rapazes de diferentes idades e etnias pertencentes à prisão juvenil “Casal del Marmo”. Regressou a este lugar dez anos após a sua última visita, que foi em 2013,quinze dias após a sua eleição. —
Na Quinta-feira Santa o Papa Francisco deslocou-se aos arredores de Roma para celebrar a Missa da Última Ceia do Senhor na prisão juvenil de Casal del Marmo, onde levou a cabo o rito tradicional do Lava Pés de doze dos jovens que ali se encontram.
A diversidade caracterizou o grupo, com idades compreendidas entre os 14 e os 25 anos, dez jovens e duas jovens, dois deles de origem sinti, os outros da Croácia, Senegal, Roménia e Rússia, representando várias tradições religiosas.
O Papa visitou anteriormente a instituição Casal del Marmo em 2013, logo após tomar posse, quando escolheu celebrar ali a liturgia da Quinta-feira Santa “A Última Ceia”. Ao longo do seu pontificado, Francisco visitou lugares simbólicos de sofrimento, tais como centros de refugiados, centros para doentes ou para jovens necessitados, no dia em que começa o Santo Tríduo da Páscoa. Uma tradição que Jorge Mario Bergoglio sempre manteve como Arcebispo de Buenos Aires, frequentando lugares no meio das “periferias existenciais”.
Um coração nobre para todos
Na sua Homilia proferida sem um texto preparado, o Papa centrou o seu pensamento no Evangelho da liturgia que narra quando Jesus, um dia antes da sua Paixão, lava os pés dos seus discípulos num gesto de humildade e serviço, algo que, na altura, teria sido feito por um escravo.
Francisco explicou quão bela seria a vida se imitássemos este gesto e espírito na nossa vida diária, ajudando-nos uns aos outros, em vez de seguirmos formas mundanas de enganar ou tirar partido uns dos outros. Ajudar-se mutuamente, mesmo através de simples gestos humanos, vem de um coração nobre, observou, e Jesus hoje quer ensinar-nos e encorajar-nos a ter esta “nobreza de coração”.
Podemos desanimar ou envergonhar-nos daquilo que carregamos dentro de nós, observou o Papa, mas Jesus sabe tudo sobre nós e “ama-nos tal como nós somos”, lavando os pés de todos. “Jesus nunca tem medo das nossas fraquezas, porque já as pagou”, assegurou Francisco: “Ele só nos quer acompanhar, quer levar-nos pela mão para que a vida não seja tão difícil para nós” e acrescentou que nunca devemos ter medo das nossas fraquezas e ter a certeza de que o Senhor quer acompanhar-nos no caminho, “para nos levar pela mão para que a vida não seja tão difícil para nós”.
Chamados para nos ajudarmos uns aos outros
Em conclusão, o Santo Padre explicou que o seu gesto de lavar os pés dos doze jovens presentes não é apenas um gesto folclórico, mas um sinal de como devemos estar uns com os outros, ajudando-nos uns aos outros, mostrando amor e respeito uns pelos outros. a imensa dignidade de todos, mesmo nas nossas fraquezas como pecadores. Se adoptarmos esta atitude e espírito de serviço, disse ele, poderemos aliviar tantas injustiças no nosso mundo. E prosseguiu, recordando-nos que estar desempregados, em famílias desfeitas, lutando para sobreviver, sucumbindo às nossas fraquezas, é algo que pode acontecer a cada um de nós a qualquer momento.
O Senhor lembra-nos, através da lavagem dos pés, do Seu amor sem limites por nós, acrescentou o Papa, independentemente da nossa situação e fraquezas, pois Ele está sempre ao nosso lado, nunca nos abandonando.
No final da Missa, o Santo Padre abençoou uma grande placa inaugurando a capela dedicada ao Beato Padre Pino Puglisi, o famoso pároco siciliano que foi morto por desafiar o crime organizado.
Francisco cumprimentou os jovens reclusos na penitenciária e recebeu como presente uma cruz que tinham feito durante o seu curso de carpintaria, bem como biscoitos e pastelaria feitos pelos jovens, e presenteou o director e o pessoal de Casal del Marmo com Terços e ovos de Páscoa de chocolate.
A quem lavaria os pés se estivesse na Quinta-feira Santa em …?
Na semana passada, durante a catequese na Casa del Niño em Florencio Varela, Gabriela Sarquis contou às crianças sobre este costume do Papa Francisco, que não celebra a Missa da Quinta-feira Santa em São Pedro, mas numa prisão, num hospital, entre refugiados… Enquanto as crianças ficavam impressionadas com um Papa numa prisão, pensei: a quem lavaria os pés se estivesse na Argentina na Quinta-feira Santa, e não em Roma? Tenho a certeza: 12 destas crianças da Casa del Niño, uma daquelas cuja mãe está na prisão por delitos de droga, uma daquelas que nunca conheceu o seu pai, uma daquelas que perdeu a sua mãe por causa do Covid, uma daquelas que nunca comeu um tomate na sua vida, dizendo: “Não importa qual seja a nossa situação e fraquezas, Ele está sempre ao nosso lado, Ele nunca nos abandona…”.
Casa del Niño, Catequese da Semana Santa
Original: castelhano (8/4/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
