PARAGUAI, II Congresso do Centro de Protecção de Menores da América Latina, comunicado de imprensa •
“Estou convosco, porque o primeiro passo desta peregrinação penitencial é renovar o meu pedido de perdão e dizer-vos de todo o coração que estou profundamente magoado. Sinto-me chamado a assumir a responsabilidade por todo o mal que alguns padres, bastantes, têm feito. Por causa do abuso sexual de crianças, e perante este mal ultrajante, a Igreja ajoelha-se perante Deus e implora perdão pelos pecados dos seus filhos. A Igreja está consciente destes danos e não daremos um passo atrás. Chamai-vos a vós próprios Apóstolos da Prevenção. Prevenir é um acto de amor, Vão em frente! —
Com esta forte mensagem de apoio do Papa, partilhada através de um vídeo, a todos os membros do Centro Latino-Americano de Protecção de Menores, e partilhada com os mais de 400 participantes de mais de 20 países da América Latina e Europa, o II Congresso desta organização internacional, que teve início na passada terça-feira, 14, na capital do Paraguai, chegou ao fim.
A importância da prevenção na Igreja
O evento, que se baseou em pilares como: cuidar, informar e comuniccar, começou também com a leitura da mensagem do Sumo Pontífice, que pediu que fosse dada prioridade à protecção das vítimas de abuso na Igreja. Também com a afirmação do Cardeal paraguaio Adalberto Martinez, sobre a necessidade de a Igreja reconhecer que não agiu prontamente, de forma responsável e que precisa de pedir perdão. D. Francisco Javier Pistilli, Bispo de Encarnación e Chanceler da Universidade Católica de Nossa Senhora da Assunção, recordou a importância da prevenção na Igreja, especialmente no mundo universitário.
O Dr. Daniel Portillo Trevizo, Director do Ceprome Latinoamericano, disse que a dignidade das crianças e adolescentes e as acções para a respeitar na Igreja, requer um compromisso para criar uma cultura de cuidados suficiente que possa garantir a segurança da infância.
Pe. Daniel Portillo
A importância da Pastoral do Cuidado
Durante este encontro, vários especialistas em diferentes assuntos analisaram, reflectiram e debateram sobre o papel da Igreja face ao abuso de crianças nas suas instituições. A importância de uma Pastoral do Cuidado. Também o dever de informar, a transparência na comunicação. E especialmente o de cuidar e acolher as vítimas, os sobreviventes de abusos, porque nenhum deles é justificável, mas é evitável. Daí o nome “Apóstolos da Prevenção”.
Um deles foi o Cardeal Seán Patrick O’Malley, Arcebispo de Boston, EUA e Assessor do Papa Francisco, que disse que na Igreja há sinais de pecado profundo, crime e culpa, de doenças que ameaçam a vida e de óbvios fracassos humanos e institucionais, e ao mesmo tempo há pessoas que reconhecem a culpa e trabalham por mudanças fundamentais.
Para ele, a prevenção na Igreja na América Latina é mais do que a implementação de um Código de Conduta, um Protocolo de Prevenção ou uma via de acção que se centra no comportamento sexual. A prevenção do abuso está inserida na cultura mais ampla dos cuidados e do bom tratamento, que deve questionar a nossa forma de nos relacionarmos uns com os outros, de construirmos comunidade e de vivermos verdadeiramente a sinodalidade.
O’Malley, Presidente da Pontifícia Comissão para a Protecção de Menores, PCPM, também destacou o papel de Francisco, que, segundo ele, se tornou o primeiro Papa na era moderna a tomar medidas contra um dos maiores males relacionados com o abuso de menores dentro da Igreja: o encobrimento.
Recordou também que foi ele quem criou a Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores e quer que esta seja uma presença concreta, eficaz e eficiente ao lado das autoridades eclesiásticas locais que têm a responsabilidade desta Pastoral ou serviço, para enfrentar os abusos, para prevenir, acompanhar e ajudar aqueles que foram afectados por abusos na sua busca de justiça.
“Precisamos da voz daqueles que foram feridos na sua dignidade”
Já durante a sua dissertação, o Presbítero Dr. Daniel Portillo Trevizo, Director do Centro para a Protecção de Menores, Ceprome Latino-americano considerou que a série de actos transgressores são para a Igreja, uma aprendizagem dolorosa, que evidencia o esquecimento do Evangelho e o facto de não ter sido capaz de vislumbrar o risco, nem de ouvir o grito das vítimas. A Igreja deve reconhecer com pesar a sua negligência, examinar a sua proximidade às situações humanas mais trágicas, avaliar se a sua missão actual no mundo protege os seus paroquianos ou, pelo contrário, é passiva face a actos de injustiça à dignidade humana. Para ele, os abusos não vieram para matar a Igreja, mas para matar aquilo que não é propriamente dela. Ele concluiu assegurando que a prevenção é a força mais formidável, universal e misteriosa, inscrita no coração do Homem, capaz de transformar o mundo.
O Dr. Hans Zollner, padre jesuíta, teólogo e psicólogo, professor na Universidade Gregoriana, disse que para compreender melhor “precisamos da voz daqueles que foram feridos na sua dignidade e que não experimentam a atenção e a misericórdia que justamente esperam da Igreja”. E partilhou uma imagem da reunião da Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores com o Papa Francisco. Foi a obra de um Cristo crucificado a chorar, mas dentro de uma árvore com folhas que significavam vida, esperança. Uma obra enviada por um sobrevivente ao Papa Francisco.
O teólogo Zollner recordou que as vítimas de abusos querem ver na Igreja uma atitude de empatia, de proximidade, “estar abertos com os corações e não apenas com os olhos e ouvidos, essa é a Igreja que devemos ser”.
O Padre Andrew Small, secretário da Pontifícia Comissão para a Protecção de Menores, partilhou a experiência deste organismo que trabalha directamente com as vítimas de abusos, promovendo a formação em prevenção de abusos para os líderes da Igreja Católica, e o desenvolvimento de políticas e directrizes sobre a prevenção de abusos.
Por seu lado a Dra. Patricia Espinosa, teóloga, membro do Conselho Latino-americano do Ceprome e do Conselho Nacional para a Protecção de Menores da Conferência Episcopal Mexicana, explicou o Programa Memorare da Comissão Pontifícia. E o nome “Memorare” porque eles querem incluir e abraçar todos aqueles que vêm como o faz a Virgem Maria. O documento explica que a missão da Comissão Pontifícia é proteger as crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis dentro e fora da Igreja, com enfoque na Igreja local, proporcionar formação contínua na protecção de menores e pessoas vulneráveis, desenvolver códigos de conduta e responder apropriada e prontamente a alegações de abuso.
O próximo Congresso do Ceprome Latino-Americano, em 2024, terá lugar no Panamá.
Cardeais O’Malley e Martinez
Original: castelhano (17/3/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
