Mediterráneo

Posted On 2022-02-26 In Igreja - Francisco - movimentos

Mediterrâneo fronteira de paz

ITÁLIA, Agência Fides •

Na quarta-feira 23 de Fevereiro, teve início em Florença o encontro único de Bispos Católicos e Presidentes de Câmara dos países mediterrânicos para atestar e repropor o papel do Mar Mediterrâneo como “fronteira de paz”, na sequência das intuições proféticas cultivadas durante os anos da Guerra Fria pelo grande Presidente da Câmara Florentino Giorgio La Pira. O Encontro começou com um discurso do Cardeal Gualtiero Bassetti, e terminará no Domingo 27 com a Santa Missa celebrada pelo Papa Francisco na Basílica de Santa Croce. —

Durante os dias da Conferência, Patriarcas e Bispos Católicos das Igrejas presentes nos países ribeirinhos do Mar Mediterrâneo participarão também em reuniões sobre Testemunhas da Fé ligados à história do catolicismo florentino no século XX, tais como Giorgio La Pira, Cardeal Elia Dalla Costa, Don Lorenzo Milani e Don Divo Barsotti. Na noite de sexta-feira, 25 de Fevereiro, na Basílica da Abadia de San Miniato al Monte, haverá um momento de oração em memória dos mártires e das testemunhas da fé e da justiça.

Patriarcas e Bispos da Síria, Turquia, Iraque, Líbano, Egipto, Tunísia, Argélia, Marrocos e Terra Santa, entre outros, participarão nas jornadas de Encontro e de oração. Na Basílica de Santa Maria Novella, onde os Bispos se reunirão, haverá Adoração Eucarística contínua ao longo de todo o período do Encontro. Sessenta e cinco cidades de 15 países em três continentes (Europa, Ásia, África) estarão representadas nas reuniões reservadas aos Presidentes de Câmara.

Num momento dramático

O Encontro, salientou o Presidente da Câmara de Florença Dario Nardella, “cai num momento dramático, refiro-me às tensões na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, espero que um apelo sincero à paz surja de Florença”, para ser dirigido sobretudo a uma Europa “muitas vezes distraída, que deve prestar mais atenção ao que está a acontecer no Mediterrâneo, não pode voltar as costas”.

Numa fase histórica em que os eixos económicos e geopolíticos do mundo parecem ter-se deslocado para outras áreas do globo, o espaço mediterrânico continua a ser negligenciado pela Palestina, a terra onde Cristo nasceu, morreu e ressuscitou. Numa praia mediterrânica na Líbia, teve lugar uma das mais impressionantes histórias de martírio dos últimos anos, a dos vinte cristãos coptas egípcios e do seu colega de trabalho ganês, massacrados por carrascos jihadistas em Fevereiro de 2015.

O Mediterrâneo continua a ser o lugar onde destinos e comunidades de fé – judeus, cristãos e muçulmanos – se entrelaçam, reconhecendo a sua descendência comum do Patriarca Abraão, Pai de todos os crentes. As intuições proféticas de Giorgio La Pira, e as “Conferências Internacionais para a Paz e a Civilização Cristã” por ele promovidas entre 1952 e 1956, olharam para aquela raiz Abraâmica comum. Intuições que hoje, no contexto marcado por novas crises e novos conflitos, ressurgiu por exemplo no Documento sobre a Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Coexistência Comum, assinado a 4 de Fevereiro de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e pelo Xeque Sunita Ahmed al Tayyeb, Grande Imã de Al Azhar.

Um lugar de desigualdade e discriminação

Entretanto, o Mediterrâneo tornou-se um lugar de desigualdade e discriminação, uma área assolada por guerras fratricidas, pela violência que produz – juntamente com outros factores como a pobreza, corrupção e sectarismo – o fenómeno da migração em massa, que a partir das margens sul do Mediterrâneo procuram chegar aos países europeus.

O Papa Francisco, no seu magistério, teve sempre presente que os problemas das comunidades só podem ser resolvidos através de abordagens que tenham em conta as interconexões globais. Já no seu discurso ao Parlamento Europeu a 24 de Novembro de 2014, o Papa tinha definido como intolerável o facto de “o Mar Mediterrâneo se tornar num grande cemitério”, reconhecendo que a ausência de apoio mútuo no seio da União Europeia para enfrentar a emergência epocal dos fluxos migratórios corria o risco de “encorajar soluções particularistas para o problema, que não têm em conta a dignidade humana dos imigrantes, encorajando o trabalho escravo e as tensões sociais contínuas”. No que diz respeito aos conflitos que perturbam o Médio Oriente, o ponto de vista a partir do qual a Igreja olha para todas as passagens sangrentas dos acontecimentos do Médio Oriente só pode ser o das comunidades cristãs espalhadas pelos países árabes. Mas o Pontífice e a Santa Sé nunca ofereceram uma base de apoio aos círculos que recorrentemente exploram as desgraças e perseguições dos cristãos no Oriente para fomentar sentimentos islamofóbicos indistintos. Todos os sinais dirigidos pelo Papa às comunidades islâmicas olham para a multidão de crentes no Islão como um companheiro indispensável do destino para procurar soluções estabilizadoras para a paz e para tirar oxigénio também às manifestações mais virulentas da patologia jihadista.

Original: italiano (24/2/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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