Advento

Posted On 2023-12-08 In Coluna - P. José María García

Advento: a esperança constrói-se

PRIMEIRO DOMINGO DE ADVENTO – HOMILIA DO Pe. JOSÉ MARÍA GARCÍA, MADRID •

“O tempo do Advento é um tempo de esperança como projecto de Deus, um projecto de Deus em nós”, disse o Padre José María García, na Homilia do primeiro Domingo do Advento, na Missa do Santuário de Serrano, em Madrid, a 3 de Dezembro de 2023. —

Ele encoraja-nos a prepararmo-nos, dia após dia, para um Natal cada ano diferente, porque a nossa vida é diferente, olhando para Maria, que não permaneceu numa virgindade fechada, mas estave pronta a “contaminar-se” sendo mãe, a mãe de todos nós.

Adviento

Missa, 3/12/2023

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Partilhamos aqui a Homilia na íntegra. Refletir, responder, comentar…

A Leitura deste Primeiro Domingo do Advento começa com uma palavra, com uma pequena frase, que de algum modo marca a nossa fé cristã e também este tempo especial de preparação para o Natal que se aproxima: “Tu, Senhor, és o nosso Pai”.

“Tu, Senhor, és o nosso Pai”

É uma profissão de fé que fazemos, o confessarmos que acreditamos num Deus, que não só existe, mas num Deus em quem podemos confiar porque é nosso Pai. Essa paternidade, que de alguma forma se manifesta na vida que temos, deve-se ao facto de sermos filhos do nosso Pai. Como as leis agora dizem que, embora possamos divorciar-nos, separarmo-nos, não há nenhuma lei que nos separe dos nossos filhos, que nos separe dos nossos pais. Podemos gostar mais ou menos deles, mas podemos ter para com eles uma atitude de reconhecimento, de gratidão por essa paternidade que recebemos. E essa paternidade que de alguma forma nos é dada é que nos dá identidade, mas também nos dá a confiança para olharmos para a frente, neste tempo que estamos a começar, que é a esperança.

O ser humano é o único ser que tem esperança, todos os outros vivem de acordo com a sua natureza, logicamente condicionados às nossas leis da natureza. Mas o ser humano, para além da sua natureza biológica, psicológica, emocional, tem esperança, ou seja, é um projecto de vida, um projecto que olha para a frente. E este tempo de Advento é um tempo em que a Igreja nos recorda precisamente isso, que a esperança é algo de identitário, é algo de substancial, mas é também uma tarefa, porque a esperança constrói-se.

A esperança constrói-se no dia a dia

A esperança que nós temos, a esperança que dá sentido à nossa existência, a esperança que de alguma forma nos permite enquadrar, emoldurar todos os nossos talentos, capacidades, relações pessoais, convivência, etc. Esta esperança constrói-se no dia a dia, é uma responsabilidade, é um dom de Deus sem dúvida, mas também, “Nada sem ti, mas nada sem nós”. A esperança realiza-se através de escolhas, através das nossas grandes opções de vida, e é por isso que este tempo de Advento é um tempo de esperança, somos convidados a construir, a purificar-nos na esperança. Mas uma esperança que sabemos que tem como fim aquilo para que Deus nos criou, que não é outro senão a felicidade, viver com Ele, em comunhão, para que a nossa existência atinja de alguma forma essa plenitude, que transcende para a alegria do coração, que dá sentido a tudo.

A esperança, nós cristãos, não a vivemos apenas para que a vida nos corra bem. Por vezes, não estamos bem, temos doenças, de repente um músculo falha, outro falha, cai um dente, todas essas coisas que, de alguma forma, se diria: como posso ser feliz com tantas doenças? Pois sim, porque tudo tem sentido. O sentido é o que torna a esperança verdadeiramente cristã, verdadeiramente esperança, tudo tem sentido. E o sentido é dado pelo nosso Pai, por isso aquela profissão de fé que ouvimos no início é o que sustenta a nossa esperança.

O poder de Deus está ao nosso serviço

Deus é fiel, Deus é TODO PODEROSO, o poder de Deus está ao nosso serviço, também porque Deus o quis e porque ele é o nosso Pai, deste projecto que cada um de nós é.

Queridos irmãos e irmãs: o tempo do Advento é o tempo da esperança, como um projecto de Deus, mas um projecto de Deus em nós, que conta connosco.

Voltamos mais uma vez, como fazemos todos os anos, a este tempo de Advento. De novo as luzes de Natal, os enfeites, etc., que de alguma forma também nos trazem uma certa alegria, mas diríamos que estamos na mesma situação: os presentes, as compras… todas essas coisas que nos tomam tanto tempo. Mas, e este é também o sentido, a Igreja diz-nos para estarmos vigilantes, atentos, não com medo, mas para que este tempo de esperança não vos passe ao lado. Viver este tempo de esperança.

Como é que fazemos isto?

Olhemos para a nossa vida real. Antigamente, penso que ainda se diz que estamos num tempo de boas esperanças, sobretudo as mães sabem disso, é o tempo das boas esperanças, o tempo da espera dos filhos, é um tempo de boas esperanças. Cada gravidez é um tempo de boa esperança, e o que nos é pedido na Igreja nesta regularidade, diríamos, neste novo ano, ser como um novo filho de Deus. -Não, eu sei o que está para vir”, é uma vantagem que temos sobre os pobres judeus, porque os judeus esperavam um messias guerreiro e uma criança nasceu num presépio.

Nós sabemos o que nos espera, Jesus vem ter connosco e vem ter connosco numa situação que é sempre a mesma, mas é sempre diferente, porquê, porque na nossa vida é diferente. Nós chegamos ao Natal de uma maneira diferente, pensem como é que chegam, não com medo, mas para que este novo presépio, esta nova Belém, este novo tempo de Natal, que o vivam como cada criança que nasce, que é sempre uma surpresa, não é, e cada uma é diferente, com certeza, e cada uma vem e é recebida da mesma maneira, porque a gravidez é a mesma, o destinatário é o mesmo, perdoem-me a expressão, mas as condições são diferentes. Porque se está numa idade diferente, numa situação familiar diferente, etc. E isso significa que cada criança, embora seja a mesma, é diferente!

Pois, passa-se mesmo Neste Natal que, sendo igual é diferente. O que é que o Senhor nos dá, como é que nos prepara para este tempo? Pois bem, essa é a nossa tarefa, preparar Belém, preparar o presépio, prepararmo-nos para o Natal, vendo o que o Senhor nos dá e é por isso que a Igreja nos diz sempre, é um tempo de escuta, é um tempo de discernimento, é um tempo de conversar em oração com o Senhor, sim, tudo isso é muito bom, mas temos de lhe dar um pouco de vida, se não, ficamos em conceitos puros, que são bons para um retiro, muito concentrados, mas se não, a vida, o dia a dia consome-nos.

Como a Igreja, que é muito sábia, porque é uma mãe, não só Deus é Pai, mas também nos deu uma mãe, a Igreja, que também nos diz: olha, olha, olha o que encontramos no presépio. Encontramos as atitudes que de alguma forma nos preparam para o nascimento de Jesus, que é sempre diferente. Sabemos quem vem: o filho de Deus, não o messias que vai dar um golpe de espada, dar um golpe ao leme e que vai mudar a história. Ele vai mudá-la a partir da simplicidade, da humildade, do pessoal que nos é dado no presépio.

Nossa Senhora sujou-se, foi ao encontro

O que é que nos é oferecido?

É-nos dado, antes de mais, quando nos aproximamos do presépio, alguém que nos acompanhará durante todo este tempo, que é a Mãe de Deus, que é Maria, cheia de graça. Para compreender esta esperança, cada um de nós precisa também da graça de Deus. Somos cheios de graça, todos temos a nossa sombra.

A Imaculada é Mãe, é virgem para ser Mãe. Nossa Senhora não permaneceu virgem, tornou-se mãe, para quê? Precisamente porque há uma esperança que se projecta na vida. De repente, o período da virgindade é fechar-se, encapsular-se, pôr-se numa crosta e dizer sou tão pura que não me sujo de modo nenhum. Não, a Virgem sujou-se a si própria, saiu ao encontro da sua prima Santa Isabel, dando sentido à sua virgindade.

E isso vale também para nós, por isso somos convidados, olhando para a Santíssima Virgem, a aproximarmo-nos da graça, da graça do perdão, durante este tempo de Advento; confessamo-nos, não pelo presépio, mas pelo que vem depois do presépio. A graça é sempre uma projecção, não é para uma ficha limpa, para nos pormos no Km 0, para ficarmos lá instalados. Não, é a graça, é a força de Deus para avançar, para sair com o Menino, seja para o Egipto, seja para visitar a sua prima onde quer que ela esteja.

A graça é sempre projecção, é esperança

A graça é sempre uma projecção, é uma esperança. A esperança vai sempre em frente, nunca olha para trás. Estamos gratos pela vida que tivemos, mas sempre a olhar para a frente.

Por isso, olhem sempre para a Virgem Santíssima, olhem para São José que foi um homem de palavra. Hoje temos de fazer muito discernimento, este tempo de Advento diz-nos sempre que temos de discernir, claro, porque hoje em dia caímos no palavreado e já não podemos confiar nas palavras, porque mudamos de opinião. Por isso, olhemos para os factos: São José não disse uma palavra, mas agiu de acordo com a palavra, por isso vamos discernir: que factos me acompanharam neste tempo em que me estou a preparar? Vejamos que actos estou a fazer, também para o nascimento em Belém, o nascimento de Jesus, como me mostra São José, que os actos valem mais do que as palavras.

As palavras que se acreditam são aquelas que se demonstram com actos. Lembrem-se que em Schoenstatt, a Mãe de Deus nos disse – não numa aparição, mas na nossa espiritualidade – mostra-me com obras que me amas. É muito fácil dizer eu amo-te, mas até colocarmos o prato de comida à frente da criança, não lhe mostramos que realmente a amamos, com actos, e São José era um homem de palavra.

Olhemos para os pastores que, com a sua humildade, se puseram à escuta e se puseram a caminho para servir. Quem? A uma pobre criança, a uma pobre mãe, à entrada de uma gruta. Não disseram: vamos ver, expliquem-me, mandem-me o certificado de que esta é a Mãe de Deus. Não, simplesmente ouviram e seguiram o seu caminho.

Caros irmãos e irmãs, o tempo do Advento é um tempo de esperança. É um tempo de esperança encarnada, é um tempo que, sendo o mesmo, é sempre diferente, porque é um tempo de esperança nova e é isso que nos permite olhar, não só com uma esperança confiante de que Deus é nosso Pai, mas olhar para o futuro como o espaço dessa esperança, onde a felicidade para a qual fomos criados, através da vida real, se vai realizar.

É por isso que é um tempo de conversão, é também um tempo de alegria: olhem para as mulheres grávidas, elas estão num estado de boa esperança, com dores, com incómodos, com todo ou muito incómodo, e no entanto ninguém lhes tira a alegria.

Por isso, este é um tempo em que a Igreja olha para si mesma, sobretudo nessa vocação de ser mãe, de ser gestora da esperança, que não é um conceito, mas é vida.

Essa vida está em cada um de nós, uma vida que é um dom de Deus, nosso Pai.

Uma pequena tarefa

Assumir a atitude da Santíssima Virgem, confessar-se no início deste tempo de Advento, para que a graça nos renove de alguma forma e nos permita olhar para a frente com confiança, sobretudo com esperança que nos permita envolvermo-nos, agir, mesmo que nos sujemos pelo caminho, porque é para isso que os confessionários estão preparados.

Queridos irmãos e irmãs, abençoado tempo de Advento e desfrutemos da maternidade da qual Deus nos faz participantes, que assim seja.

Reprodução da palavra falada. Transcrição: Vicky Ramírez Jou, Claudio Ardissone. Colaboração: Miguel Ángel Rubio

 

Áudio – Pe. José María García, na Homilia do Primeiro Domingo do Advento

 

Original: castelhano (6/12/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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