Posted On 2015-03-08 In José Kentenich

Quaresma: A viagem da semente – Parte 3

 

Sarah-Leah Pimentel. Os acontecimentos que tiveram lugar na Cidade do Cabo, África do Sul ao longo dos últimos dias são um ponto de partida para a nossa reflexão objetiva na terceira semana da Quaresma. Incêndios devastadores destruíram mais de 4.000 hectares de vegetação natural ao longo da cadeia de montanhas no extremo sul da África do Sul. O fogo começou de forma inesperada no meio da noite numa pequena parte da montanha perto da minha casa. Passados três dias, para onde quer que olhasse tudo o que se podia ver era fogo e muita fumaça. Depois de os bombeiros terem apagado as chamas e se terem extinguido as brasas fumegantes, as montanhas mais pareciam uma paisagem lunar desolada, do que a casa dos famosos “fynbos”[1].

No entanto, apesar dessa devastação, os botânicos estão lembrando-nos que os “fynbos” – A vegetação natural dessa área – só pode reproduzir-se, se for exposta ao fogo. É normal que os incêndios ocorram a cada 10-15 anos para permitir que a vegetação se renove. Também é uma forma natural de abate de plantas exóticas que não pertencem à área e condicionam o “fynbos”. Os ambientalistas preveem que essa mesma paisagem árida estará repleta de nova vida quando chegar a primavera, em setembro.

“As condições externas de crescimento são de todos os tipos e graus de dificuldades, contínuas batalhas interiores e exteriores”

Nas nossas vidas também, é à prova de fogo que se aprofunda a nossa fé e produz a esperança. Desastres, dificuldades e sofrimentos acontecem muitas vezes fora do nosso controle. Eles ocorrem de repente e ameaçam mudar completamente a paisagem das nossas vidas. Todas estas coisas ajudam a moldar a nossa espiritualidade. Assim como os contextos religiosos, sociais e políticos em que nos encontramos inseridos.

O Pe. Kentenich lembra-nos que na vida de cada cristão, iremos encontrar dificuldades e haverá batalhas para vencer. Cada vida tem o seu próprio sofrimento: relacionamentos cortados, doenças, dificuldades financeiras, batalhas espirituais, batalhas dentro de nós mesmos, deceções da vida, a solidão … Poderíamos perguntar-nos, porque precisamos dessas coisas, a fim de crescer na fé?

O sofrimento é um chamamento para reconhecermos a nossa fraqueza

Porque nós somos humanos e porque Deus nos conhece. Ele sabe que quando as coisas são fáceis, nós esquecemo-lo. Nós esquecemo-lo porque somos perfeitamente capazes de ir com a nossa autoconfiança. Mas então, quando, tal como a Jó, tudo é puxado debaixo dos nossos pés, é quando nos damos conta de que não somos auto-suficientes nem todo-poderoso. Nosso sofrimento é uma chamada a reconhecermos a nossa fraqueza. É na nossa fraqueza que estendemos a mão a Deus que nos fortalece. São Paulo expressa isto muito bem: “A minha graça [de Deus] é suficiente para você, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” Portanto, eu me gloriarei ainda mais das minhas fraquezas, para que o poder de Cristo habite em mim. “(2 Co 12: 9)

Esta explicação pode sugerir que Deus é um Deus cruel e egoísta, que tenta obter a nossa atenção, fazendo-nos sofrer. Nada poderia estar mais longe da verdade. Quando vemos o nosso sofrimento, à luz da Paixão e Ressurreição de Cristo, então torna-se um veículo de esperança, bem como as cinzas nas montanhas ao redor da Cidade do Cabo irão tornar-se o solo saudável para um belo espetáculo de uma nova vida e esperança uns poucos meses depois.

O sofrimento é transformado pela Cruz

O nosso pároco explicou que o nosso sofrimento é transformado pela Cruz. Cristo sofreu na cruz e o Seu sofrimento é que trouxe a todos nós a redenção e a vida eterna. A morte no Gólgota foi transformada em vida por toda a eternidade.

Da mesma forma o nosso próprio sofrimento é uma oportunidade para ser transformado pela graça de Deus e também é um incentivo. Jesus sofreu imensamente na Cruz. Ele morreu como um ser humano, com as emoções humanas, a dor humana e com todas as questões humanas. Jesus chama por Deus nas palavras que muitas vezes usamos quando nos sentimos completamente abandonados: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Mas, mesmo quando Ele se sentiu mais abandonado, Ele confiava no amor de Deus, de tal forma que as Suas últimas palavras foram: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Também nós, somos chamados a confiar-nos a Deus, apesar do sofrimento da nossa situação atual.

A promessa de Deus: Ele nunca nos vai dar algo que não podemos suportar

Deus não lhe deu um fardo que ele não podia suportar. Da mesma forma, as Escrituras dizem-nos o mesmo: “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar ” (1 Cor 10:13).

Reflexão: Quais são as cruzes que eu carrego? Quais são os incêndios que atravessam a minha vida e me deixam vulnerável? Quais são as batalhas internas de dúvida, dependência ou maus hábitos que eu combato? Nas minhas dificuldades eu fui capaz de confiar que Deus me vai proteger, ou Ele é culpado das coisas que deram errado na minha vida? Eu procurar ativamente Jesus nos meus problemas, ou esqueço-me que Ele percorreu este caminho antes de me mostrar o caminho?

Oração: Senhor, colocamos o nosso coração deiante da Vossa promessa de que nas nossas provações e dificuldades, você está sempre lá, dando-nos o que precisamos para superar o nosso sofrimento e para nos fazer crescer para uma nova vida convosco. “Meus irmãos, considerai como uma enorme alegria o estardes rodeados de provações de toda a ordem, tendo em conta que a prova a que é submetida a vossa fé produz a constância. Mas a constância tem de se exercitar até ao fim, de modo a serdes perfeitos e irrepreensíveis, sem falhar em nada. Se algum de vós tem falta de sabedoria, que a peça a Deus, que a todos dá generosamente e sem recriminações, e ser-lhe-á dada. Mas peça-a com fé e sem hesitar, porque aquele que hesita assemelha-se às ondas do mar sacudidas e agitadas pelo vento. Não pense, pois, tal homem que receberá qualquer coisa do Senhor, sendo de espírito indeciso e inconstante em tudo” (Tiago 1: 2-8)

[1] NT: é uma forma de matagal ou vegetação natural que aparece numa pequena área do Cabo Ocidental da África do Sul, principalmente em áreas de chuvas de inverno costeiras e montanhosas com um clima mediterranico. A fynbos é conhecida pelo seu grau excepcional de biodiversidade e endemismo.

Original: Inglês. Tradução: José Carlos Cravo, Lisboa – Portugal

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