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Posted On 2021-11-14 In Vida em Aliança

Fazer o Caminho com achaques

ESPANHA, Paz Leiva •

Menos reuniões e mais convívio. Foi o que foi decidido pelo segundo Curso da União de Famílias de Espanha no início deste ano de actividades 2021 – 2022. —

Aproveitando o facto de este ano, 2021, ser um Ano Santo Compostelano (como sempre quando a festa de Santiago cai num Domingo), decidimos aproveitar o fim-de-semana e a festa de Todos os Santos e mudámo-nos para Tierra de Campos, prontos para fazer dois dias do Caminho de Santiago.

Eu quase não fui. Um tropeço na rua danificou o meu joelho, já de si um dos meus pontos fracos. Embora eu não tenha chegado a cair, algo correu mal. Caminhar tornou-se difícil e a reabilitação era tão dolorosa que pensei em ficar em casa. Depois decidi que, mesmo que não conseguisse andar, poderia partilhar o “carro de apoio” e fazer o Caminho com achaques.

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O caminho faz-se caminhando

“O caminho faz-se caminhando”, diz o poema de Antonio Machado. Descobri que, sem andar, também se pode fazer o caminho, mesmo que se tenha limitações físicas.

Ficámos numa casa rural em Villanueva de San Mancio. Uma casa dá-nos mais intimidade do que um hotel e permite-nos partilhar tempo, conversas, dinâmicas, orações e mesa.

No Curso, temos um especialista no Caminho de Santiago, que faz jornadas sozinho, assim que pode. Organizou tudo, escolheu a zona, junto ao Canal de Castilla, terreno bastante plano, em estradas de terra batida, de aldeia em aldeia, da Espanha esvaziada: primeiro dia, de La Santa Espina a Medina de Rioseco, passando por Castromonte e Valverde de Campos; segundo dia, de Medina de Rioseco a Cuenca de Campos, passando por Tamariz de Campos e Moral de la Reina.

O dia começava com um pequeno-almoço cedo e a partida para o destino às 8 horas. Os peregrinos faziam o caminho após uma oração, marcavam períodos de silêncio e todos iam ao mesmo ritmo. O especialista ficava sempre para trás, demonstrando a sua experiência e enorme paciência.

Aquelas de nós do carro de apoio ficávamos em casa a arrumar Comprávamos comida para o dia e preparávamos sanduíches para o almoço. Quando chegávamos ao local acordado, depois de nos terem enviado as coordenadas pelo Whatsapp, encontrávamos os peregrinos a descansar e a rezar o Terço. Partilhávamos a comida e eles continuavam o seu dia. Durante a tarde caminhavam por menos tempo. Depois do almoço, a caminhada é pior e o sol põe-se cedo.

Logo no primeiro dia regressaram duas pessoas lesionadas . Já tínhamos companhia para o dia seguinte, nós, as do carro de apoio. Após um duche e uma conversa, um bom jantar. E depois, com ou sem gin tonic, uma dinâmica divertida e a oração da noite.

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Com chuva e vento

O segundo dia foi duro para os caminhantes, chuva e vento, juntamente com a queda das temperaturas. Oito começaram pela manhã, mas apenas cinco terminaram, enlameados até ao tornozelo e molhados da cabeça aos pés, apesar das capas para a chuva. Cinco almas corajosas que nos representaram a todos e que todos nós apoiámos com comida e oração.

Embora não pudesse andar, gostei da viagem. Convivi e rezei com a minha irmã de Curso no carro de apoio. Admirei a meseta castelhana (um espectáculo a qualquer hora), com as suas enormes igrejas em aldeias que agora têm poucos habitantes. Pude caminhar até à doca em Medina de Rioseco, assistir à Missa com todos, ver a comporta número 7 do Canal de Castilla, visitar a igreja de Villanueva de San Mancio e sair para jantar com todos na última noite.

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Do “plano vítima” ao “plano solidariedade”

Isso não é pouca coisa para um fim-de-semana. Em casa teria estado “morta de tédio”, pondo gelo no joelho e oferecendo Capital de Graças, como uma vítima. Desta forma pude colocar o gelo enquanto convivia com os meus irmãos e irmãs, e a dor partilhada dói menos. Porque a alegria partilhada alegra a alma. Isto também tem um impacto nos outros, se o oferecermos com fé.

Fazer o Caminho é importante e há muitas maneiras de o percorrer em comunidade. Partilhar a coisa mais escassa que temos: tempo. A pé ou num carro de apoio, o principal é sair da zona de conforto e encontrar-se; fortalecer vínculos, descobrir o outro; descobrir e estar grato pelo que me complementa; compreender a sua maneira de ser; sentir que me ama como eu sou, que, com a sua atitude, me educa.

Tal convívio vale mais do que várias reuniões

Assim, como todos queremos repetir, em 2022 faremos dois ou três dias, para entrar em Santiago a pé.

Um tal convívio vale mais do que várias reuniões.

Caminhante, são as tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar…”

Antonio Machado

A propósito, devido à pandemia, 2022 será também um Ano Santo Compostelano. No caso de alguém se animar a isso.

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Original: espanhol (11/11/2021). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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