Itauguá vale o risco, vale a sua vida

PARAGUAI, CASA MÃE DE TUPÃRENDA, Ani Souberlich •

Esta Semana Santa, como equipa da Casa Mãe de Tupãrenda, fizemos uma visita ao Centro Educativo de Itauguá para convidar os adolescentes privados de liberdade a participarem no programa, uma vez libertados. —

Durante esta visita, dissemos-lhes o que podem aprender na nossa Casa, para que mais tarde possam ter um emprego e assim alcançar uma melhor qualidade de vida para si próprios e para as suas famílias. Como sempre, receberam-nos com alegria e sobretudo com muita esperança, com a certeza de que uma casa está à sua espera para lhes dar um lar com espírito de família quando saiam da prisão, porque a maioria deles não tem para onde ir quando forem libertados.

Neste dia também conhecemos a Pastoral Visitação de Maria, que vai com os catequistas e o lanche todos os sábados.

Como em todas as visitas, é possível sentir neles o seu espírito infantil, aquela infância que lhes foi tirada.

Equipa de Casa Mãe de Tupãrenda

“Eles cometeram um grande erro ao virem para aqui, porque não há volta a dar”

Nicolás Molinas Romero fala-nos da sua experiência na sua primeira visita aqui:

“Não há foto perfeita que descreva a minha Semana Santa, porque as melhores foram ver e experimentar tudo o que eu passei quando visitei o Centro Educativo de Itauguá, popularmente conhecido como a penitenciária juvenil Panchito López.

Entrando no pavilhão central, o lugar onde estão alojados 45 a 55 menores entre os 14 e 18 anos, não se sabe o que esperar ou o que vai acontecer… essa foi a minha primeira reacção. Pensei em não ser demasiado directo para invadir ou demasiado frio e não muito discreto para não partilhar de todo, mas claramente a única coisa a fazer é abrir-se. Abram os olhos, abram os ouvidos para ouvir as pessoas que precisam de ser ouvidas, abram a boca para rir com elas para que possam dar melhores conselhos, abram as mãos para uma boa saudação ou mesmo um abraço.

Posso dizer que não têm caras de denúncia, roubo ou pessoas más. Ver os seus rostos mostra ternura e oportunidade, algo que nós, como sociedade, nunca lhes demos. Itauguá vale o risco, vale a sua vida.

E como disse uma missionária na altura: “Eles cometeram um grande erro ao vir para aqui, porque não há volta a dar.

Porque cada rapaz ao despedir-se é um: Voltam no sábado (dias de visitas pastorais)?

A resposta é claramente ‘sim’, porque é Cristo que nos mostra e nos chama a esta missão.

Sintam-se encorajados a ouvir, a ver e a ir em missão onde Cristo vos chama”.

Chegam os primeiros eleitos

No início de Abril, chegaram Juan David, Ángel Andrés, Nery Manuel e Ángel Gabriel, os primeiros adolescentes a serem libertados desde a nossa visita. Um deles comentou na entrevista “assim que saí vim para não me perder no caminho”, outro comentou “desta vez quando saí já tinha um sítio para onde vir”. A realidade é que muitos deles, uma vez libertados, não têm para onde ir e regressam para dormir nas ruas e, portanto, para a delinquência. Sozinhos, é difícil encontrar trabalho, pois têm antecedentes criminais, pelo que a história se repete, levando-os a serem privados de liberdade inúmeras vezes.

A Casa Mãe de Tupãrenda dá-lhes a oportunidade de serem treinados nos diferentes ofícios da horticultura, padaria e confeitaria; de participarem em conversas de formação sobre liderança, direito e segurança social; competências brandas que lhes dão as ferramentas necessárias para saírem para o mundo e ganharem uma vida honesta. Recebem a oportunidade que nunca tiveram antes.

Desde o início que sou responsável pela nossa Casa e, para ser franca, não é uma população fácil de se trabalhar com, requer muito esforço, muita paciência, muita tolerância à frustração, mas acima de tudo uma imensa confiança de que cada jovem é um tesouro que deve ser ajudado a ver todas as coisas boas que traz dentro de si e que não sabe porque nunca ninguém lhe disse.

Cada jovem na Casa Mãe de Tupãrenda é um milagre de amor e misericórdia que Deus derrama sobre eles dia após dia. Obrigado a todos aqueles que nos ajudam com a sua contribuição, com as suas orações para transformar vidas.

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Original: castelhano (22/4/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal