ermita Bariloche

Posted On 2021-02-03 In Missões

De regresso a onde nasceu a minha vocação missionária

ARGENTINA, Juan Eduardo Villarraza •

Janeiro 2021, depois de um ano difícil para todos, em que a mudança de um lugar para outro, a visita a parentes ou visitas turísticas se tornaram quase ficção científica, decidi que já estava farto de ficar em casa e, que Janeiro seria o mês de férias e confiando que seria a melhor época para poder apreciar melhor a criação de Deus e no processo, descansar. —

A Patagônia: laudato si’

O dia finalmente chegou e após algumas horas, estava finalmente em San Carlos de Bariloche. Reflectindo um pouco, percebi que esta era a quarta vez que estava nesta bela cidade do sul da Argentina. Uma bela terra, abençoada por Deus com uma paisagem verdadeiramente avassaladora. Impressionante pela beleza das suas cores, o azul do céu, o branco das nuvens, o azul esverdeado do Lago Nahuel Huapi, as cores terrosas das montanhas coroadas de neve e glaciares… Tudo isto despertou um louvor ao Criador por nos ter dado tanto e, ao mesmo tempo, recorda-nos a necessidade de cuidarmos deste presente do Deus Trino que nos lembra o Seu amor.

Mas não foi só a cidade de San Carlos de Bariloche que, nos fez dar tanta gratidão e estar numa situação de amor a Deus, no sentido de saber que somos pequenos e que a transcendência é, ao mesmo tempo, uma proximidade cativante que se preocupa em dar-nos alegria e aproximar-nos da Sua presença. Ilha Victoria, Monte Tronador, a floresta de murta, navegando no Nahuel Huapi… tudo isto acrescentou e tornou ainda maior a sensação de estar tão em dívida.

A Patagônia: terra de missão e berço de santidade

Vista do Lago Nahuel Huapi e da Catedral de Nossa Senhora de Nahuel Huapi, sede da Cátedra do Bispo de Bariloche.

Mas não é apenas a vida natural que nos faz dar glória a Deus e admirar a Sua obra. A vida sobrenatural também tem estado presente neste lugar, produzindo os seus frutos e pedindo uma entrega, ainda maior, para poder abrir as portas a Cristo, como nos pediu São João Paulo II no sermão no início do seu pontificado, há mais de 30 anos. Geralmente identificamos São João Bosco, Dom Bosco, como o chamamos mais popularmente, com a evangelização destas terras, no entanto, a tarefa missionária já tinha começado antes.

Fazendo uma retrospectiva histórica, sabemos que os espanhóis tinham chegado a estas terras do sul habitadas por diferentes povos nativos como os Tehuelches, os Patagónios e os Mapuches, entre outros. Embora tenha havido abusos por parte dos conquistadores, houve também outros evangelizadores que, arriscando as suas vidas e deixando as suas famílias e renunciando aos seus títulos de nobreza, decidiram alcançar estes lugares e não só tornar Cristo conhecido, mas também melhorar a vida destas pessoas, ajudando-as de diferentes formas. Os primeiros a chegar foram os jesuítas, especialmente os italianos.

Com uma visão um pouco avançada para a época, tentaram alcançar a paz com os habitantes da Araucania e durante um período do século XVII, conseguiram uma primeira evangelização. Nicolás Mascardi, um liguriano de origem genovesa, instalou-se na área do Lago Nahuel Huapi e de lá serviu e missionou. O auge da sua obra foi o seu martírio, que foi sem dúvida a semente dos novos cristãos. Foi graças a ele que Maria veio para estas terras do sul, uma vez que confiou a missão a Nossa Senhora de Nahuel Huapi.

Mais tarde, no final do século XIX, São João Bosco teve um sonho profético em que lhe foi revelado que, deveria enviar os seus salesianos para evangelizar estas terras. Finalmente, dez missionários chegaram a Buenos Aires e após muitas vicissitudes, conseguiram chegar ao seu destino e pouco a pouco, não sem esforço e contratempos, dedicaram-se à missão, dignificaram e educaram todos, tanto os nativos, dizimados e empobrecidos, como os imigrantes que começaram a chegar.

Os frutos da santidade foram mostrados e hoje podemos vê-los em dois jovens abençoados, um descendente de caciques, o Beato Ceferino Namuncurá e a Beata Laura Vicuña, um argentina e outra chilena, mas ambos jovens e com uma piedade e consciência de missão muito profundas.

A Ermida da MTA, lugar da minha vocação missionária

A evangelização nunca está terminada e Deus também suscita novas formas de chegar a todos em cada época para que possam pensar, amar e viver organicamente, ou seja, dar Cristo através da Igreja.

Há muitos anos, a Mater também chegou a Bariloche e decidiu ficar no seu lugar de graças, neste caso, uma Ermida no bairro de Nahuel Malal. Este lugar de graças soma-se à “geografia das experiências de Schoenstatt” que Deus me deu durante estes anos de vida, desde 20 de Janeiro de 1992, no Santuário do Pai de Florencio Varela, experimentei muito claramente o apelo a fazer parte da Família de Schoenstatt. Mais precisamente, durante o acampamento de verão da Juventude Masculina de 1994, uma das actividades que tivemos foi a de, a partir da Ermida sair com algumas Imagens Peregrinas para visitar as famílias dos arredores, e recordo com especial afecto como fui, com algumas crianças do local e outros amigos do acampamento, rezar à MTA.

Dois anos mais tarde, também no Verão, começou a minha primeira missão universitária. Embora os missionários tenhamos parado noutra parte da cidade, e tenhamos ido em missão a diferentes bairros (lembro-me que muitos de nós tivemos de apanhar o autocarro para ir até eles), a Ermida foi o lugar de graças escolhido para terminarmos a missão e para tornarmos este lugar de graças ainda mais conhecido. Gostei tanto de ir em missão que durante uma década, continuei a fazê-lo todos os verões com o Movimento e, mesmo com as Filhas de Maria Santíssima del Huerto, as religiosas da escola onde trabalho, e mais tarde, nas Missões Familiares.

Graças a isto, descobri que o apelo à evangelização da missão não é algo que acontece apenas nos verões ou que é algo para a época da juventude e nunca mais. É realmente um modo de vida, uma forma de compreendermos a nossa Aliança e que envolve toda a vida, mesmo que não se “saia” em missão, como a padroeira, Santa Teresinha, demonstra.

Foi por tudo isto que, este ano, decidi ir em peregrinação à Ermida da Mãe Três Vezes Admirável de Bariloche. Foi uma bela caminhada, na qual pude, mais uma vez, recordar com gratidão todas as coisas boas recebidas durante este tempo, e também contribuir para o “capital de graças” por Schoenstatt em Bariloche e pela União de Homens de Schoenstatt na Argentina.

ermita Bariloche

Original: Espanhol (1/2/2021). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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