Posted On 2015-04-13 In Missões

Missões familiares em Peñarroya-Pueblonuevo, Espanha

ESPANHA, Madrid, Bárbara de Francheschi •

Peñarroya-Pueblonuevo é uma localidade de Córdova (Espanha), na sua fronteira com a Extremadura. O seu rio Guadiato rega os sopés dos montes da Serra Morena que, despontam ao longe, verdes na primavera. Bordejam a povoação grandes montados, repletos de azinheiras centenárias e de oliveiras, onde fazem os seus ninhos as perdizes e todo o género de aves que, convivem num clima quase mediterrânico, com invernos suaves e verões menos quentes que, no resto da Província Cordovesa.

A “Córdova pequena”, assim chamavam a esta localidade que, desde os fins do século XIX viu florescer uma indústria mineira de capital hispano-francês e uma importante indústria metalúrgica. Em meados do século XX, no seu maior esplendor, chegou a ter 55.000 habitantes… Hoje, os seus 13.000 habitantes vivem do comércio e dos serviços, e começa, timidamente, a crescer a agricultura e a ganadaria próprias da comarca.

“Saiam das vossas casas, deixem a vossa comodidade, vão ao encontro …”

E, com este pano de fundo, de restos das minas a céu aberto e de edifícios destruídos do que foi a indústria naquele lugar, abriram-se-nos as portas para as missões familiares. Lá, no antigo bairro francês desenhado, naquela época, pelos engenheiros das minas, hoje, com casas abandonadas ou reconstruídas, ficámos alojados, os 85 missionários, de todas as idades que, com pressa de responder ao chamamento do Santo Padre: “Saiam das vossas casas, deixem a vossa comodidade, vão ao encontro…” e, desejosos de viver a Aliança, entregando o que somos e herdámos, convivemos com um prior muito jovem e entusiasta… com vontade de renovar a sua Paróquia e, de acompanhar a vida dos seus fregueses da melhor maneira possível.

Batemos às portas das casas. Quanta gente idosa, só… com filhos crescidos despedidos e netos a seu cargo… Quanta gente sem trabalho, à espera não se sabe muito bem do quê…com vidas sem horizonte, a quem se deve levar um bocadinho de alegria, religar com a Paróquia, onde, antigamente, se centrava a vida “do Llano”, bairro onde se encontrava a Paróquia de S. Miguel, a quem nós servíamos. As oficinas da tarde para jovens, adultos ou crianças encheram os locais de carácter amável e delicado. Não sabiam o que fazer por nós, não sabíamos o que fazer por eles e, juntos, construímos esses dias da Semana Santa em Peñarroya. 250408-04-misiones-familiarres-es

Onde se vive a Aliança

Aprendemos que a Aliança se vive em qualquer lugar e circunstância. A Mater não conhece rigidezes ou estruturas inamovíveis. Vive-se onde as pessoas se querem aproximar de Deus. Não importa se frequentam, habitualmente, a sua Paróquia, se pertencem à Irmandade da Nossa Senhora do lugar, mas não vão às Missas aos Domingos, ou, apenas veneram essa Nossa Senhora andaluza cuja devoção está tão arraigada que ninguém, nem por sombras, se atreveria a virar-Lhe as costas: a Macarena, Nossa Senhora do Rocio…

A Aliança vive-se e leva-se a cada coração aberto à esperança. E, isso, apenas isso, foi o que tentámos fazer com eles…

Nas ruas a azáfama era imparável, por ser a Semana Santa o ponto culminante do Ano Litúrgico, mas, sobretudo, o momento do ano que marca o ritmo da Diocese para o qual costaleros [1], penitentes e nazarenos [2], se vinham preparando com uma disciplina férrea, carregando “os passos” [3], o seu Cristo do Bom Amor, ou Nossa Senhora da Amargura… Impressionantes as seis horas de procissão pelas ruas estreitas da povoação a altas horas da noite. Quem, hoje em dia, se atreve a passear pelas ruas Cristo Crucificado e a Sua Mãe desfeita de dor e, radiante pela esperança de que a morte do Seu Filho não seja inútil para o Homem de todos os tempos?

Quisemos recolher com o Cálice os problemas, a solidão, a saúde e a angústia das pessoas necessitadas

250408-03-misiones-familiarres-esEssa é a sua maravilhosa cultura. A sua Nossa Senhora e a nossa são a mesma, só que se vestem com traje diferente para a ocasião. O seu Cristo cravado na Cruz olhou-nos com ternura e imensa tristeza, pedindo-nos que, O acompanhássemos em cada pessoa da localidade necessitada de amor. E, nós, tal como Maria na Cruz da Unidade, quisemos recolher com o Cálice os problemas, a solidão, a saúde e a angústia das pessoas necessitadas. Isso, oferecíamo-lo na oração da noite, ao ar livre e com lua cheia, em frente ao Sacrário improvisado à luz das velas.

Não é preciso muito para evangelizar

Não é preciso muito para evangelizar. Desprendermo-nos de nós próprios, esquecermo-nos do conforto a que estamos habituados nas grandes cidades, puxar pelo melhor de nós próprios, os talentos recebidos e, pôr Cristo no centro.

Nestes dias Maria fez-Se presente entre nós

Ensinou-nos a acompanhar o Seu Filho, a sair ao encontro do outro. Solícita, mostrou-nos o caminho para percorrermos as ruas e, em cada coração realizou um milagre de transformação.

Somos Família de Schoenstatt, sem apelido, por um dia!

As nossas missões têm a particularidade de quererem ser vividas com grande austeridade e muita oração. Famílias inteiras com filhos de todas as idades juntam-se para darem testemunho de alegria e simplicidade. Ao serem famílias completas, trata-se também de um encontro de diversas Comunidades de Schoenstatt: Liga, União, Institutos, Universitários, Profissionais, Padre, Irmã, grandes, médios e pequenos, convidados…missionários e evangelizados. Também pessoas de vários lugares do país: de Madrid, Catalunha, Astúrias…É organizada pelo Ramo das Famílias, mas sem o querermos tem uma boa representação da Família de Schoenstatt. E, desse modo, pensamos que, se o Pe. Kentenich caminhasse connosco dir-nos-ia: “todos têm que caber em Schoenstatt… “Somos Família de Schoenstatt, sem apelido, por um dia! Abrimos as portas dos nossos Santuários e saímos ao encontro de todos, com a nossa Aliança viva no coração. Entregamos, recebemos muito mais do que damos, e voltamos para casa com a sensação de missão cumprida e, de estarmos cheios de Deus. Custa-nos tirar a Cruz de missionários pendurada ao pescoço. O sentimento de gratidão é imenso, o cansaço também, mas por cima de tudo, vale a pena a experiência!

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[1] Costalero é o nome que têm as pessoas encarregadas de levar sobre os seus ombros o andor durante as procissões em Espanha, durante a Semana Santa. NT
[2] Nazarenos são os membros das Confrarias Religiosas que desfilam na Semana Santa em Espanha. NT
[3] Passos do latim “passus” que quer dizer “cena, sofrimento” e é o nome que recebem as imagens que desfilam nas procissões durante a Semana Santa NT

Original: espanhol. Tradução, Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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