Entrevista a Sebastián Villarejo, deputado, Paraguai •
No final de Setembro, realizou-se o “Fórum Político“, o fórum latino-americano para schoenstatteanos em funções políticas (ES). Como disse um casal que o viu e ouviu: “Um início abençoado. Vamos em busca de mais”. —
O desafio era continuar a crescer, aprofundar e projectar o que tinha sido iniciado, criando uma estrutura básica simples que terá um Conselho, composto pelos quatro participantes do primeiro Fórum – Sebastián Villarejo (Paraguai), Miguel Treviño (México), Sergio Giacaman (Chile), Xavier Lazo (Equador) e Mayi Antillón (Costa Rica). O Assessor é o Pe. José Luis Correa, o iniciador do Fórum. Christa Rivas (Paraguai) assumiu a coordenação e Cristy Santa Cruz, do Paraguai, que conhecemos pelo seu compromisso com a Pastoral prisional, é a secretária executiva.
Falámos com um dos membros do painel no fórum e agora membro do Conselho, Sebastián Villarejo, deputado nacional paraguaio. Tem 36 anos de idade, advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade Nacional de Asunción. É casado com Silvia Aponte, têm 3 filhos, e pertence ao Movimento de Schoenstatt. Faz parte do programa dos dirigentes da Fundação para o Desenvolvimento da Democracia. Participou no Diplomado em Teoria Política e Gestão Pública ODCA- Fundação Konrad Adenauer em Santiago do Chile em 2006. Foi membro fundador do Conselho de Administração da Juventude que se Movimenta (JQM), secretário e membro do Conselho de Administração da Associação de Antigos Alunos da Escola de San José.
Por estes dias, num encontro virtual sobre o pensamento social do Padre Kentenich no Brasil, surgiu a questão: Como schoenstatteanos, somos social e politicamente omissos? Devemos mudar algo na consciência, mentalidade e acção?
Jesus disse “Vim trazer o fogo à terra e espero que arda“, ou seja, devemos ser fogo e por isso gerar uma reacção em cadeia, coração a coração gerar transformações sociais com a força das nossas convicções e a perseverança das nossas acções.
Definitivamente, a pedagogia de Schoenstatt mobiliza-nos para nos envolvermos. Para construir uma nova comunidade, apenas a partir dos templos, é impossível ou mesmo com acções apostólicas limitadas ao religioso, devemos encorajar-nos a abandonar a zona de conforto de cada um.
Os nossos povos, especialmente na América Latina, precisam de mudanças urgentes que devem ser feitas a partir do sector público e das autoridades políticas. Vivemos num mundo onde a dignidade da pessoa está em perigo e as orações não são suficientes, devemos agir e construir um mundo mais equitativo com uma visão que coloque a pessoa no centro.
Sobre a questão de sermos omissos, não sei, não quero julgar. Permito-me dizer que, muitas vezes, quando crescemos como Movimento, exigimos, cada vez mais, liderança dentro das nossas actividades, e isto condiciona a nossa acção e possibilidades de sair “para fora”. O envio apostólico não pode ser visto apenas como uma graça, mas também como um dever, e por isso, deve ser reflectido e reforçado na nossa pedagogia e educação nos diferentes Ramos.
Como se interessou e entrou na política?
Respondo a partir de dois momentos diferentes: o primeiro refere-se a envolver-me e ser activo na política sem ser necessariamente um candidato; desde jovem estive sempre envolvido em várias actividades que, gradualmente, moldaram a minha vida. Seja na escola, no Movimento, nas missões ou noutras organizações diferentes, nasceu em mim e em muitos outros jovens um sentimento de vocação para com o serviço público. O tempo fez-me sentir uma convicção, no Paraguai não pode haver mudanças reais que melhorem a qualidade de vida do povo se não transformarmos a política.
O segundo momento, é quando tomo a decisão de ser um candidato. Contar-vos-ei duas histórias que me impulsionaram. O primeiro, um amigo que me diz “Que imensa oportunidade para transmitir uma mensagem”, e realmente, para decidir sobre uma mensagem clara, com as convicções do que se quer que conheçam e vão construindo, entusiasma-me muito para além do resultado eleitoral; o segundo, num retiro de Casais, um padre pergunta-nos “Que história de vida querem contar aos vossos filhos“, olhando para os meus filhos com dois anos de idade, fez-me reflectir sobre o que lhes quero dizer quando eles vierem e me perguntarem. E fui agarrado muito mais por esta história que, como uma equipa, estamos hoje a tentar escrever.
Anos atrás, numa troca de impressões com um presidente da Câmara da Argentina, da Obra Familiar, ele partilhou comigo a sua maior preocupação: Pode alguém ser um político sem se sujar, sem cair em corrupção, em más práticas?
Eu acredito firmemente que SIM. Há linhas que não podem ser ultrapassadas, e quando se tornam confusas, é substancial ter sido capaz de sustentar as prioridades, a família, uma equipa forte, e a fé. Quando se perdem as prioridades, as linhas que nos conduzem também desaparecem, como diríamos no Movimento: tentar sempre cumprir o dever de estado é primordial.
Na Família de Schoenstatt do Paraguai, há muitos que estão empenhados na política, que se dedicam a fazer política? Como é que o fazem?
Acredito que no Paraguai houve uma corrente pedagógica muito forte de construção de liderança e de sair do lugar onde cada um se encontre. Esta pedagogia veio de alguns casais fundadores, e principalmente, no que vivi, especialmente na Juventude Masculina, padres que despertaram esta convicção e força para trabalhar por um país melhor, pelos outros.
Como surgiu a ideia do fórum político latino-americano (ES)? Qual foi a maior surpresa para si neste fórum? Querem continuar com algum projecto específico?
Há uma canção do Padre Manuel López Naón que diz “porque a nossa bandeira não se ergue num mastro, está gravada na alma e em cada Missa renasce” (ES), esta frase ou convicção de que somos uma comunidade, creio que nos impulsiona a construir laços e vínculos.
O fórum é uma ideia posta em andamento pelo Padre Correa, que é admirável, uma vez que, vários podem ter tido ideias semelhantes, mas o desafio é levá-las a cabo e dar o primeiro impulso.
Estamos a trabalhar para dar seguimento, mesmo que seja com pequenos passos, com novos fóruns e momentos de partilha. Sentir comunidade, sentir o esforço que, em diferentes lugares do mundo, mesmo para além da fé, muitas pessoas fazem, é sempre mais uma razão para nos comprometermos e continuarmos.
Qual é o sonho político de Sebastián? Quem é o seu modelo a seguir?
Sonho político… mmm… Gostaria de fazer parte de uma equipa que conseguisse influenciar, de uma forma concreta e precisa, grandes transformações que, melhorassem a qualidade de vida das pessoas no meu país e que, de alguma forma, construíssemos um mundo mais humano. Em termos eleitorais, não o nego, gostaria de um dia ser Presidente da República e assim ter a honra de liderar estas transformações com uma equipa.
Creio que a história de Nelson Mandela é importante neste momento em que emerge o fanatismo, com olhares binários, confrontos, divisão; o Mandela que sai da prisão, com uma visão baseada na unidade, no perdão, num futuro conjunto, na empatia e muitos outros valores, é um modelo importante a seguir hoje em dia.
Original: espanhol (11/10/2020). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal