Posted On 2015-02-10 In Francisco - Mensagem

A presença do Pai

VATICANO, mda. O aspecto positivo e decisivo da figura do pai foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para a catequese da Audiência Geral das quartas-feiras que teve lugar na Aula Paulo VI. “As catequeses sobre a paternidade – da Audiência Geral de 28 de Janeiro como a de 4 de Fevereiro – são um dom de Deus e uma confirmação do carisma do Padre Kentenich”, comenta o Pe. José Maria García.O Santo Padre anima a ser pai, estar na família, em primeira pessoa… Para ser um bom pai, a primeira coisa é “estar presente na família. Estar perto da esposa, para partilhar tudo, alegrias e tristezas, esperanças e esforços. E, estar perto dos filhos enquanto crescem: quando brincam e quando se esforçam, quando estão alegres e quando estão angustiados, quando falam e quando calam, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo em falso e quando encontram o seu caminho. “Pai sempre presente – reiterou Francisco – Mas dizer presente não é o mesmo que dizer controlador. Porque os pais controladores anulam os filhos, não os deixam crescer”.

Catequese sobre a família: Pai (1)

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Retomamos o caminho das catequeses sobre a família. Hoje deixamo-nos guiar pela palavra «pai». Uma palavra que a nós cristãos é muito querida, porque é o nome com o qual Jesus nos ensinou a dirigir-nos a Deus: pai. O sentido deste nome recebeu uma nova profundidade precisamente a partir do momento em que Jesus o usava para se dirigir a Deus e manifestar a sua relação especial com Ele. O mistério bendito da intimidade de Deus, Pai, Filho e Espírito, revelado por Jesus, é o coração da nossa fé cristã.

«Pai» é uma palavra que todos conhecem, é uma palavra universal. Ela indica uma relação fundamental cuja realidade é antiga como a história do homem. Contudo, hoje chegou-se a afirmar que a nossa seria «uma sociedade sem pais». Noutros termos, sobretudo na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, esvaecida, removida. Num primeiro momento, isto foi sentido como uma libertação: libertação do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e impedimento à emancipação e à autonomia dos jovens. Por vezes havia casas em que no passado reinava o autoritarismo, em certos casos até a prepotência: pais que tratavam os filhos como servos, sem respeitar as exigências pessoais do seu crescimento; pais que não os ajudavam a empreender o seu caminho com liberdade — mas não é fácil educar um filho em liberdade —; pais que não os ajudavam a assumir as próprias responsabilidades para construir o seu futuro e o da sociedade.

Certamente, esta não é uma boa atitude; mas, como acontece muitas vezes, passa-se de um extremo ao outro. O problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invadente dos pais, mas ao contrário a sua ausência, o seu afastamento. Por vezes os pais estão tão concentrados em si mesmos e no próprio trabalho ou então nas próprias realizações pessoais, que se esquecem até da família. E deixam as crianças e os jovens sozinhos. Quando eu era bispo de Buenos Aires apercebia-me do sentido de orfandade que vivem os jovens de hoje; e muitas vezes perguntava aos pais se brincavam com os seus filhos, se tinham a coragem e o amor de perder tempo com os filhos. E a resposta era feia, na maioria dos casos: «Mas, não posso, porque tenho tanto trabalho…». E o pai estava ausente daquele filho que crescia, não brincava com ele, não, não perdia tempo com ele.

Mas, neste caminho comum de reflexão sobre a família, gostaria de dizer a todas as comunidades cristãs que devemos estar mais atentos: a ausência da figura paterna da vida das crianças e dos jovens causa lacunas e feridas que podem até ser muito graves. Com efeito os desvios das crianças e dos adolescentes em grande parte podem estar relacionados com esta falta, com a carência de exemplos e de guias respeitáveis na sua vida de todos os dias, com a falta de proximidade, com a carência de amor por parte dos pais. É mais profundo de quanto pensamos o sentido de orfandade que vivem tantos jovens.

São órfãos na família, não dão aos filhos, com o seu exemplo acompanhado pelas palavras, aqueles princípios, aqueles valores, aquelas regras de vida das quais precisam como do pão. A qualidade educativa da presença paterna é tanto mais necessária quanto mais o pai é obrigado pelo trabalho a estar distante de casa. Por vezes parece que os pais não sabem bem que lugar ocupar na família e como educar os filhos. E então, na dúvida, abstêm-se, retiram-se e descuidam as suas responsabilidades, talvez refugiando-se numa relação improvável «ao nível» dos filhos. É verdade que deves ser «companheiro» do teu filho, mas sem esquecer que és o pai! Se te comportas só como um companheiro igual ao teu filho, isto não será bom para o jovem. E vemos este problema também na comunidade civil. A comunidade civil com as suas instituições, tem uma certa responsabilidade — podemos dizer paterna — em relação aos jovens, uma responsabilidade que por vezes descuida e exerce mal. Também ela muitas vezes os deixa órfãos e não lhes propõe uma verdadeira perspectiva. Assim, os jovens permanecem órfãos de caminhos seguros para percorrer, órfãos de mestres nos quais confiar, órfãos de ideais que aqueçam o coração, órfãos de valores e de esperanças que os amparem diariamente. Talvez sejam ídolos em abundância mas é-lhes roubado o coração; são estimulados a sonhar divertimentos e prazeres, mas não lhes é dado trabalho; são iludidos com o deus dinheiro, mas são-lhes negadas as verdadeiras riquezas.

E então fará bem a todos, aos pais e aos filhos, ouvir de novo a promessa que Jesus fez aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos» (Jo 14, 18). De facto, Ele é o Caminho a percorrer, o Mestre a ouvir, a Esperança de que o mundo pode mudar, de que o amor vence o ódio, que pode haver um futuro de fraternidade e de paz para todos. Algum de vós poderia dizer-me: «Mas Padre, hoje foi demasiado negativo. Só falou da ausência dos pais, do que acontece quando os pais não acompanham o crescimento dos filhos… É verdade, quis frisar isto, porque na próxima quarta-feira continuarei esta catequese pondo em evidência a beleza da paternidade. Por isso escolhi começar pela escuridão para chegar à luz. Que o Senhor nos ajude a compreender bem estas coisas. Obrigado.

Catequese sobre a família: Pai (2)

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de apresentar a segunda parte da reflexão sobre a figura do pai de família. Na última catequese falei sobre o perigo dos pais «ausentes», e hoje quero considerar acima de tudo o aspecto positivo. Também são José teve a tentação de deixar Maria, quando descobriu que ela estava grávida; mas interveio o anjo do Senhor, que lhe revelou o desígnio de Deus e a sua missão de pai putativo; e José, homem justo, «recebeu em casa a sua esposa» (Mt1, 24), tornando-se o pai da família de Nazaré.

Todas as famílias têm necessidade do pai. Hoje meditamos sobre o valor do seu papel, e gostaria de começar com algumas expressões que se encontram no Livro dos Provérbios, palavras que um pai dirige ao próprio filho, dizendo assim: «Meu filho, se o teu espírito for sábio, o meu coração alegrar-se-á contigo! Os meus rins estremecerão de alegria, quando os teus lábios proferirem palavras rectas» (Pr 23, 15-16). Não se poderia expressar melhor o orgulho e a emoção de um pai que reconhece que transmitiu ao seu filho aquilo que realmente conta na vida, ou seja, um coração sábio. Este pai não diz: «Sinto-me orgulhoso de ti, porque és precisamente igual a mim, repetes as palavras que pronuncio e aquilo que faço». Não, não se limita simplesmente a dizer-lhe algo. Diz-lhe uma coisa muito mais importante, que poderíamos interpretar assim: «Serei feliz cada vez que te vir agir com sabedoria e comover-me-ei todas as vezes que te ouvir falar com rectidão. Foi isto que desejei deixar-te, para que se tornasse algo teu: a atitude de ouvir e agir, de falar e julgar com sabedoria e rectidão. E para que pudesses ser assim, ensinei-te coisas que não sabias, corrigi erros que não vias. Fiz-te sentir um afago profundo e ao mesmo tempo discreto, que talvez não tenhas reconhecido plenamente quando eras jovem e incerto. Dei-te um testemunho de rigor e de firmeza que talvez não entendesses, quando só querias cumplicidade e tutela. Fui o primeiro que tive de me pôr à prova da sabedoria do coração e velar sobre os excessos do sentimento e do ressentimento, para poder carregar o peso das incompreensões inevitáveis e encontrar as palavras certas para me fazer entender. Agora — continua o pai — comovo-me quando vejo que tu procuras comportar-te assim com os teus filhos e com todos. Estou feliz por ser teu pai!». É isto que diz um pai sábio, um pai maduro.

Um pai sabe bem quanto custa transmitir esta herança: quanta proximidade, quanta meiguice e quanta firmeza. No entanto, que consolação e recompensa se recebe, quando os filhos honram esta herança! É uma alegria que compensa todos os esforços, que supera qualquer incompreensão e cura todas as feridas.

Portanto, a primeira necessidade é precisamente esta: que o pai esteja presente na família. Que se encontre próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E que esteja perto dos filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam, quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quando se exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar o caminho; pai presente, sempre. Estar presente não significa ser controlador, porque os pai demasiado controladores anulam os filhos e não os deixam crescer.

O Evangelho fala-nos da exemplaridade do Pai que está nos céus — o único, diz Jesus, que pode chamar-se verdadeiramente «Pai bom» (cf. Mc 10, 18). Todos conhecem a extraordinária parábola denominada do «filho pródigo», ou melhor, do «pai misericordioso», que se lê no capítulo 15 do Evangelho de Lucas (cf. 15, 11-32). Quanta dignidade e quanta ternura na expectativa daquele pai que está à porta de casa, à espera do regresso do filho! Os pais devem ser pacientes. Muitas vezes nada se pode fazer, a não ser esperar; rezar e esperar com paciência, doçura, generosidade e misericórdia.

Um pai bom sabe esperar e perdoar, do profundo do coração. Sem dúvida, também sabe corrigir com firmeza: não se trata de um pai fraco, complacente, sentimental. O pai que sabe corrigir sem aviltar é o mesmo que sabe proteger sem se poupar. Certa vez ouvi numa festa de casamento um pai dizer: «Às vezes tenho que bater um pouco nos filhos… mas nunca no rosto, para não os humilhar». Que bonito! Tem o sentido da dignidade. Deve punir, mas fá-lo de modo correcto e vai em frente.

Por conseguinte, se alguém pode explicar até ao fundo a oração do «Pai-Nosso» ensinada por Jesus, é precisamente quem vive pessoalmente a paternidade. Sem a graça do Pai que está nos céus, os pais perdem a coragem e abandonam o campo. Mas os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não o admitir, para não o revelar, mas precisam dele; quando não o encontram, abrem-se-lhes feridas difíceis de cicatrizar.

A Igreja, nossa mãe, está comprometida em apoiar com todas as suas forças a presença boa e generosa dos pais nas famílias, porque para as novas gerações eles são guardiões e mediadores insubstituíveis da fé na bondade, da fé na justiça e da salvaguarda de Deus, como são José.

APELO
Mais uma vez, dirijo o meu pensamento ao amado povo ucraniano. Infelizmente, a situação continua a piorar e agrava-se a oposição entre as partes. Oremos principalmente pelas vítimas, entre as quais numerosíssimos civis, bem como pelas suas famílias, e supliquemos ao Senhor que cesse quanto antes esta horrível violência fratricida. Renovo um apelo veemente a fim de que se envidem todos os esforços — inclusive no plano internacional — a favor da retomada do diálogo, único caminho possível para restabelecer a paz e a concórdia naquela terra atormentada. Irmãos e irmãs, quando ouço as palavras «vitória» ou «derrota» sinto uma dor enorme, uma grande amargura no coração. Não são palavras correctas; a única palavra certa é «paz». Esta é a única palavra certa! Penso em vós, irmãos e irmãs ucranianos… Pensai, trata-se de uma guerra entre cristãos! Todos vós tendes o mesmo baptismo! É uma luta entre cristãos. Pensai neste escândalo! E rezemos todos, porque a oração é o nosso protesto diante de Deus em tempo de guerra.

Tradução da Introdução e pesquisa de tradução oficial das catrqueses: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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