Posted On 2014-11-01 In Francisco - Mensagem

A Igreja somos todos nós

PAPA FRANCISCO, mda. Sinal do que disse na audiência jubilar, na audiência de envio, a Schoenstatt: a arte de perder tempo com as pessoas. Seu percurso pela Praça São Pedro, na primeira audiência depois do encontro com o Movimento de Schoenstatt, parece não terminar… “A Igreja somos todos nós”, disse Francisco, com o sorriso típico de quando expressa, em palavras simples e compreensíveis, uma mensagem de profundidade e de suma importância. O visível e o invisível na Igreja foi o tema que o Papa Francisco refletiu hoje, em sua tradicional catequese das quartas-feiras. O Santo Padre destacou que o visível e o invisível da Igreja não se opõem; pelo contrário, se integram na única Igreja; é um reflexo do mistério da pessoa de Cristo que, em sua natureza divina, é inseparável de sua natureza humana, que se coloca inteiramente a serviço do plano divino de levar a redenção e a salvação para todos. Sim, a Igreja somos todos nós. Sim, o rosto maternal dessa Igreja é Maria, a Mãe. São palavras de Francisco que já fazem parte do vocabulário da era atual. Os rostos dos peregrinos reunidos na Praça São Pedro expressam: Estamos vivendo o rosto paternal da Igreja.

Um longo tempo depois da audiência, um casal de noivos, recém abençoados pelo Santo Padre, corre pela rua. Ela, ainda em traje de noiva, porém com leggings por baixo e sapatos baixos. “Schoenstatt em saída”, comenta um dos últimos peregrinos jubilares ainda presentes em Roma. Ainda com vestido de festa, porém atendendo o pedido do Papa Francisco de sair ao encontro, sair às ruas, pois “a Igreja somos todos nós. Todos nós, todos os batizados somos Igreja. A Igreja de Jesus”.


Texto da Catequese do Papa

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Nas catequeses anteriores, tivemos a oportunidade de evidenciar que a Igreja tem uma natureza espiritual: é o corpo de Cristo, edificado no Espírito Santo. No entanto, quando nos referimos à Igreja, o pensamento imediatamente se dirige para as nossas comunidades, paróquias, dioceses e estruturas, nas quais, em geral, estamos habituados a nos reunir e, obviamente, também aos componentes e às figuras mais institucionais que a regem, que a governam. Essa é a realidade visível da Igreja. Então, devemos nos perguntar: tratam-se de duas realidades diferentes, ou de uma única Igreja? E, se é sempre uma só Igreja, como podemos entender a relação entre a sua realidade visível e a espiritual? Antes de tudo, quando falamos da realidade visível – dissemos que existem duas, uma realidade visível da Igreja que se vê e uma espiritual – quando falamos da realidade visível da Igreja, não devemos pensar exclusivamente no Papa, nos Bispos, sacerdotes, nas religiosas e em todas as pessoas consagradas. A realidade visível da Igreja é constituída por numerosos irmãos e irmãs batizados que, no mundo, creem, esperam e amam.

Porém, muitas vezes, ouvimos dizer: ‘Mas a Igreja não faz isto, a Igreja não faz aquilo…’ Mas digam-me: quem é a Igreja? São os sacerdotes, os Bispos, o Papa… Entretanto, a Igreja somos todos nós! Todos nós, todos os batizados somos a Igreja, a Igreja de Jesus!

É de todos aqueles que seguem a Jesus e que, no seu nome, se fazem próximos dos últimos e dos sofredores, procurando oferecer um pouco de alívio, de conforto e de paz. Todos, todos aqueles que fazem o que o Senhor mandou constituem a Igreja. Compreendemos, então, que também a realidade visível da Igreja não é comensurável, nem pode ser conhecida em toda a sua plenitude; como se pode conhecer todo o bem que é feito? Tantas obras de amor, tanta fidelidade nas famílias, tanto trabalho para educar os filhos, para levá-los em frente e para transmitir a fé, tantas dores dos doentes que oferecem os seus sofrimentos ao Senhor… Tudo isto não se pode medir, porque é grande, é imensamente grande!

Como se podem conhecer todas as maravilhas que, por intermédio de nós, Cristo consegue realizar no coração e na vida de cada pessoa? Vejam: inclusive a realidade visível da Igreja vai além do nosso controle, ultrapassa as nossas forças e é uma realidade misteriosa, porque provém de Deus.

Para compreender na Igreja a relação entre a sua realidade visível e a espiritual, não há outra forma a não ser olhar para Cristo, de quem a Igreja constitui o corpo e por quem ela é gerada, num gesto de amor infinito. Com efeito, pela força do mistério da Encarnação, também em Cristo nós reconhecemos uma natureza humana e uma divina, unidas na mesma Pessoa de modo admirável e indissolúvel. Isto é válido de maneira análoga inclusive para a Igreja. E assim como em Cristo a natureza humana une-se plenamente à divina, pondo-se ao seu serviço, em função do cumprimento da salvação, do mesmo modo acontece na Igreja pela sua realidade visível em relação à espiritual. Portanto, também a Igreja é um mistério, no qual o que não se vê é mais importante do que aquilo que é visível, e só pode ser reconhecido com os olhos da fé.

Porém, em relação à Igreja, devemos nos perguntar: como pode a realidade visível colocar-se a serviço da espiritual? Mais uma vez, só o podemos compreender fitando Cristo. Ele é o modelo, o modelo da Igreja, porque a Igreja é o seu corpo. É o modelo de todos os cristãos, de todos nós. Quando fitamos Cristo, não nos enganamos, não nos enganamos!

No Evangelho de Lucas, narra-se que Jesus, tendo voltado para Nazaré – conhecemos isso – onde crescera, entrou na sinagoga e, referindo-se a si mesmo, leu o trecho do profeta Isaías onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu. Ele me enviou para anunciar a Boa Nova aos pobres, para anunciar a libertação aos cativos e devolver a vista aos cegos, para dar liberdade aos oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”. É assim: como Cristo se serviu da sua humanidade — porque Ele era homem também — para anunciar e cumprir o desígnio divino de redenção e de salvação — porque era Deus. Assim deve ser também a Igreja. Por meio da sua realidade visível, de tudo aquilo que se vê, os sacramentos e o testemunho de todos nós, cristãos. A Igreja é chamada todos os dias a fazer-se próxima de cada homem, a começar pelos pobres, pelos sofredores e marginalizados, de maneira a continuar a fazer sentir sobre todos o olhar compassivo e misericordioso de Jesus.

Caros irmãos e irmãs, muitas vezes, como Igreja, experimentamos nossa fragilidade e nossos limites. Todos somos, todos temos. Todos somos pecadores. Nenhum de nós pode dizer: “Eu não sou pecador!”. Se algum de nós sente que não é pecador, levante a mão. Vejamos quantos levantam a mão. Não conseguimos. Todos nós somos pecadores. E essa fragilidade, esses limites, esses nossos pecados, tudo isso é natural que suscite em nós uma tristeza profunda, principalmente quando damos mau exemplo e compreendemos que somos motivo de escândalo. Quantas vezes ouvimos dizer, no bairro: “Aquela pessoa lá vai sempre à igreja, mas fala mal de todos…”. Que mau exemplo! Falar mal do outro não é cristão, é um mau exemplo, é um pecado. E, assim, acabamos dando mau exemplo. “Se este ou esta é cristão, é cristã, eu me torno ateu!”. Porque nosso testemunho consiste em fazer compreender o que significa ser cristão. Peçamos para não ser motivo de escândalo.

Peçamos o dom da fé, para podermos entender como, apesar de nossa pequenez e de nossa pobreza, o Senhor nos transformou verdadeiramente em instrumentos de graça e sinais visíveis do seu amor por toda a humanidade.

Sim, podemos nos tornar motivo de escândalo! Contudo, também podemos ser motivo de testemunho; testemunhar com nossa vida; digamos: Assim Jesus quer que o façamos.


Original em espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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