Posted On 2014-12-14 In Francisco - iniciativos e gestos

“Aceitar o desafio de ser Igreja-povo é crucial”

ESPANHA, rd. O historiador e biógrafo de papas Andrea Riccardi considera que “o grande erro” da Igreja Católica foi “apresentar-se como o partido dos valores tradicionais, quando é a tradição da esperança”. Riccardi, fundador da Comunidade de San Egidio e ex-ministro da República italiana, pronunciou hoje em Barcelona a conferência “Uma inadiável renovação eclesial”, com a qual se inaugurou o III Simpósio Internacional sobre o Concílio Vaticano II: A Igreja, mistério de comunhão e missão, organizado pela Faculdade de Teologia da Catalunha.

Para este especialista na história da Igreja Católica nos séculos XIX e XX, a cinquenta anos do final do Vaticano II (1965-2015) pode-se afirmar que sem esse concílio “a Igreja teria naufragado e seria uma pequena comunidade com um grande passado”.

Também destacou que a Igreja não é tão forte como era nos anos 60, com mais de um milhão de religiosos consagrados, e o mundo também mudou e disse que “aceitar o desafio de ser Igreja-povo” é para ela “questão de vida ou de morte”.

Riccardi indicou que agora a Igreja é “frágil” e “insignificante” e está obrigada a enfrentar a globalização que, na sua opinião, é a que traz os fundamentalismos porque “nasce de estar sem raízes”.

O professor Riccardi foi amigo pessoal dos últimos papas e autor do livro “La sorpresa di Papa Francesco”, no qual se abordam as ideias-força do presente pontificado e o projeto eclesial que há por detrás da figura do Papa.

O povo de Deus

“Com Francisco a palavra ‘povo’ volta novamente a fluir no nosso idioma: o povo de Deus, que não tem limites marcados”, destacou Riccardi, que ressaltou o compromisso comunitário que reclama Bergoglio.

Neste sentido, considerou que Francisco “não é um Papa liberal que sucedeu a um Papa tradicional” porque “conservadores e liberais são categorias erradas na vida da Igreja”.

“Francisco encarnava o sonho de reconciliação, não aceita uma Igreja que se resigna a ser uma minoria, quer uma comunidade de pessoas”, explicou o especialista, o qual reconheceu que o atual Papa tem “muita oposição, dentro e fora da cúria, e ele sabe-o”.

Para Riccardi, o Papa Francisco “sonha num mundo e numa Igreja onde há muitos sonhos. O seu sonho é o Concílio”.

“Sonho com uma opção missionária que pode transformar tudo…”

Andrea Riccardi assinalou precisamente que a encíclica papal “Evangelii Guadium” dedica um capítulo à “renovação da Igreja”, onde Francisco diz: “Sonho com uma opção missionária que pode transformar tudo…”

“Parece-me que a Igreja teve problemas para ler o mundo global. O sonho do concílio era para mudar homens e mulheres com a palavra do Evangelho, e também para mudar o mundo”, disse, mas na sua opinião não o fez porque perante os abandonos e a perda de capacidade atrativa, mais que a transformar dedicou-se a “conter as perdas”.

Num encontro de jornalistas, Riccardi manifestou-se convencido de que, precisamente, graças à “sua grande aliança com o povo”, o Papa Francisco conseguirá uma renovação profunda da Igreja que passa por pôr fim à “subcristandade clerical”.

Fonte: Religión Digital

Original: espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *