Posted On 2014-06-10 In Francisco - iniciativos e gestos

“Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre ‘irmão’”.

ROMA, org. “Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre ‘irmão’ e o estilo de nossa vida se converta em shalom, paz, salam.  Amém!”.  Francisco conseguiu algo impensável até apenas alguns meses atrás: unir, para oração comum pela paz entre judeus e palestinos, o Presidente de Israel, Simon Peres, e da Palestina, Mahmoud Abbas.  Conseguiu pela oração simultânea de muitos – desde o Santuário de Fátima/Portugal, vários Santuários de Schoenstatt, paróquias.  O Presidente da Conferência Episcopal da Argentina escreveu a Francisco: “conforme seu pedido para acompanhá-lo nesses momentos de particular importância para a paz no mundo, convidamos todo o povo argentino, tua Pátria, a nos unirmos a partir de nossas próprias pertenças religiosas em uma oração a Deus, com a confiança de filhos e a consciência de nos reconhecermos irmãos”.

Um passo gigantesco rumo à paz em todo o mundo, a partir da ótica do mesmo Deus que nos criou e nos observa.  “Por isto estamos aqui, porque sabemos e cremos que precisamos da ajuda de Deus.  Não renunciamos às nossas responsabilidade, mas invocamos a Deus como um ato de extrema responsabilidade, face às nossas consciências e de frente para nossos povos”, afirmou Francisco, insistindo que “precisa-se ter valor para dizer sim ao encontro e não ao enfrentamento; sim ao diálogo e não à violência; sim à negociação e não à hostilidade; sim ao respeito pelos pactos e não às provocações; sim à sinceridade e não à hipocrisia”.

Francisco saiu pessoalmente para receber os dois mandatários.  Seguindo o protocolo, o primeiro a chegar foi Mahmoud Abbas, com quem o Papa manteve um breve encontro em uma das salas da Casa Santa Marta.  Ambos os líderes, católico e palestino, se mostraram sorridentes e esperançosos o tempo todo.

Que Deus te abençoe!

Vinte minutos depois, chegou o Presidente israelita, Simon Peres.  A cena do abraço entre os líderes palestino e israelita, tendo o Papa como testemunha, dará volta ao mundo e, talvez, sirva para um futuro de paz na Terra Santa.  “Que Deus te abençoe!”, foi a saudação de Peres a Abbas.  Os sorrisos se multiplicaram quando chegou um quarto convidado, o Patriarca Bartolomeu.

Os quatro, junto com o zelador da Terra Santa, entraram na van que os levou até os jardins do Vaticano, onde autoridades católicas, ortodoxas, judaicas e muçulmanas os esperavam para dar início à oração pela paz histórica.

Poucos minutos depois, os cinco entraram nos jardins do Vaticano, em um determinado lugar escolhido, com o mimo para a oração; a cúpula de São Pedro, atrás deles.  No centro, Abbas, Francisco e Peres.  À esquerda, Bartolomeu.  De ambos os lados, representantes das três religiões do Livro e dos governos palestino e israelita.

A cerimônia começou com uma introdução musical; depois, houve a menção de que “israelitas, palestinos, judeus, cristãos e muçulmanos se encontram reunidos para oferecer sua oração pela paz na Terra Santa e para todos seus habitantes”.

O lugar escolhido, que carece de conotações religiosas, é um espaço gramado em forma triangular, localizado entre a Casina Pio VI, sede da Academia Pontifícia das Ciências, e os Museus do Vaticano, rodeado por arbustos e com vista para a cúpula de São Pedro.

Antes do começo da celebração, o Papa Francisco pediu em seu Twitter: “Que todas as pessoas de boa vontade se unam em nossa oração pela paz no Oriente Médio”.

O pedido pela paz

Foram recebidos com um breve concerto de violino, oboé e harpa (que acompanharam a transição entre os vários momentos do ato) e uma explicação em inglês a respeito da ordem da intervenção, considerada apenas em termos de ordem histórica: primeiro os judeus, segundo os cristãos e finalmente os muçulmanos.  A primeira parte da celebração foi um louvor a Deus pelos dons da criação, enquanto que em um segundo momento se pediu perdão pelos pecados contra Deus e contra o próximo.  Finalmente, o momento mais esperado: o pedido de oração pela paz entre judeus e palestinos, em toda Terra Santa, em todo o Oriente Médio, por toda a Humanidade.

A oração judaica foi, sem dúvida, a mais longa, com a intervenção de vários representantes.  Posteriormente, falaram um representante dos ortodoxos e o Cardeal Turkson, representando a Igreja Católica.  Os representantes islâmicos também foram vários, aumentando o momento principal da oração, a intervenção do Papa e, após, a dos Presidentes Peres e Abbas.

No final dessas intervenções, um novo abraço e um gesto de paz.  Os quatro líderes plantaram, nos jardins do Vaticano, uma pequena oliveira, símbolo da paz, a qual tanto se almeja e se deseja, “e que não será fácil, porém lutaremos por ela no que nos resta de vida” (como colocou Peres).

Estas foram as palavras do Papa:

Senhores Presidentes, Santidade, irmãos e irmãs!

Com grande alegria vos saúdo e desejo oferecer, a vós e às ilustres Delegações que vos acompanham, a mesma recepção calorosa que me reservastes na minha peregrinação há pouco concluída à Terra Santa.

Agradeço-vos do fundo do coração por terdes aceite o meu convite para vir aqui a fim de, juntos, implorarmos de Deus o dom da paz. Espero que este encontro seja  um caminho à procura do que une para superar aquilo que divide.

E agradeço a Vossa Santidade, venerado Irmão Bartolomeu, por estar aqui comigo a acolher estes hóspedes ilustres. A sua participação é um grande dom, um apoio precioso e testemunho do caminho que estamos a fazer, como cristãos, rumo à plena unidade.

A vossa presença, Senhores Presidentes, é um grande sinal de fraternidade, que realizais como filhos de Abraão, e expressão concreta de confiança em Deus, Senhor da história, que hoje nos contempla como irmãos um do outro e deseja conduzir-nos pelos seus caminhos.

Este nosso encontro de imploração da paz para a Terra Santa, o Médio Oriente e o mundo inteiro é acompanhado pela oração de muitíssimas pessoas, pertencentes a diferentes culturas, pátrias, línguas e religiões: pessoas que rezaram por este encontro e agora estão unidas conosco na mesma imploração. É um encontro que responde ao ardente desejo de quantos anelam pela paz e sonham um mundo onde os homens e as mulheres possam viver como irmãos e não como adversários ou como inimigos.

Senhores Presidentes, o mundo é uma herança que recebemos dos nossos antepassados​​, mas é também um empréstimo dos nossos filhos: filhos que estão cansados ​​e extenuados pelos conflitos e desejosos de alcançar a aurora da paz; filhos que nos pedem para derrubar os muros da inimizade e percorrer a estrada do diálogo e da paz a fim de que triunfem o amor e a amizade.

Muitos, demasiados destes filhos caíram vítimas inocentes da guerra e da violência, plantas arrancadas em pleno vigor. É nosso dever fazer com que o seu sacrifício não seja em vão. A sua memória infunda em nós a coragem da paz, a força de perseverar no diálogo a todo o custo, a paciência de tecer dia após dia a trama cada vez mais robusta de uma convivência respeitosa e pacífica, para a glória de Deus e o bem de todos.

Para fazer a paz é preciso coragem, muita mais do que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não à briga; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades; sim ao respeito dos pactos e não às provocações; sim à sinceridade e não à duplicidade. Para tudo isto, é preciso coragem, grande força de ânimo.

A história ensina-nos que as nossas forças não bastam. Já mais de uma vez estivemos perto da paz, mas o maligno, com diversos meios, conseguiu impedi-la. Por isso estamos aqui, porque sabemos e acreditamos que necessitamos da ajuda de Deus. Não renunciamos às nossas responsabilidades, mas invocamos a Deus como ato de suprema responsabilidade perante as nossas consciências e diante dos nossos povos. Ouvimos uma chamada e devemos responder: a chamada a romper a espiral do ódio e da violência, a rompê-la com uma única palavra: «irmão». Mas, para dizer esta palavra, devemos todos levantar os olhos ao Céu e reconhecer-nos filhos de um único Pai.

A Ele, no Espírito de Jesus Cristo, me dirijo, pedindo a intercessão da Virgem Maria, filha da Terra Santa e Mãe nossa:

Senhor Deus de Paz, escutai a nossa súplica!

Tentámos tantas vezes e durante tantos anos resolver os nossos conflitos com as nossas forças e também com as nossas armas; tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas… Mas os nossos esforços foram em vão. Agora, Senhor, ajudai-nos Vós! Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz, guiai-nos Vós para a paz. Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: «nunca mais a guerra»; «com a guerra, tudo fica destruído»! Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor que nos criastes e chamais a viver como irmãos, dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz; dai-nos a capacidade de olhar com benevolência todos os irmãos que encontramos no nosso caminho. Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão. Mantende acesa em nós a chama da esperança para efetuar, com paciente perseverança, opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz. E que do coração de todo o homem sejam banidas estas palavras: divisão, ódio, guerra! Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre «irmão», e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, salam! Amém.

 

 

 

Com material de Religião digital, Espanha (artigo de Jesús Bastante), AICA, Boletim do Santuário de Fátima, Rádio Vaticano.

Original em espanhol. Tradução para o Português: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil


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