ARGENTINA, mca. Atenta aos reiterados pedidos do Papa Francisco, a Campanha da Argentina mostra como – sempre e quando se encarne o espírito do Sr. João, fiel à sua origem – dá uma resposta em todos os sentidos. Daí o perigo de modificar ou tergiversar esse espírito impresso pelo Sr. João, tal como está refletido no Documento de Consenso 1989, aprovado pelo Conselho Geral: “A Campanha não é uma metodologia pastoral eficiente. É um processo de vida surgido da irrupção de graças do Santuário, uma corrente arraigada em uma história concreta, ligada inseparavelmente à vida do Sr. João e à semente fecunda semeada pelo Padre Kentenich nesta terra e em seu coração”.
Apresentamos aqui, como inspiração a todos, a carta do Pe. Guillermo Carmona, Assessor Nacional da Campanha, um dos primeiros documentos – se não o primeiro – fora de schoenstatt.org, em clara sinaliza ao chamado e ao exemplo de Francisco e à vocação missionária de Schoenstatt. Ou seja, o Schoenstatt com selo de 2014. Com selo de Francisco e em aliança solidária com ele.
Caros Missionários da Campanha da Mãe Peregrina.
Neste mês, em que celebramos a festa da Assunção de Maria, venho até vocês para lhes enviar uma cordial saudação e algumas linhas inspiradoras.
Quero compartilhar com vocês uma inquietação que, ultimamente, está em minha mente e em meu coração: “A contribuição da Campanha aos acentos pastorais e eclesiais do Papa Francisco”. Tenho a certeza interior que nossa “esforçada Campanha” é uma grande resposta aos anseios do Santo Padre. Começo me perguntando: “Quais são os recursos da Igreja que Francisco acentua especialmente?”. Mais adiante vou colocá-los em relação com a Campanha.
Em primeiro lugar: é uma Igreja que sai ao mundo. Igreja missionária.
Ele afirma em uma carta que enviou aos bispos argentinos, em abril:
“Uma Igreja que não sai, a curto e a longo prazo, fica enferma na atmosfera viciada de sua reclusão. É verdade também que, com uma Igreja que sai às ruas, pode acontecer o que acontece com qualquer pessoa que sai às ruas: sofrer um acidente. Diante dessa possibilidade, quero lhes dizer francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada que uma Igreja enferma. A enfermidade típica da Igreja fechada em si mesma é a auto-referência; olhar para si mesma, estar curvada sobre si mesma, como aquela mulher do Evangelho. É uma espécie de narcisismo que nos conduz ao mundanismo espiritual e ao clericalismo sofisticado, impedindo-nos de experimentar ‘a doce e confortadora alegria de evangelizar’”.
A Campanha é missionária por excelência. Seus portadores são missionários e sua essência é sair, como Maria, a visitar, a ir aos lugares onde se faz necessária, para levar Jesus, a alegria, a redenção e a graça.
Em segundo lugar: é uma Igreja que vai para a periferia.
Francisco já tinha essa linha pastoral quando era Arcebispo de Buenos Aires. A periferia deve ser entendida tanto em sentido geográfico como anímico: aqueles que estão longe do centro. Aos sacerdotes, assim como aos Bispos, perguntava-lhes se tinham ‘cheiro de ovelha…’. É preciso ir aos lugares afastados da fé e não ficar na sacristia ou envolvido nos despachos paroquiais.
A Campanha vai à periferia no duplo sentido: lugares distantes, onde o sacerdote e os agentes de pastoral não chegam. Porém, visita também aqueles que estão afastados da Igreja, que estão afastados dos Sacramentos, mas querem a visita de Maria e a recebem com amor de filhos.
Terceiro: é uma Igreja que não discrimina e, portanto, serve a todos.
Causou-me impacto a resposta do Papa a um dos jornalistas que, em sua viagem de volta para Itália, lhe perguntou a respeito dos homossexuais: “Quem sou eu para julgá-los?”. Sua linha pastoral é celebrar o batismo a todos que o desejem, acolher os casais em nova união, buscar as ovelhas perdidas: hoje, mais além das que estão dentro do redil.
A Campanha cumpre essa expectativa do Papa. Não pergunta se as pessoas que a recebem estão em situação “regular”, se levam uma vida sacramental ou se são casados legalmente. A Virgem ama todos eles. Fico emocionado com a Campanha chegando para os encarcerados, para as mulheres grávidas, para os angustiados; inclusive, para pessoas de outras religiões, que estejam abertas para recebê-la.
Quarto: uma Igreja que testemunha a sua fé a todos.
Uma Igreja que não se cala, que não ‘fica na varanda’, como Francisco pediu aos jovens no Brasil. Uma Igreja que não se amedronta diante das dificuldades do mundo e da rejeição de alguns. É servidora da vida, do homem, e, portanto, de Deus.
A Campanha é “a pastoral do futuro”, dizia Padre Kentenich aos sacerdotes alemães, quando lhe perguntaram sobre o tema. Os missionários testemunham sua fé, não se calam, sabem que Maria é a grande missionária e que, portanto, realizará milagres. Serve à vida tanto dentro das paróquias (as mil Ave-Marias, por exemplo), como fora delas.
Quinto: é uma Igreja pobre e que vive a pobreza.
Não são necessárias muitas explicações. Os muitos gestos do Papa e suas palavras indicam uma mudança substancial nesse aspecto da Igreja. Entre os missionários da Campanha, encontramos pessoas de todas as condições sociais; em geral, pessoas humildes, mas com uma enorme fé. Pobre é aquele que depende de Deus porque sabe que somente Ele tem a verdadeira riqueza.
Sexto: uma Igreja comprometida com os homens.
Novamente, o Papa aos bispos argentinos:
“A enfermidade típica da Igreja fechada em si mesma é a auto-referência; olhar para si mesma, estar curvada sobre si mesma, como aquela mulher do Evangelho… Desejo a todos vocês essa alegria que, tantas vezes está unida à Cruz, porém que nos salva do ressentimento, da tristeza e da reclusão clerical. Essa alegria que nos ajuda, cada dia, a sermos mais fecundos, doando-nos e desdobrando-nos no serviço ao santo povo fiel de Deus”.
A Campanha leva muito a sério esse compromisso com todos os homens, de todas as condições e em todas as circunstâncias. Vejam a luz dessas modalidades, em especial quando serve aqueles que estão sozinhos e mais necessitados.
Sétima: é uma Igreja mariana e, por isso, muito respeitada por todos.
A prédica do Papa em Aparecida é de tal densidade mariana e de uma ternura filial tão profunda que comove. Maria tem que estar na nova evangelização, levando alegria, bondade, confiança, dedicação, estímulo, fidelidade generosa e humilde. “A Virgem nos ensinará o caminho da humildade e o trabalho silencioso e valente que leva para a frente o zelo apostólico”(da mesma carta aos bispos).
A Campanha da Mãe Peregrina leva todos a Ela, atualizando Visitação, Caná de Galileia, Nazaré e Cenáculo. Ela é a grande protagonista!
Claro, enormes coincidências. Como podemos não colocar mãos à obra e sentirmo-nos especialmente motivados a cada dia! Faço meu o final da carta de Francisco, que mencionei em várias passagens, para dizer-lhes, daqui do Santuário: “Que Jesus os abençoe e a Virgem Maria cuide de todos”.
Unidos sempre,
Pe. Guillermo Carmona
Tradução para o Português: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil