Posted On 2014-06-22 In Schoenstatteanos

Ser capaz de trabalhar em rede

CHILE, mda. Quem são as pessoas portadoras de Schoenstatt ao seu segundo século de existência? São homens e mulheres, jovens e adultos, europeus e africanos, sacerdotes e leigos, schoenstattianos desde sempre e também aqueles que o descobriram há pouco. São missionários, profetas, pastores, padres, visionários, construtores, guardiões, conquistadores. São pessoas com biografias únicas, com suas feridas e seus momentos de glória, com histórias de aliança que valem ser contadas. Pessoas como Rolando Cori, entrevistado por schoenstatt.org. Foi batizado em Bellavista. Compôs obras musicais para Schoenstatt. Participou na celebração dos 65 anos do 31 de maio em Bellavista e ficou espantado por não ter nenhuma notícia a respeito disso em schoenstatt.org. Aconteceu o que se segue: terminou sendo entrevistado….

Quem é Rolando Cori?

Nasci em Santiago do Chile em 1954. Recebi uma esmerada formação humanística e científica, porque meus pais eram bioquímicos e acadêmicos na Universidade do Chile, a principal universidade do País. Como eles não professavam nenhuma religião, meu irmão e eu não fomos batizados. Aos 15 anos, comecei a estudar violão clássico e, por meio da música e de certas leituras, comecei a me aproximar da ideia de uma transcendência. Uns amigos colegas da escola me convidaram para conhecer o Movimento de Schoenstatt em Bellavista e, no dia de Pentecostes de 1973, fui batizado ali. Já no Movimento, compus junto com outros amigos a “Cantata do 31 de Maio”, com texto de J.E. Coeymans, obra que estreou nos 25 anos da missão, em 1974. Participei da Juventude Universitária e depois de passar dois anos pela comunidade dos Sacerdotes de Schoenstatt, voltei à música e me formei em composição pela Universidade do Chile. Posteriormente, com bolsas de estudo da DAAD e KAAD, concluí meus estudos de pós-graduação na Escola Superior de Música de Friburgo/Alemanha. Desde 1983, sou professor no Departamento de Música da Universidade do Chile, onde leciono composição, harmonia e contraponto. Fui coordenador da carreira de composição em pré e pós graduação, presidente da Associação Nacional de Compositores e Senador Universitário. Minhas obras musicais estrearam e foram gravadas em vários países. Atualmente, faço parte, junto com outros acadêmicos músicos, do grupo de improvisação musical “Tierra de Larry” e estou cursando doutorado em filosofia, menção estética. Em 1985, casei com María Elena Gronemeyer que, para o centenário do nascimento do Pe. Kentenich, trabalhou em Schoenstatt como jornalista, na Geschäftstelle’85. Temos dois filhos: Pedro, engenheiro, e José, artista plástico. Já alguns anos, pertenço ao primeiro Curso da União dos Homens no Chile, cujo ideal é “Apóstolos do Pai, Pão da Aliança para a Cidade Nova”.

Você é professor de música, fez várias contribuições musicais para Schoenstatt. Como é a relação Schoenstatt-música? Como, musicalmente, se expressa o mistério e a missão de Schoenstatt?

Quando voltei ao Chile, depois de ter vivido com os Padres de Schoenstatt, estudei composição, porque via minha missão em evangelizar por meio da música, assim como cheguei à fé e a Schoenstatt por meio da música. Como anteriormente tinha muitas coisas não concluídas – engenharia, violão clássico e o caminho ao sacerdócio – disse à Mãe de Deus que se me deixasse terminar esse estudo, faria música para Ela. A Mãe de Deus levou o pedido a sério e me deu como presente participar como compositor em vários projetos com o Pe. Joaquín Alliende: “Peldaños al Padre” (Passos para o Pai), um oratório para orquestra e solistas, que estreou em Schoenstatt para o centenário do Pe. Kentenich, em 1985; “Redemptoris Mater”, cantata para grupo folclórico e solista que estreou para o Ano Mariano em 1987 em Kevelaer e Rímini e a “Missa Mburucuyá” para orquestra e solita, que estreou para os 500 anos da Evangelização da América Latina (1992) em Santiago.

Depois fiz meus próprios textos; estudei profundamente a Missão do 31 de Maio, lendo a Epístola Perlonga. Daí saíram dois ciclos para canto, violão, sons eletrônicos e vídeo, “Bailecitos com la Novia” e “La ciudad hermosa”.

Consegui uma relação da música como arte e a funcionalidade da música em Schoenstatt. Entretanto, minha música está longe de alcançar o que existe em algumas obras plásticas em Schoenstatt, como a estátua do Pe. Kentenich de Juan Eduardo Fernández, da Cruz da Unidade do Pe. Ángel Vicente Cerró, que são verdadeiras sínteses de arte e fé; assim como os trabalhos de artistas plásticos como María Jesús Fernández, Cristián Pizarro e vários outros. Parece-me que em Schoenstatt existem cantos comunitários muitos bonitos, novos e antigos; porém ainda não se chegou a uma música que seja considerada como arte e forma de enculturação da Aliança de Schoenstatt.

Por que falo isso? Não acredito que seja por falta de trabalho dos músicos em Schoenstatt. Desde há muito tempo, os filósofos vêm dado à música um status privilegiado no sentido de tocar a afetividade e ir mais além da palavra. Será que nós, músicos, ainda não vivemos a Aliança com profundidade suficiente?

Estamos a poucos dias depois do aniversário do 31 de maio, que foi celebrado com grande participação no Santuário de Bellavista. Para você, o que significa celebrar o 65o aniversário do 3o Marco da história de Schoenstatt, no ano jubilar da Aliança de Amor?

O Pe. Kentenich disse, no início dos anos 50, em Bellavista, que com o Ato do 31 de Maio de 1949 começava a ser escrita a história propriamente dita da Família e que a anterior era a pré-história. Para mim, isso é uma realidade: o 18 de outubro e o 20 de janeiro são uma preparação a tudo que o Pe. Kentenich arrisca na Epístola Perlonga. A Aliança de Schoenstatt é uma atualização do Batismo de Cristo, no qual somos submergidos com Maria, sua Mãe e Esposa. Por ela e com ela, o Pai nos torna fecundos na construção de uma nova ordem social, uma Cidade Nova, da qual ela é protagonista. As palavras da Pequena Consagração (Pe. Zucchi, século XVI) são a semente disso tudo, pois a percepção do mundo sensível, ao ser consagrada, é feita corpo do eterno feminino. O ato do 18 de outubro de 1914 marca uma aceleração na santificação de jovens estudantes que, nos atos sucessivos que marcam o desenvolvimento da Obra – o 20 de janeiro de 1942 e o 31 de maio de 1949 – terão o sentido de renovar a entrega mútua de Cristo e de Maria, para crescer na liberdade interior e no caráter virginal-maternal como carisma da Igreja das “novas águas”.

Na Conferência 2014, quando se cristalizava o enfoque missionário do Jubileu, alguém comentava: “Este é o passo do 31 de maio”. Qual é o “passo do 31 de maio” que Schoenstatt deve dar neste momento de sua história?

Acredito que significa ser capaz de trabalhar em rede. Em uma rede, existem nós importantes e pequenos, mas que se manifestam em um trato mútuo do “nada sem ti, nada sem mim”. Com certeza, isso não significa um “dever ser”, um imperativo categórico. É algo que brota do coração, onde, em Schoenstatt, mulheres e homens se entregam uns aos outros, assim como Cristo e Maria, assim como o Pe. Kentenich e colaboradores e as comunidades femininas fundadas por ele e que se entregaram mutuamente, presenteando a Família alemã uma fecundidade inusitada, entre 1920 e final dos anos 40, capazes de vencer as ‘heresias antropológicas’. Este ‘como’ se trata entre as comunidades masculinas e femininas foi algo que o Pe. Kentenich destacou no Schoenstatt chileno dos anos 50. Este é o nó da rede, o que significa ter tato, o que também é algo muito musical.

O Papa Francisco incentiva os movimentos, toda a Igreja, a sair às ruas, a não se encerrarem em si mesmos, a não adoecerem com a introspecção. Isso vale para Schoenstatt? Tem relação com a missão do 31 de maio?

Acontece alguma coisa que nos impede de manter o equilíbrio entre a tensão do “consigo mesmo” e o “fora de si”. Ou caímos em um exagero, ou em outro. O que nos falta é saber pensar e atuar “em rede”. A Aliança do Pe. Kentenich é agora uma rede de Santuários de Schoenstatt presente quase no mundo todo, que nasceu há cem anos também como alma dos santuários marianos e lugares de peregrinação existentes na terra. A comunidade dos santos é uma rede, as famílias religiosas da Igreja são uma rede, etc. O contrário do que é o pensar e atuar de forma unidirecional, do centro à periferia. Quando se chega a compreender que o nó da rede é a Aliança do Novo Adão e da Nova Eva, onde mutuamente se é pão partido para o outro, é mais fácil dar a vida para encarnar as coisas centrais do 31 de maio como obediência livre às causas segundas e o experimentar-se como atividade predileta.

Desde muito tempo, me dedico à improvisação musical em grupo. O que posso fazer musicalmente com um instrumento parte da escuta do outro. Cria-se um “momento de escuta” que é bidirecional, que completa o “ponto de vista”. Inclusive, fazemos concertos pela Internet com música e dança improvisadas nas redes sociais. No ano passado, propusemos ao Team 2014 uma atividade artística nessa linha.

Francisco é o Papa de nosso Jubileu. Existe uma corrente de uma aliança solidária com Francisco. Como você vê essa iniciativa?

Uma aliança solidária com o Papa Francisco seria uma atualização das promessas feitas pelo Pe. Kentenich aos Pontífices de sua época, Pio XII e Paulo VI, no sentido de se conseguir ver a autoridade paternal na autoridade hierárquica da Igreja. Isso também deve ser visto na autoridade sacerdotal próxima. O Pai no sacerdote que nos paz Pão para todos: aí está o segredo do sair “fora de si”. Sem isso é impossível e acaba terminando em certa rivalidade de funções entre clero e leigos.

Qual é a contribuição de Schoenstatt para a Igreja e a sociedade, neste momento da história? Aonde você vê o potencial maior de Schoenstatt na atualidade?

Em primeiro lugar, dar testemunho de santidade ao mundo, algo que de diferentes formas todos os movimentos e comunidades devem fazer. A pergunta é como. Acredito que a contribuição de Schoenstatt, usando a metáfora musical e o jogo de palavras em espanhol, será na linha de “como tocar”, como cantar em meio ao ruído da cidade, de forma que o ruído também seja música.

O que você gosta em schoenstatt.org? Qual a missão que tem?

Parece-me uma instância imprescindível para se ficar sabendo uns dos outros a nível internacional. Devo confessar que dedico pouco tempo para ler um pouco além dos títulos; sei que esse informativo on line não conta com uma equipe de profissionais remunerada; que não procura notícias, mas que depende do que as Famílias locais do mundo todo enviam. Por isso, não me sinto bem em levantar a voz. O mais importante para mim a respeito do que schoenstatt.org me traz é que me ajuda a crescer no amor à Família Internacional, a acreditar nela, a aceitá-la como é, a por em prática o que quero ser como discípulo do Pe. Kentenich que, graças a ela, chegou a amar a Igreja da forma que amou. Schoenstatt.org é a expressão de que neste momento somos mais além de idealismos e especulações. Esta é a Família de Schoenstatt com suas “rugas” próprias de sua idade; porém é aquela pela qual Cristo se entregou na Aliança, para presenteá-la toda imaculada ao Pai (Cf. “Encíclica Retemptoris Mater).

Muito obrigado, Rolando; agora se tem uma notícia a respeito da celebração do 31 de maio em Bellavista. Enviado por alguém da família local, uma iniciativa que mostra claramente o conceito de comunicação do Pe. Kentenich.

Rolando Cori Traverso
Prof. Assist. do Depto. de Música da Faculdade de Arte, U. de Chile
Coordenador RRII
Senador Universitário
Casilla 2100, Santiago, Chile

https://sites.google.com/a/u.uchile.cl/rcori/

Original em espanhol – Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna

 

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