Posted On 2011-01-31 In Jubileo 2014

A peregrinação 2014 principia com o Ano da Corrente do Pai

Pe. Alberto Eronti. Amiúde, tal como Dante, o Padre Kentenich descreveu a vida de fé e a relação entre Deus e homem como uma “divina comédia”. É evidente que nessa comédia os atores são Deus e o homem, Deus e a humanidade. Partindo dessa perspectiva, nas últimas semanas tenho vindo a refletir a respeito de alguns aspetos da vida do Fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, de modo particular , a respeito de seu “lugar” singular na Família.

 

 

Tive a alegria de conhecer pessoalmente alguns fundadores e fundadoras de Movimentos e de novas comunidades surgidos na Igreja ao longo do séc. XX. Todos eles, sem exceção, ocuparam ou ocupam, desde o início, um lugar predominante em suas fundações. A exemplo de Cristo Jesus, foram ou são um centro indiscutível para seus adeptos. Penso em Don Luigi Giussani, Chiara Lubich, Andrea Riccardi etc. Ao fazer menção deles, constato, uma vez mais, como diferente fora o lugar que José Kentenich cientemente ocupou no Movimento Apostólico de Schoenstatt durante os primeiros 27 anos de sua fundação. Para tal, passo a citar dois exemplos: Quando, em 1919, estava por principiar a Jornada de Hörde, contraiu uma “enfermidade estratégica”, de sorte que o impossibilitou de participar de tal jornada; por ocasião do Jubileu de Prata do Movimento Apostólico de Schoenstatt, não se encontrava na Alemanha, senão na Suíça. Repetidamente acentuava que queria permanecer em segundo plano e colocar a Mãe Três Vezes Admirável no centro das comunidades surgidas no e a partir de seu pequeno Santuário, na força da Aliança de Amor.

Refletindo a paternidade de Deus

E, de repente, tudo isso mudou. O que para a Família de Schoenstatt poderia ser um golpe voraz, foi por Deus utilizado para levar a uma transformação fundamental na relação entre o fundador e a Obra que Deus lhe havia incumbido de fundar e desenvolver. Quando os agentes da Gestapo o procuraram em Schoenstatt e intimidaram a apresentar-se na Delegacia da Polícia de Coblença – o que terminou com a ida para o campo de concentração – tudo poderia ter chegado a seu término. Porém, deu-se o contrário. Aquele que havia querido permanecer à sombra e “à retaguarda” de Nossa Senhora foi catapultado para o primeiro plano, mediante um surpreendente estratagema do grande “protagonista”.

Por que efetuou Deus este estratagema de seu amor providente? Partindo de uma afirmação de Santo Tomás de Aquino, o Padre Kentenich daria como resposta: Deus é a causa primária e deu ao homem, como causa secundária, a tarefa de refletir algo dele. Como presbítero, José Kentenich exerceu uma paternidade surpreendentemente profunda e abarcadora para com aqueles que entravam em contato com ele. Ao mesmo tempo, não se trata meramente de uma expressão peculiar de sua estrutura de personalidade, senão que a maneira de ele ver seu sacerdócio estava cientemente direcionada a refletir algo da infinita paternidade de Deus. Certa vez, ao falar a casais a respeito do papel do homem para com os filhos, disse: “… esta autoridade paterna e o ser pai devem ser uma imagem fiel, um reflexo de Deus Pai e da autoridade divina. Meus filhos devem experimentar em mim, como pai, o Pai eterno. Devo fazer minhas Suas qualidades, devo ser reflexo Seu.” Esta realidade enraizou-se tão profundamente em sua alma presbiteral que chegou a autodefinir-se: “Nasci para ser pai, sempre pai”.

A relação pessoal com o fundador

Isto foi, tanto em sua vida quanto depois de sua morte, a experiência que tocou e toca seus filhos espirituais. Por isso, quando cada comunidade religiosa, cada Movimento da Igreja acentua o papel fundamental de seu fundador ou de sua fundadora, há algumas famílias religiosas que os denominam “pai” ou “mãe”. Sem entrar em detalhes acerca de demais comunidades, posso dizer que a Família de Schoenstatt tem mister da relação pessoal, calorosa e filial para com o seu Fundador. Esta relação peculiar é elemento constitutivo do seu ser e de sua missão. Para tal, descobrimos a luz elucidativa nas palavras de Cristo Jesus: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” Esta lei da Trindade realiza-se outrossim na dimensão natural; por isso a paternidade humana é chamada a refletir algo de Deus. Também frisa que no plano natural é a mãe que conduz os filhos ao pai, acrescentando que não somente Jesus Cristo – o Filho – nos ensina a conhecer o Pai, senão outrossim Maria Santíssima. Ela, como Mãe da Igreja, realiza na Família de Deus a função que uma mãe realiza no lar.

A nova imagem de Deus

O testemunho da maior parte dos schoenstattianos é condizente: “Nossa Senhora conduziu-me ao Padre Kentenich” ou “O Padre Kentenich conduziu-me a Nossa Senhora”. Sem embargo, podemos então também acrescentar o que José Kentenich denomina a “nova imagem de Deus”. Trata-se da imagem que os homens e mulheres de hoje necessitam, a imagem de um Deus Pai, rico em amor e misericórdia; este último reflete, no dizer de João Paulo II, “o lado materno de Deus”. Sua capacidade de acolher, de doar-se e de ser lar, do perceber as necessidades mais profundas de seus filhos espirituais, sua irradiação do sobrenatural fizeram do Padre Kentenich uma vera imagem do presbítero com traços paternos e maternos; de um sacerdócio que se manifesta na imagem do Bom Pastor e do pelicano.

Para ser pai, sempre pai

Tive a dita de conhecê-lo, de falar com ele, de abrir-lhe o coração naqueles anos de formação. Ao refletir sobre o que Deus me concedeu mediante a pessoa de nosso Pai Fundador, sempre me impressiona de novo ao recordar que José Kentenich poderia não ter sido presbítero, pois dependia de um único voto no Conselho de sua comunidade… Com a pergunta: que teria sido de mim, se ele não tivesse sido presbítero?, pude ainda, com maior clareza, valorizar a dádiva de sua pessoa e vocação, de seu carisma e missão. Que teria sido de mim, se ele não tivesse sido presbítero? Não pretendo fazer aqui especulação alguma, pois ninguém pode dizer o que teria sido de sua vida, se…; porém, certo estou de que eu, se o Padre Kentenich não tivesse exercido essa forte influência paterna e presbiteral sobre minha pessoa, talvez não teria descoberto que o meu caminho não era a engenharia, senão o sacerdócio de Cristo Jesus. E confesso, apesar da cordialidade e assistência que tenho recebido de muitos confrades meus, ninguém me deu tanto como ele. Ninguém me tocou tanto com uma única frase e gesto como este homem de Deus, presbítero e pai. Sim, sem dúvida alguma, ele nasceu para ser pai, sempre pai.

Tradução: Abadia da Ressurreição, Ponta Grossa, PR, Brasil

 

 

 

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