ALEMANHA, Peter Hagmann •
A introdução de Peter Hagmann ao Caminho Sinodal da Igreja na Alemanha e ao Sínodo Mundial começou com uma imagem colorida dos participantes nas mesas redondas na Sala de Audiências do Vaticano por ocasião da terceira etapa do Sínodo Mundial 2021-2024, nomeadamente a primeira Assembleia Geral do Sínodo sobre Sinodalidade em Outubro de 2023, uma imagem que foi coberta pela imprensa mundial. Quase 15 participantes se reuniram via Zoom na tarde deste Domingo, vindos da Alemanha, Austrália, Chile e Espanha, para se informarem e trocarem informações sobre o Caminho Sinodal e o Sínodo Mundial. —
Foi o maior inquérito a membros de que há memória. Têm de o ler outra vez. O maior inquérito a membros alguma vez realizado. A cada cristão, a cada indivíduo, a cada grupo, a cada paróquia, a cada Associação, a cada Ordem religiosa, a cada Movimento, foi pedido, na primeira fase, a “Consulta ao Povo de Deus”, que dissesse e escrevesse o que lhe ia na alma em relação à Igreja, à fé, às preocupações, às perguntas, às tarefas. Em todos os países, em todo o lado. É a primeira vez na história da Igreja que toda a Igreja é convocada para um sínodo e que todos são convidados a participar. A partir destas vozes, foram produzidos textos de síntese, primeiro a nível diocesano, depois a nível nacional e finalmente a nível continental, abertos e diversificados como as muitas vozes, e finalmente surgiu um Instrumentum Laboris. Pelo menos para um cristão, este documento tornou-se uma experiência indescritível de Deus: “Há aí uma frase que é minha”.
Um pouco antes, em 2019, teve início na Igreja da Alemanha um processo denominado “Caminho Sinodal”, uma procura conjunta de medidas para reforçar o testemunho cristão.
“Um ponto de viragem romano”
A composição da “Assembleia Geral para o Sínodo dos Bispos”, como esclareceu o orador, foi a primeira vez que 70 dos 370 participantes eram não-Bispos – padres, religiosos e leigos – com pleno direito de voto. Destes 70 “não-Bispos”, a proporção de mulheres voltou a ser de 50%. Esta composição pode ser considerada um “ponto de viragem romano”, cuja importância não deve ser subestimada.
O diálogo no Espírito
Depois de termos discutido os procedimentos acima referidos, passámos à essência do processo sinodal, nomeadamente o “diálogo no Espírito”, em que a escuta, a partilha, o questionamento e o sentir do Espírito Santo e da vontade de Deus ocupam um lugar central.
Normalmente, só conhecemos o processo de prós e contras, ou seja, a discussão, em que normalmente se tenta convencer a outra pessoa, o que muitas vezes só leva a palavras mais incisivas, mas raramente à convicção da outra pessoa.
Pelo contrário, um princípio essencial da comunicação sinodal é: “O Senhor é a pedra angular que torna estável o edifício, e o Espírito, como mestre da harmonia, ajuda a transformar a confusão em sinfonia” (IL 39).
Uma Igreja que escuta
Uma Igreja sinodal vê-se a si própria como uma Igreja de escuta, de encontro e de comunhão na diversidade, o que conduz a uma Igreja humilde que deve ser aberta e honesta. Uma Igreja que sabe enfrentar as tensões e carrega em si a saudável inquietação da incompletude e se aproxima da fonte do mistério que celebra na liturgia.
No debate que se seguiu, tornou-se claro que, para a maioria dos participantes, o processo sinodal era mais uma nota lateral, na qual só tinham participado uma vez, sob a forma de um questionário.
Na imprensa, foi dada mais atenção às discussões estruturais polémicas do que ao processo e às explicações detalhadas dos tópicos individuais no documento final, que não é de modo algum uma “conclusão”, mas que será discutido mais tarde até à segunda assembleia plenária em Outubro de 2024.
O que é que aprendemos com tudo isto e ajudámos a dar-lhe forma?
Os participantes comentaram a forma como testemunharam e viveram este processo. Todos viram questões políticas, como o sacerdócio feminino e o celibato obrigatório dos padres, em primeiro plano, mas não tanto abordagens frutuosas e “diálogo no Espírito”.
No entanto, uma questão cristalizou-se, nomeadamente a questão central da fé: o que é que Deus tem a ver com a MINHA vida e o MEU dia a dia?
Esta questão leva-nos ao que talvez seja o verdadeiro desafio para nós cristãos e, portanto, para a Igreja, ou seja, a questão da fé, do testemunho da fé e da transmissão da fé.
Esta preocupação está também expressa no Adsumus Sancte Spiritus, a oração que acompanha o Sínodo e que marcou o fim de uma noite emocionante.
Eis-nos aqui, diante de Vós, Espírito Santo!
Eis-nos aqui, reunidos em vosso nome!
Só a Vós temos por Guia:
vinde a nós, ficai connosco,
e dignai-vos habitar em nossos corações.
Ensinai-nos o rumo a seguir
e como caminhar juntos até à meta.
Nós somos débeis e pecadores:
não permitais que sejamos causadores da desordem;
que a ignorância não nos desvie do caminho,
nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais.
Que sejamos um em Vós,
caminhando juntos para a vida eterna,
sem jamais nos afastarmos da verdade e da justiça.
Nós vo-lo pedimos
a Vós, que agis sempre em toda a parte,
em comunhão com o Pai e o Filho,
pelos séculos dos séculos.
Amen.
Esta oração foi reavivada após o Concílio Vaticano II. Nessa altura, todas as sessões eram abertas com ela. Esta oração, que é atribuída a Santo Isidoro de Sevilha (*560 – † 4 de Abril de 636), tem sido rezada repetidamente em Concílios, Sínodos e outras reuniões eclesiásticas ao longo dos séculos.
Todos os artigos sobre o Sínodo em schoenstatt.org na categoria: Sinodalidade. https://www.schoenstatt.org/pt/category/francisco-igreja/sinodal/
Com a próxima trilogia, o Männerwerkstatt 2022 (DE) voltará a dedicar três tardes a um tema vivencial sob o lema “Dar espaço às fissuras”, retomando termos do lema anual da Família de Schoenstatt alemã 2023.
Original: alemão (10/3/2024). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal
