Santuario de Lisboa

Posted On 2023-10-20 In Vida em Aliança

O Santuário de Lisboa – o “resto” de Israel

PORTUGAL, Lena Castro Valente •

O Santuário de Lisboa está viver um Ano Jubilar que assinala os 50 anos da sua Bênção, ocorrida em 15 de Setembro de 1974. Estes Marcos Históricos precisam de ser celebrados não somente como datas marcadas pelo calendário mas, com a revisitação da Vida que lhes deu origem. Ao voltarmos os olhos da alma e do coração para o caminho percorrido nestes 50 anos, desde a origem até hoje, seremos levados a “incendiar-nos”, de novo, por esta história que se fez Vida e, por esta Vida que se fez História porque está marcada com o selo de Deus. —

Continuamos, neste artigo, a fazer memória da Vida e da História que se seguiram após a decisão de fundar Schoenstatt em Portugal.

Um SIM decisivo

Santuário de Fribourg

Santuário de Fribourg

É, comummente, aceite que o SIM do Miguel Lencastre foi o sinal que, era vontade da Divina Providência que Schoenstatt se estabelecesse em Terra de Santa Maria. Podemos considerá-lo um SIM decisivo.

Para o Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt que, já tinha decidido estender a sua acção para fora da Alemanha, o sinal decisivo foi a estadia da D. Margarida na sua Casa em Janeiro de 1960 para a celebração da sua Aliança de Amor, com o pedido que lhes faz para virem fundar Schoenstatt em Portugal. Pedido que é corroborado de forma oficial pelo pai, D. José de Lencastre, após a sua Aliança, em casal, no dia 25 de Janeiro de 1960 na Capela da Casa da Torre, a casa da família.

Logo a seguir à Aliança de Amor do Miguel em Schoenstatt a 16 de Julho de 1960, ele, a sua irmã D. Margarida e o Bruder Otto dirigem-se para Fribourg. No dia 17 de Julho participam na Eucaristia da Ordenação dos 11 novos Padres chilenos (dos quais o Frater Jaime Fernández ainda não fez parte).

No dia 19 de Julho, antes de saírem da Suiça, é celebrada uma Eucaristia de Envio. Presentes, o Pe. Augusto Ziegler, a Anneliese Laible, a Maria Teresa Schneider – Senhoras de Schoenstatt – e os dois irmãos Lencastre. Esta era a embaixada que viria fundar Schoenstatt em Portugal. No princípio de Agosto juntar-se-lhes-iam mais duas Senhoras do Instituto das Senhoras de Schoenstatt – a Irmgard Ludwig e a Roswitha Schafbuch. O Pe. Grass só chega em Janeiro de 1961.

Na Homilia desta Missa o Pe. Ziegler disse que, o Santuário de Fribourg seria “…a ponte entre o Santuário Original e o Movimento em Portugal”.

O Santuário de Fribourg situado nos jardins da Villa Thérèse tinha sido consagrado em 18 de Outubro de 1954 no mesmo dia que o de Milwaukee e, tem como Ideal “Cenáculo”. Estava considerado como a porta para a Europa da Missão do 31 de Maio. Estas duas “características” virão a ser essenciais para o Santuário de Lisboa.

E Schoenstatt “entra” em Portugal no dia 21 de Julho de 1960 que era o dia da primitiva Festa do Anjo de Portugal, Anjo que protege a Nação portuguesa e apareceu aos Pastorinhos de Fátima entre Abril e Outubro de 1916. Esta devoção é muito antiga em Portugal e, foi depois autorizada pelo Papa Júlio II a pedido de D. Manuel I, rei de Portugal em 1504, como o Anjo Custódio do Reino.

Em 1952 o Papa Pio XII manda incluir esta Festa no Calendário Litúrgico Português a 10 de Junho em que se comemora o Dia de Portugal.

Anjo de Portugal

Anjo da Guarda de Portugal em Fátima  | Por Castinçal – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=26653733

Nossa Senhora Apressada

O Altar do Santuário provisório

O Altar do Santuário provisório

A partir da conversão do Miguel tudo se desenrola a uma velocidade surpreendente. Segundo o Manuel Barata:”… A partir daí as sementes que caem à terra frutificam rapidamente, existindo uma fecundidade humanamente inexplicável…”

No dia 4 de Agosto as Senhoras de Schoenstatt vão directamente para a casa de Bagunte, a sua primeira residência em Portugal e, onde ficam por 2 a 3 anos.

Em 14 de Agosto, em Bagunte, reunem-se pela primeira vez diversos schoenstatteanos.

Logo no dia 1 de Setembro parte de Fátima para Schoenstatt uma peregrinação de 22 portugueses, entre Padres e leigos. Em Schoenstatt são guiados pelo Padre Augusto Ziegler. Estes peregrinos selam, no Santuário Original, a 8 de Setembro a sua Aliança de Amor com a Mater.

Em 18 de Setembro dá-se a primeira reunião do Movimento em Portugal. Estavam presentes os peregrinos que tinham voltado de Schoenstatt 4 dias antes,o Pe. Augusto Ziegler, as Senhoras de Schoenstatt (Maria Teresa Schneider, a Anneliese Laible, a Irmgard, a Roswitha), o Pedro Cordovil que também tinha sido “enviado” para a Suiça pelo Dr. Helmle, em 1958 e, hoje é Padre Cartuxo, o Miguel …

Esta reunião serviu para estabelecer as futuras metas do Movimento em Portugal, tais como, datas para novas reuniões, retiros orientados pelo Padre Ziegler, assim como, mais tarde pelo Pe. Joseph Grass e pelo Pe. Jaime Fernández, na casa de Bagunte.

Nesta casa, baptizada com o nome de Nossa Senhora das Vitórias, é consagrada, no dia 18 de Novembro a Capela da Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt pelo Bispo D. Daniel Junqueira, a primeira em Portugal.

Em Lisboa, o Pe. Dr. Helmle continuava a dar apoio espiritual aos rapazes e 5 deles decidem formar um grupo de Schoenstatt. Escolhem para o início das suas actividades em Lisboa o dia 18 de Outubro de 1960.

A pedido do Dr. Helmle duas das Senhoras de Schoenstatt (Maria Teresa Schneider e Irmgard) vieram para Lisboa para ajudar o grupo que se estava a formar e, outros possíveis grupos como os da Juventude Feminina que se foram constituindo.

Com o decorrer do tempo Schoenstatt em Portugal vai crescendo com grande entusiasmo e muitas actividades.

O “resto” de Israel

O Pe. Geral dos Pallotinos, Padre Möhler, tinha entregue Portugal à Província Suíça, como tarefa apostólica.

Com a vinda para Portugal do Pe. Jaime Fernández no Outono de 1961(ainda não tinha acabado os estudos de Teologia, teve que se inscrever no Seminário dos Olivais) começa um periodo em que ele toma parte nas actividades gerais do Movimento em Portugal mas, pouco a pouco e, depois, mais definitivamente,”isola” o Schoenstatt de Lisboa do, do resto do país.

O Schoenstatt que se tinha desenvolvido com o Pe. Augusto Ziegler, sobretudo nas Dioceses do norte de Portugal tinha características diferentes das do incipiente Schoenstatt de Lisboa. A ele tinham aderido muitos Padres diocesanos, seminaristas da Diocese de Braga, os alunos do Colégio de Lamego dos Padres Beneditinos e muitos peregrinos. Talvez possamos dizer que era um Schoenstatt de massas com imensas actividades e entusiasmo, ligado a paróquias das quais a de maior relevo era a da Gafanha da Nazaré onde era Prior o Pe. Domingos Rebelo.

Em Lisboa começou com a Juventude Universitária e tem características de formação de dirigentes. Estes jovens fundadores estavam a favor de um Assessor chileno ignorando a pertença à Província Suíça. E, encontraram-no na pessoa do Pe. Jaime Fernández.

Na Quaresma de 1961 os jovens fazem um retiro com o Dr. Helmle e desse retiro sai a decisão da construção de um Santuário. Pensam, então, em arranjar um Santuário provisório na garagem do Lar de S. Nicolau – o Lar dos Pallotinos – onde vivia o Pe. Dr. Helmle. A inauguração dá-se no dia 18 de Abril de 1961. Este Santuário é testemunha fiel da Vida que vai brotando na incipiente Família.

A Família de Lisboa começa a crescer em número e ardor apostólico. As primeiras Alianças (só dos rapazes) são seladas durante o ano de 1962. Começam a aparecer as raparigas e as Senhoras de Schoenstatt contribuem para que se vá criando um ambiente de Família.

O Pe. António Lobo regressa a Portugal em Outubro de 62 para trabalhar com Schoenstatt.

As primeiras Alianças das raparigas começam em 31 de Maio de 1963.

Os rapazes fazem dois acampamentos de verão, um no norte em Aveiro em 1962, com o apoio do pároco da Gafanha da Nazaré, grande impulsionador do Movimento em Portugal. Este acampamento deu aos rapazes um alento apostólico extraordinário.

Outro perto de Lisboa no verão de 1963. Deste acampamento saiem as linhas mestras do Ideal da Família de Lisboa que, os jovens transpõem para a Família Portuguesa. Havia um entendimento por parte de Lisboa (que se estendeu no tempo e marcou o seu ADN) que, esta Famíia era o paradigma de toda a Família Portuguesa. E, o Ideal era: “Queremos ser uma Família em Schoenstatt com atitude universalista e com a missão específica de elaborar, viver e fomentar o 31 de Maio”.

Este Ideal é entregue no Santuário Original durante a peregrinação que Lisboa faz em Agosto de 1963, a primeira desta Família (Juventude Masculina e Juventude Feminina). É entregue o Capital de Graças com o pedido de um Santuário para Lisboa.

O Pe. Jaime tinha um perfil muito próprio, com um discurso muito liberal, muito progressista e, também métodos pedagógicos inovadores que marcaram estes jovens fascinados com as ideias por ele veículadas. A tal ponto que, o Pe. Helmle foi perdendo espaço e influência, o que lhe causou um grande desgosto.

Em Portugal governava Salazar. O regime começava a ter algumas dúvidas sobre o teor das suas actividades (do Pe. Jaime) ligadas a um Movimento estrangeiro. O Pe. Jaime com a sua conduta de desvalorização das inquietações da polícia política terá tido um efeito negativo na percepção da mesma quanto a Schoenstatt.

Em 15 de Fevereiro de 1963 o então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Cerejeira, chama o Pe. Jaime Fernández e, aí começam as restrições a Schoenstatt. Em 17 de Setembro seguinte uma carta de D. Manuel Cerejeira proíbe o Movimento de Schoenstatt na sua Diocese.

Isto tem um efeito de dominó noutras Dioceses. O Arcebispo de Braga proíbe também o Movimento, o que leva a uma saíde em massa de Padres e seminaristas.

Este abandono provocado pela proibição acontece também em Lisboa que, vê sair muitos dos seus membros. Dos poucos que ficam alguns decidem-se pela vida consagrada.

Apesar disto, o Pe. Domingos Rebelo grande colaborador do Pe. Ziegler, funda em 18 de Outubro de 1964, o primeiro Santuário Paroquial do nosso país e da Península Ibérica.

O Pe. Jaime Fernández deixa Portugal em 1965 e o Pe. António Lobo em 1967.

Os que ficam na Família de Lisboa denominam-se a si próprios o “resto” de Israel.

Heraldic Angel, from the Mosteiro de Santa Cruz, by Diogo Pires-o-Moco, 1500-1525 - Museu Nacional de Machado de Castro - Coimbra, Portugal -

Anjo Custódio do Reino | Heraldic Angel, from the Mosteiro de Santa Cruz, by Diogo Pires-o-Moco, 1500-1525 – Museu Nacional de Machado de Castro – Coimbra, Portugal

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