Santuário de Lisboa

Posted On 2023-09-29 In Vida em Aliança

O Santuário de Lisboa – os alicerces de Deus

PORTUGAL, Lena Castro Valente •

O Santuário de Lisboa está viver um Ano Jubilar que assinala os 50 anos da sua Bênção, ocorrida em 15 de Setembro de 1974. Estes Marcos Históricos precisam de ser celebrados não somente como datas marcadas pelo calendário mas, com a revisitação da Vida que lhes deu origem. Ao voltarmos os olhos da alma e do coração para o caminho percorrido nestes 50 anos, desde a origem até hoje, seremos levados a “incendiar-nos”, de novo, por esta história que se fez Vida e, por esta Vida que se fez História porque está marcada com o selo de Deus. —

Fazer a memória da Vida e da História dos primórdios da fundação de Schoenstatt em Portugal será o propósito deste artigo.

Contar a Vida

Contar a Vida é um relato de grande fôlego que nem caberia em nenhuma publicação por mais extensa que fosse. Podemos, no entanto, tentar abordá-la através das pessoas e das histórias reais que lhe deram forma e alma. Por isso, estes “alicerces de Deus”, como lhes chamo, ser-nos-ão contados através da menção a pessoas que, passados anos, se foram revelando como essenciais para o desenrolar dos factos que ficaram registados nos anais da história, actores involuntários de uma trama tecida pela Divina Providência. É, também, um preito de homenagem a estes instrumentos escolhidos por Maria que encheram de “SINS” os caminhos da Vida e da história da Família.

O Pe. Dr. Erwin Helmle SAC

Villa Thérèse em 2009

Villa Thérèse em 2009

O Pe. Dr. Erwin Helmle era um Sacerdote Pallotino que pertencia à Comunidade Suíça. Este padre chegou a Portugal durante a IIª Guerra Mundial (1945) e, deixou Portugal em 1984 quando se reformou. Veio de visita em 1986, visita durante a qual faleceu devido a um acidente, e cá ficou para sempre, sepultado no cemitério dos Ingleses. Era um sacerdote muito culto que escreveu vários livros sobre santos portugueses (Santo António, o Padre Cruz), sobre Fátima e sobre o Convento dos Crúzios na Arrábida. Além destes escreveu também “Geschichte der Katholiken Deutscher Sprache in Portugal – História dos católicos de língua alemã em Portugal”. Tinha um doutoramente em História da Igreja Oriental. Foi professor na Escola Alemã de Lisboa e de Arqueologia e de História de Arte num Instituto percursor da actual Universidade Católica Portuguesa.

Mais tarde, foi Capelão da Comunidade Alemã de Lisboa criada, oficialmente, em 1927, tendo sido o responsável, juntamente com a Embaixada Alemã, pela aquisição da Igreja de Nossa Senhora das Dores, assumindo a Irmandade “Nossa Senhora das Dores”. Junto à igreja foi construído o salão paroquial e a casa paroquial, que hoje em dia, e desde há anos, é a sede da Paróquia Alemã.

O Pe. Helmle dirigia um Lar Académico de estudantes universitários onde vivia e, por isso, tinha muitos contactos com jovens de quem era confessor e conselheiro e a quem marcou para sempre, tendo sido para alguns portugueses uma figura decisiva nas suas vidas.

Ora o Pe. Helmle foi o instrumento que pôs vários rapazes portugueses na “órbita” do Pe. Kentenich. Em alguns casos, encaminhava-os para a Suíça, para um lar chamado Villa Thérèse, em Fribourg, onde residiam estudantes, nomeadamente os que faziam o seu curso nos Pallotinos Por essa altura, Schoenstatt ainda não estava separado dos Pallotinos e, por isso, o sacerdócio destinava-se ao ingresso na Comunidade Pallotina (o nosso Fundador era sacerdote Pallotino) embora, a Mater e a pedagogia do Pe. Kentenich fossem o ideal que motivava os estudantes.

Debrucemo-nos sobre histórias e pessoas reais que foram determinantes para a fundação de Schoenstatt em Portugal e, em que o Pe. Helmle foi o instrumento escolhido:

Imagem da Mater da Aliança de Amor da D. Margarida em 13 de Janeiro de 1960

Imagem da Mater da Aliança de Amor da D. Margarida em 13 de Janeiro de 1960

Em 1957, o Pe. Helmle é chamado a auxiliar o jovem diácono António Lobo que devido a uns malentendidos dentro do Seminário de Évora vê, com uma grande dor, a sua Ordenação ser recusada. O António Lobo era fruto do apostolado de D. Sílvia Cardoso (tia do Miguel Lencastre) que descobria e apadrinhava vocações ao sacerdócio de jovens rapazes. D. Sílvia, hoje Venerável Sílvia Cardoso, já tinha falecido em 1950 e, é a sua sobrinha Margarida (irmã do Miguel) quem, de certo modo, “herda” este apostolado e, se apressa a ir em socorro do diácono António mergulhado num grande sofrimento. Paralelamente, em Évora, D. Rosinha Cordovil, uma figura incontornável e pioneira da organização das peregrinações a pé de Évora a Fátima, toma conhecimento do problema e, sem a conhecer, põe-se em contacto com a D. Margarida e recomenda-lhe o Pe. Helmle que acaba resolvendo o drama do António. O diácono António Lobo é encaminhado para a Suíça, para a Villa Thérèse.

Em 22 de Agosto de 1959, em Schoenstatt, sela a Aliança de Amor em cerimónia presidida pelo Pe. Ernesto Durán, sacerdote chileno, responsável por “trazer” para Schoenstatt muitas vocações chilenas. António foi o primeiro português a selar Aliança de Amor.

Acaba os seus estudos sendo ordenado sacerdote pallotino, em Sankt Gallen, no dia 21 de Dezembro de 1960. Passou para o Instituto dos Padres de Schoenstatt aquando da sua constituição em 18 de Julho de 1965.

No princípio de 1959 o Miguel Lencastre, bom rapaz mas estróina, decide que quer ir para a Suíça, com a desculpa que vai para estudar. Partilhou esta sua decisão com a sua irmã D. Eucaristia que, viu nisso vários inconvenientes. Os pais não iriam deixá-lo partir.Ela lembra-se, no entanto, do Pe. Helmle que, tanto tinha ajudado o António, e aconselha o Miguel a falar com ele. Ela crê que o bom do Padre o vai dissuadir de uma ideia tão disparatada.

O Miguel esperava ouvir do sacerdote um “sermão” e o que ouviu foi:”Eu quero ajudar”. Vai com ele a Paços de Ferreira falar com os pais e convence-os a deixarem-no ir porque na Suíça, na Villa Thérèse, está o António Lobo numa casa muito boa, muito recomendável. É obrigado a prometer à mãe que vai visitar o amigo e, esse será o seu “passaporte” para a Suíça. Parte no príncipio de Abril desse ano.

A primeira coisa que faz é visitar o António mas, rapidamente, vai para Lausanne. No princípio de Setembro recebe uma carta da mãe em que lhe dizia “que tinha sonhado com ele e que o tinha visto com fome…”. Aflito logo lhe escreve dizendo-lhe que, para lhe dar uma alegria, vai a Fribourg visitar o António.

Chega no dia 8 de Setembro, Natividade de Nossa Senhora, converte-se fulminantemente, no dia 12 de Setembro, dia do Santo Nome de Maria, e decide ser padre três dias depois no dia 15 de Setembro Solenidade de Nossa Senhora das Dores. Esta conversão foi determinante para o início de Schoenstatt em Portugal. Preparado pelo Pe. Humberto Anwandter sela Aliança de Amor em Schoenstatt, no dia 16 de Julho de 1960 (Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Chile), em cerimónia presidida pelo Pe. Augusto Ziegler. È o terceiro português a selá-la. A segunda e, primeira portuguesa, tinha sido a sua irmã Margarida que, em 13 de Janeiro desse mesmo ano e, em sinal de louvor e gratidão pela conversão do irmão, A selou em Schoenstatt numa cerimónia a que presidiu o Pe. Augusto Ziegler. Foi igualmente preparada pelo Pe. Humberto.

Também o António Ruivo (1959) e o Manuel Barata (1960), co-fundadores da Família de Lisboa e de Schoenstatt em Portugal foram enviados pelo Pe. Helmle à Suíça no âmbito das férias pagas. Na Villa Thérèse entram em contacto com Schoenstatt através, sobretudo, dos estudantes chilenos. E, essa semente vem a dar muito fruto.

Foi ele,o Pe. Helmle, quem recebeu e acompanhou o Pe. Kentenich nas suas duas passagens por Portugal no ano de 1947, a primeira em 16 de Março – só esteve três horas em solo português e, por isso, não saiu do aeroporto – e, a segunda em 29 de Dezembro. Desta vez visitou Lisboa, nomeadamente, a zona de Belém onde se erguem, o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Estas passagens do Fundador por Portugal são consideradas à luz da fé, o primeiro acontecimento marcante.

Os seminaristas chilenos

Muitos anos mais tarde, o Pe. Jaime Fernández contou que, quando vinham do Chile de barco para irem para a Villa Thérèse estudar nos Pallotinos aportaram em Lisboa no dia 30 de Maio de 1954. Estes 24 chilenos eram, em muitos casos, vocações tardias que tinham desabrochado com o contacto com o Pe. Kentenich durante a sua estadia no Chile. O seu ideal era:”Águias do Pai”. Nessa noite, na coberta do navio, fizeram uma oração e escreveram uma carta ao Pai-Fundador em que lhe diziam “que queriam ser o seu séquito e que queriam entregar a sua vida pela missão do 31 de Maio”. Este compromisso foi levado muito a sério pelos rapazes e pelo Pe. Kentenich.

4 anos depois em 1958, sentindo-se responsáveis pelo compromisso assumido, escrevem ao Pe. Helmle que, dirigia em Lisboa o tal Lar de estudantes universitários, uma carta em espanhol também assinada pelo Pe. Augusto Ziegler , em que, resumidamente, afirmavam:”…queremos ser o ponto de partida da estreita união que os schoenstatteanos chilenos querem ter com os seus irmãos portugueses para que todos unidos no amor a Nossa Senhora, formemos um vasto Movimento de renovação mariana do mundo para Cristo…”

Estes chilenos faziam questão em acolher os rapazes portugueses que eram enviados para a Villa Thérèse, foi no meio deles que o Miguel se converteu da noite para o dia, daí o ter escolhido, para a sua Aliança de Amor, o dia da Padroeira do Chile em jeito de gratidão. E, foi um deles, o Frater Jaime Fernández quem convida o Manuel Barata a fundar o Movimento em Portugal no verão de 1960.

O Pe. Augusto Ziegler

Pe. Augusto Ziegler

Pe. Augusto Ziegler

O Pe. Augusto Ziegler era um padre pallotino da Comunidade Suíça que, em 1953 se tornou educador e Mestre de Noviços dos Fratres chilenos e dos suíços. Ele era um sacerdote muito ligado ao sobrenatural, tinha “experiências místicas”. Precisando de um guia espiritual escolhe, a partir de uma certa altura da sua vida o Pe. Kentenich que se encontrava no exílio em Milwaukee e, começa uma troca epistolar com o Fundador que, por isso, era conhecedor do que pensava, do que sentia e do que intuía o Pe. Augusto.

No dia 23 de Setembro de 1959 foi informado, da conversão do português Miguel, pelo Frater Jaime Fernández. Dois dias depois a 23, conversa com o próprio Miguel.

Com a chegado do António Lobo e, sobretudo depois, com a conversão do Miguel, o sonho tanto tempo acarinhado pelo Pe. Augusto e pelo nosso Fundador é visto por eles como o sinal da Divina Providência para se iniciar o caminho da fundação de Schoenstatt em Portugal. Podemos dizer que, o Pe. Kentenich “confiou” ao Pe. Ziegler esta nova tarefa que a Mater lhes indicava. Com a conversão do Miguel Lencastre e a sua decisão pelo sacerdócio tinha chegado a “plenitude dos tempos” e, Schoenstatt seria uma realidade na Terra de Santa Maria. “… Compreenderá então melhor, até que ponto na história da Família, a dominante não é a sabedoria humana mas, a competição entre a condução divina e a docilidade humana” (Padre Kentenich ao Pe. Ziegler). Sem o Pe. Ziegler que, nessa altura já acumulava muitas tarefas dentro do Movimento de Schoenstatt, a vinda de Schoenstatt para Portugal não teria sido tão rápida.

Frau Gramlich, a Família Lencastre e o Pe. Joseph Grass

É, durante este ano de 1960 que a família Lencastre entra em contacto com a Frau Gramlich Superiora do Instituto das Senhoras – com quem D. Margarida tinha selado uma Aliança aquando da sua estadia em Schoenstatt para a celebração da sua Aliança de Amor – para que viessem para Portugal fundar o Movimento. Aceitam porque têm o sim do Pe. Ziegler e o apoio a todos os níveis da Familia Lencastre. Em 30 de Março de 1960, a Frau Gramlich, o Pe. Ziegler e o prelado Schmitz visitam Portugal para aquilatarem das condições existentes. Já D. Margarida tinha alugado uma casa no Porto para a instalação das Senhoras. No verão de 1960 é convidado o sacerdote pallotino suíço, Pe. Joseph Grass para vir ajudar na fundação de Schoenstatt em Portugal. A este sacerdote devemos o acesso aos diários do Pe. Ziegler.

Pe. Miguel Lencastre a celebrar a Eucaristia no Santuário de Fribourg na comemoração dos 50 anos da sua conversão 12/9/2009

Pe. Miguel Lencastre a celebrar a Eucaristia no Santuário de Fribourg na comemoração dos 50 anos da sua conversão 12/9/2009

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