CHILE, Pe. Juan Pablo Rovegno e equipa de trabalho da Direcção Nacional •
A antífona que ouvimos repetidamente durante a cerimónia da coroação expressa e resume o espírito do processo que estamos a viver, porque a ausência da coroa, que acompanhou de forma silenciosa e crescente este tempo de múltiplas crises, fez-nos percorrer, como Família, um caminho de conversão, não só face aos desafios do tempo, mas também face ao conteúdo e à concretização da nossa missão. —
Conversão que parte do próprio coração. Cada um é chamado a curar o organismo de vinculações que toca tantas dimensões da nossa vida: pessoal, familiar, comunitária, espiritual, social. Cada comunidade também deve fazer a sua parte, assim como a sociedade. Mas face ao desafio de curar, restaurar, reconciliar, sentimo-nos impotentes e precisamos da graça, do poder transformador da nossa Aliança de Amor, para o tornar possível. A coroa expressa esta confiança e esta tarefa.
Entre os muitos testemunhos e ecos da coroação, que coincidem no simples, profundo e tocante, um tocou-me muito, porque vem de um homem mais velho, com anos de Igreja e de Schoenstatt no seu corpo:
“Pai, que venha a nós o Teu reino, é a confiança na lealdade do Pai, apesar da nossa arrogância e dos nossos momentos de crise. Foi a oração de um filho a um Pai mais sincera e profunda dos últimos tempos, experimentei-a de uma ponta a outra. E a repetição da antífona para que Deus me presenteasse o dom da conversão, que nunca chega, foi para mim o mais profundo. Espero que esta conversão chegue até mim para ser útil nas mãos de Deus. Obrigado por me terem feito partícipe desta tremenda comunicação entre o nada e o tudo.
Embora, como geralmente acontece com as coisas importantes, tivessemos tido falhas técnicas e de transmissão, foi tal a entrega de todos que a Mater recompensou o “nada sem nós” com um abundante “nada sem Ti”. O coração das pessoas foi tocado nalgum momento e essa é a maior alegria que podemos experimentar.
O caminho da liturgia pode bem servir para nos olharmos com humildade perante a missão que nos foi confiada: a pequenez dos instrumentos, a magnitude dos desafios e, sobretudo, a lealdade e a generosidade da Mater.
Cinco etapas de um processo de conversão
Os passos foram os seguintes:
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Reconhecimento da origem,
ir em peregrinação ao Santuário Original, ir em peregrinação dali à nossa Terra Santa de Bellavista, ao nosso Cenáculo, e implorar o Espírito Santo. Como é importante reconhecer que a vida não começa connosco, que há uma história, que há alicerces, que a casa é construída sobre a entrega e a lealdade de muitos que nos precederam. Uma consciência que purifica qualquer pretensão messiânica, de reformismo devastador, de protagonismo pendular. É um gesto de humildade.
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Um coração grato,
porque as limitações, fraquezas e infidelidades podem fazer-nos acreditar que nada resultou ou que tudo tem de ser mudado, quando há tanto por que estar grato.
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Um coração contrito,
capaz de reconhecer a nossa impotência, fraquezas e limitações. Só assim nos podemos abrir ao poder educador da Mater, superando a tentação do orgulho, da justificação e da competitividade.
Este reconhecimento é pessoal e comunitário e ajuda-nos a abrir o coração a Deus e aos outros, porque precisamos uns dos outros para responder adequadamente aos desafios do tempo. É um reconhecimento que assume as crises que vivemos e estamos a viver, não como observadores ou formadores de opinião, nem muito menos desde a pretensão de perfeição ou de um triunfalismo desligado da realidade, mas como parte de uma rede de vínculos, que também ferimos.
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Um coração confiante na condução de Deus e na vitória da Mater:
A coroação expressa a nossa confiança filial e fraterna. Olhamos novamente para a Mater com confiança nos planos de Deus, porque a impotência não nos pode desencorajar ou fechar-nos em nós próprios, antes nos abre a uma renovada entrega e confiança.
As palavras foram as do Pai Fundador em 5 de Junho de 1949, às quais se uniram as nossas com a frase, que nos acompanhou durante este processo, feita oração. Trata-se do significado da estrela, um símbolo que reflecte a actualidade da nossa missão.
Actualizámos a coroação como o fizeram os jovens da Cruzada de Maria quando atravessaram os Andes após o assalto, como fez a Família de Bellavista um ano depois, fizemo-lo com as palavras que acompanharam o processo de coroação, feitas oração:
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Um coração enviado:
Assim como abrimos a Liturgia da coroação com a leitura do Cenáculo que descreve a cena dos Apóstolos reunidos em oração unânime com Maria, culminámos com a leitura do dia de Pentecostes, para renovar e actualizar a nossa missão no meio do mundo concreto, como igreja e Família ao serviço da Humanidade.
A queima do Capital de Graças simbolizou a nossa colaboração e compromisso para a gestação de um novo mundo, de uma nova ordem social, de uma pátria família e de uma casa comum.
“Pertencemos à Igreja que nasce no Pentecostes.
Nós somos um carisma dentro dela.
Temos um pastor, o Papa Francisco,
que nos chama a servir no meio do mundo.
Por conseguinte, com humildade, vamos ao encontro do nosso próximo.
O nosso Pai procura aliados para a missão.
Manifestamos-lhe o nosso compromisso
em cada uma das respostas que enviamos de todo o mundo,
e que depositamos na Talha do Capital de Graças”.
A Mãe coroada é o sinal crucial do processo que realizámos, mas não o seu fim, é antes o início de uma nova etapa, porque mais do que nunca o mundo de hoje e o tempo que vivemos, concreto e de cada dia, precisa do empenho e da colaboração de todos e de cada um, para a cura e renovação que tanto precisamos do nosso organismo de vinculações. A nossa conversão para a missão do Pai é um dom e uma tarefa.
GUIA LITÚRGICO (ES)
CÂNTICOS (ES)
Original: espanhol (6/6/2020). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal