Volk Gottes

Posted On 2023-09-26 In Igreja sinodal

A totalidade dos fieis não pode enganar-se na Fé

SÍNODO SOBRE A SINODALIDADE, Maria Fischer •

“O que é que está no centro da (pequena mas ruidosa) oposição ao Sínodo e ao Papa? Quando se vai para além do político, do teológico e até do espiritual, chega-se a este resultado: uma desconfiança no Espírito Santo que actua no Povo de Deus”, escreve o Pe. James Martin SJ, sinodalista, autor de best-sellers, orador e colaborador da revista “America”, um dos mais proeminentes jornalistas católicos dos Estados Unidos e não só. Um aliado do Papa Francisco e co-pensador e co-divulgador da sua mensagem de renovação da Igreja na sinodalidade como estrutura, na misericórdia e no espaço para todos como abordagem pastoral e na saída para as periferias como missão.

Por isso, não tenhais medo, firmes e preocupados defensores. Vós, Bispos, que pensais que deveis proteger os vossos diocesanos do Sínodo. O Povo Santo de Deus, no seu conjunto, não pode enganar-se porque o Espírito Santo de Deus actua nele.

Uma só pessoa, uma só comunidade ou paróquia, um Movimento, uma diocese, um país, sim, podem enganar-se. Mas não todo o povo de Deus. Não todo o Povo de Deus, no qual o Espírito Santo está a actuar. Nesta afirmação bastante provocadora, Martin refere-se ao artigo 12 da Lumen Gentium:

“O Povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade oferecendo a Deus o sacrifício de louvor, fruto dos lábios que confessam o Seu nome (cfr. Hebr. 13,15). A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cfr. Jo. 2, 20 e 27), não pode enganar-se na fé”.

A Igreja, enquanto povo de Deus, é aprovada de cima para baixo e de baixo para cima

Então “todo o poder ao povo”? Ao Povo Santo de Deus guiado pelo Espírito, sim. Igreja Sinodal? Exactamente. Mas isto choca fortemente com uma imagem da Igreja que, de facto, foi ultrapassada pelo Concílio Vaticano II e que persiste teimosamente nas mentes e nos corações.

“Por um lado, um governo rígido, uma hierarquia que tinha nas suas mãos uma grande responsabilidade, um grande poder, e, por outro lado, um povo que – sim, quase gostaríamos de dizer – estava anémico; prosperava com a falta de responsabilidade, com a falta de responsabilidade partilhada. Portanto, uma forte dicotomia!

Esta face ficou impressa na Igreja do cristianismo primitivo pelo patriarcalismo que prevalecia entre o povo romano da época e, mais tarde – a partir de Constantino, o Grande – pela forma e formação constitucional. Desde então, tem havido na Igreja esta forte dicotomia entre o alto e o baixo. E, no entanto, esta Igreja sabe agora ver-se e compreender-se a si própria de um ponto de vista unificado: vê-se a si própria como Povo de Deus, como Povo de Deus que só conhece uma linha. Todos, sem excepção, estão reconciliados nesta única linha, quer se trate da hierarquia, do Papa ou dos fiéis. O que une todos é uma fraternidade comum que permite às almas crescerem juntas (…) Cada um tem uma responsabilidade no seu posto, mas cada um tem também uma responsabilidade no seu posto para a imagem total da Igreja”.

 

 

No entanto, o jesuíta “liberal” James Martin não diz isso. E o Papa Francisco também não. Isso foi dito por um tal José Kentenich, em Dezembro de 1965. Quem o ouviu?

O Papa da “Teologia do Povo”

O Padre Kentenich está, portanto, muito próximo do pensamento do Papa Francisco, o Papa da Teologia do Povo de Deus, a variante argentina da Teologia da Libertação, fundada por teólogos como Gera, Scannone e Tello.

Na revista La Civiltà Cattolica, ele explica em 2013:

“A imagem da Igreja que me agrada é a do Povo Santo de Deus. A definição que utilizo frequentemente é a do documento conciliar Lumen Gentium, no número 12. Pertencer a um povo tem um grande valor teológico. O povo é o sujeito. E a Igreja é o Povo de Deus num caminho através da história, com as suas alegrias e sofrimentos (…) Para mim, sentir com a Igreja significa estar nesta Igreja. E os crentes no seu conjunto são infalíveis na fé. Esta infalibilidade na fé manifesta-se através do sentido sobrenatural da fé de todo o Povo de Deus ao longo do caminho.

É assim que eu entendo hoje o “Sentire cum ecclesia” de que fala Santo Inácio. Se o diálogo dos fiéis com o Bispo e o Papa segue este caminho e é leal, então é assistido pelo Espírito Santo. Portanto, não é um sentimento que diga respeito aos teólogos”.

Não tenhais medo do Espírito Santo.

Fotos: © Bruno Seabra \ JMJ 2023

Foto: © Bruno Seabra \ JMJ 2023

Original: alemão (24/9/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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