Posted On 2015-10-09 In Francisco - Mensagem

A necessidade duma robusta injeção de espírito familiar

FRANCISCO EM ROMA •

Sairam já dois livros com as catequeses das quartas-feiras, do Papa Francisco sobre a família, por exemplo, na Libreria Editrice Vaticana, com o título: A família gera o mundo http://capuchinhosprsc.org.br/todas-as-catequeses-do-papa-sobre-a-familia-em-um-livro.html e A família, obra-prima de Deus http://opusdei.pt/pt-pt/article/livro-electronico-catequeses-sobre-a-familia-vol-i/

Mas, parece que haverá outro livro, pois, ao celebrar a Audiência Geral da primeira quarta-feira de Outubro, na Praça de S. Pedro e, perante milhares de fiéis e peregrinos de numerosos países, o Papa Francisco prosseguiu a sua catequese semanal sobre a família, centrando-se, nesta ocasião, no “espírito familiar”. Explicou que, neste período as catequeses serão reflexões inspiradas em alguns aspectos da relação indissolúvel entre a Igreja e a Família, com o horizonte aberto ao bem da inteira comunidade humana.

Obrigado Papa Francisco – pois: Um olhar atento à vida quotidiana d0s homens e das mulheres de hoje demonstra imediatamente a necessidade que há, em toda a parte, de uma vigorosa injeção de espírito familiar. Com efeito, o estilo das relações — civis, económicas, jurídicas, profissionais, de cidadania — parece muito racional, formal, organizado, mas também muito «desidratado», árido, anónimo. Às vezes torna-se insuportável.

TEXTO COMPLETO DA CATEQUESE

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Há poucos dias começou o Sínodo dos Bispos sobre o tema «A vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo». A família que caminha na vereda do Senhor é fundamental no testemunho do amor de Deus e por isso merece toda a dedicação da qual a Igreja é capaz. O Sínodo é chamado a interpretar, hoje, esta solicitude e este cuidado da Igreja. Acompanhemos todo o percurso sinodal antes de tudo com a nossa oração e atenção. E neste período as catequeses serão reflexões inspiradas por alguns aspectos da relação — que podemos dizer indissolúvel! — entre a Igreja e a família, com o horizonte aberto para o bem de toda a comunidade humana.

Um olhar atento à vida quotidiana d0s homens e das mulheres de hoje demonstra imediatamente a necessidade que há, em toda a parte, de uma vigorosa injecção de espírito familiar. Com efeito, o estilo das relações — civis, económicas, jurídicas, profissionais, de cidadania — parece muito racional, formal, organizado, mas também muito «desidratado», árido, anónimo. Às vezes torna-se insuportável. Não obstante deseje ser inclusivo nas suas formas, na realidade abandona à solidão e ao descarte um número cada vez maior de pessoas.

Eis por que razão a família abre à sociedade inteira uma perspectiva muito mais humana: abre os olhos dos filhos para a vida — e não apenas a vista, mas também todos os outros sentidos — representando uma visão da relação humana edificada sobre a livre aliança de amor. A família introduz na necessidade de vínculos de fidelidade, sinceridade, confiança, cooperação e respeito; encoraja a programar um mundo habitável e a crer nos relacionamentos de confiança, até em condições difíceis; ensina a honrar a palavra dada, o respeito pelas pessoas na sua individualidade, a partilha dos limites pessoais e dos outros. E todos nós estamos conscientes da insubstituibilidade da atenção familiar aos membros mais pequeninos, mais vulneráveis, mais feridos e inclusive mais desastrados nos comportamentos da sua vida. Na sociedade, quem pratica estas atitudes, assimilou-as a partir do espírito familiar, certamente não da competição nem do desejo de auto-realização.

Pois bem, mesmo ciente de tudo isto, não se dá à família o devido peso — reconhecimento e apoio — na organização política e económica da sociedade contemporânea. Gostaria de dizer algo mais: a família não só não recebe um reconhecimento adequado, mas não gera ulterior aprendizagem! Às vezes poder-se-ia dizer que, com toda a sua ciência e técnica, a sociedade moderna ainda não é capaz de traduzir estes conhecimentos em formas melhores de convivência civil. Não só a organização da vida comum se encalha cada vez mais numa burocracia totalmente alheia aos vínculos humanos fundamentais, mas até o costume social e político dá frequentemente sinais de degradação — agressividade, vulgaridade, desprezo… — que estão muito abaixo do limite de uma educação familiar até mínima. Nesta conjuntura, os extremos opostos desta brutalização das relações — ou seja, a obtusidade tecnocrática e o familismo amoral — unem-se e alimentam-se reciprocamente. Este é um paradoxo!

Hoje, neste ponto exacto, a Igreja identifica o sentido histórico da sua missão a respeito da família e do autêntico espírito familiar: começando por uma atenta revisão de vida, que se refere a si mesma. Poder-se-ia dizer que o «espírito familiar» é uma carta constitucional para a Igreja: assim o cristianismo deve parecer e deve ser. Está escrito claramente: «Vós que estáveis longe — diz são Paulo — […] já não sois hóspedes nem peregrinos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus» (Ef 2, 17.19). A Igreja é e deve ser a família de Deus.

Quando chamou Pedro a segui-lo, Jesus disse-lhe que o levaria a tornar-se «pescador de homens»; e para isto é preciso um novo tipo de rede. Poderíamos dizer que hoje as famílias são uma das redes mais importantes para a missão de Pedro e da Igreja. Esta não é uma rede que aprisiona! Pelo contrário, liberta das águas negativas do abandono e da indiferença, que afogam muitos seres humanos no mar da solidão e da indiferença. As famílias sabem bem o que é a dignidade do sentir-se filhos, não escravos nem estrangeiros, nem sequer só um número de bilhete de identidade.

A partir daqui, da família, Jesus recomeça a sua passagem entre os seres humanos, para os persuadir que Deus não se esqueceu deles. Daqui Pedro adquire vigor para o seu ministério. Daqui a Igreja, obedecendo à palavra do Mestre, sai para pescar no lago convicta de que, se o fizer, a pesca será milagrosa. Possa o entusiasmo dos Padres sinodais, animados pelo Espírito Santo, fomentar o impulso de uma Igreja que abandona as velhas redes, voltando a pescar com confiança na palavra do seu Senhor. Oremos intensamente por isto! Aliás, Cristo prometeu e encoraja-nos: se nem sequer os maus pais deixam de dar o pão aos filhos famintos, muito menos Deus deixará de infundir o Espírito em quantos — mesmo imperfeitos como são — lho pedirem com insistência apaixonada (cf. Lc 11, 9-13)!

Fonte: Santa Sé
Coordenação: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

Tags : , , , , , , , ,

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *