FRANCISCO NAS FILIPINAS, Ary Waldir Ramoz Diaz/aleteia.org. Como no discurso das bem-aventuranças, Francisco, em sua viagem apostólica nas Filipinas (de 15 a 19 de janeiro), lembrou também as modernas pobrezas de espírito: a corrupção, a separação de casais, o turismo sexual, a ignorância, o excesso de informação sem sentido.
Em um exercício de generalização baseado nos valores universais da mensagem do Papa, apresentamos a seguir uma seleção de 12 chaves extraídas de suas palavras e discursos nas Filipinas.
Claro, em cada ocasião, o Pontífice dirigiu-se a públicos específicos; porém, sua mensagem é dirigida a todas as pessoas sensíveis à dor do próximo: vítimas do tsunami Yolanda em 2013 (muitos sofrem em razão de várias desgraças), jovens (aqueles que educam), consagrados (aqueles que evangelizam), ou autoridades públicas ou civis (que têm a responsabilidade de servir o próximo).
1. “Não percam a capacidade de sonhar com o amor”
Francisco, 78 anos, exortou a “não deixar de sonhar”, evocando a imagem de São José, que recebe a vontade de Deus em sonhos. “Toda mãe ou pai sonha com seu próprio filho durante 9 meses. Não é verdade? Não se compreende uma família que não sonha. Quando, em uma família, se perde a capacidade de sonhar, a vida não cresce, perde-se a esperança”, afirmou ele.
Depois, voltou seu pensamento à crise de casais. Nesse sonho, também entram as relações do casal, imaginando o melhor do próprio marido ou da própria esposa. “É muito importante sonhar com o amor. Nunca deixem de serem noivos!”. No Palácio de esportes, as pessoas aplaudiram e riram em um eco alegre (encontro com as famílias no Mall of Asia Arena de Manila (16/01/2015).
2. Não à colonização dos valores e da família
“Assim como nossos povos chegaram à maturidade para dizer não à colonização política, na família, precisamos ser capazes, sagazes para dizer: Não à colonização da família! Peçamos a São José, que é amigo do anjo, para que nos inspire no sonho, quando devemos dizer sim ou não”.
3. Não deixem sozinhos os órfãos e idosos
O Papa expressou sua comoção quando visitou uma casa para crianças sem família e pediu para não deixar sozinhos os órfãos e a infância em geral. Nesse sentido, “se tiramos os pobres do Evangelho, a mensagem de Jesus Cristo não é compreendida”, assegurou (discurso no palácio presidencial de Manila, 16/01/2015).
4. Não à corrupção que tira recursos dos pobres
O Papa Francisco, com seu tom amável porém direto, abordou o câncer da corrupção, enfatizando que os líderes políticos devem distinguir-se “por sua honestidade, integridade e compromisso com o bem comum”. E elevou a voz para que se recuse qualquer forma de corrupção que tire recursos dos pobres. (Discurso às autoridades civis no palácio presidencial, 16/01/2015).
5. Não ao mundanismo que ofusca a luz da vida
Depois, chamou os consagrados e fiéis, de “embaixadores de Cristo”, porque são “os primeiros a acolher” em seus corações “sua graça reconciliadora”. O Papa lhes pediu para se inspirarem em “São Paulo, que explica com clareza o que isso significa: recusar perspectivas mundanas e ver novamente todas as coisas à luz de Cristo”, acrescentou (discurso ao clero na Catedral de Manila, 16/01/2015).
6. Não à tristeza, que confunde e distancia a beleza da vida
O Pontífice animou os jovens sacerdotes, religiosos e seminaristas a compartilharem com todos “a alegria e o entusiasmo” do amor a Cristo. Convidou-os a proclamar a beleza e a verdade da mensagem cristã a uma sociedade que é tentada por uma “visão confusa da sexualidade, matrimônio e família” (discurso ao clero na Catedral de Manila, 16/01/2015).
7. Não estamos sozinhos, não. Temos Jesus, mesmo quando tudo parece perdido
O Papa se deixou surpreender por Deus, como ama dizer, e não pronunciou seu discurso, dedicando-se a consolar a meio milhão de pessoas que perderam tudo durante o tsunami Yolanda, em 2013.
“Não estamos sozinhos, não. Temos Jesus. Temos também nossos irmãos […]. Somos irmãos e irmãs porque nos ajudamos reciprocamente. Perdoem-me, porém não tenho mais nada para lhes dizer. Jesus é nossa consolação. Ele está conosco e não nos abandona, assim como sua Mãe, Maria. Vamos seguir adiante e caminhemos juntos” (encontro em Taclobán, na ilha de Leyte, nas Filipinas, 17/01/2015).
8. Não ao machismo
As mulheres têm muito para dizer à sociedade. “Às vezes, somos muito machistas e não damos lugar à mulher; porém, a mulher é capaz de ver as coisas com olhar diferente do dos homens” (encontro com os jovens na Universidade Santo Tomás de Manila, 18/01/2015).
“A mulher é capaz de fazer perguntas que os homens não conseguem entender…” .
9. Não ter medo de chorar para entender os que sofrem
O Papa, em uma sublime teologia das lágrimas, explicou aos jovens que, para sair da compaixão mundana que não serve para nada, é preciso provar a compaixão que vai mais além de “colocar a mão no bolso e dar uma moeda”. A respeito, disse: “Apenas quando Cristo chorou e foi capaz de chorar, foi que entendeu nossos dramas”.
Assim, convidou os jovens a aprenderem a dor dos marginalizados, dos desprezados. Advertiu a “aqueles que levam uma vida mais ou menos sem necessidades” e não sabem chorar, porque “certas realidades da vida são vistas apenas com os olhos molhados pelas lágrimas” (encontro com os jovens na Universidade Santo Tomás de Manila, 18/01/2015).
Francisco intimou a todos a aprenderem a decifrar a dor dos que sofrem: as minhas lágrimas são lágrimas caprichosas, de quem chora apenas porque gostaria de ter algo mais?.
10. Não a jovens de museu, acumuladores de informação
O Papa Francisco referiu-se ao acúmulo de informação sem buscar conhecimento verdadeiro. “Temos muita informação, porém, talvez, não saibamos o que fazer com ela. Corremos o risco de nos converter em jovens-museu, que têm de tudo, mas não sabem o que fazer. Não precisamos de jovens-museu; precisamos, sim, de jovens sábios. Poderiam me perguntar: ‘Papa, como se chega à sabedoria?’; e esse é outro desafio, o desafio do amor”.
11. Não descuidar do meio ambiente e da criação
Em seu discurso aos jovens, saído do coração, insistiu que devem perseguir o desafio pela integridade, e isso significa não apenas ser consciente da mudança climática, mas também atuar concretamente pelo cuidado do meio ambiente.
12. Não acreditar que sabe tudo, Deus nos surpreende
Por último, o Papa também incentivou todos a deixarem-se surpreender por Deus e a não ter a psicologia “do computador, achar que sabe tudo”. Aqueles que acham que têm as respostas e nenhuma surpresa. “No desafio do amor, Deus se manifesta com surpresas”, afirmou.
Entretanto, pediu para “aprender a mendigar daqueles a quem dão. Isto não é fácil de entender. Aprender a mendigar. Aprender a receber da humildade daqueles a quem ajudamos. Aprender a ser evangelizadores pelos pobres”.
Original em espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil