Posted On 2015-01-18 In Francisco - Mensagem

Temos um Senhor que é capaz de chorar conosco, de nos acompanhar nos momentos mais difíceis da vida

FRANCISCO NAS FILIPINAS. “Foi, com certeza, a homilia mais pessoal, a mais sentida, de todas que Francisco já pronunciou nestes últimos dias”, disse um jornalista da Espanha. A que saiu do coração. Diante de milhares de pessoas, muitos deles sobreviventes da catástrofe do tsunami Yolanda, durante outro forte temporal tropical, e vestindo durante a cerimônia a mesma capa de chuva amarela dos fiéis, para se tornar um deles, Francisco pediu permissão para se dirigir a eles em espanhol. Deixou de lado os papéis, o discurso preparado, e começou a falar. Lenta, porém apaixonadamente, improvisando totalmente, dirigindo-se, de coração a coração, a cada pessoa que o escutava, entre aplausos, lágrimas e uma profunda emoção que aquecia a todos aqueles que, mais uma vez, desafiaram a força da natureza. Milhares de fiéis chorando, mas reconfortados pelas palavras de Francisco.

Estas foram suas palavras, anotadas à medida que Francisco as pronunciava:

“Jesus é como nós. Jesus viveu como nós. Ele é igual a nós, a todos, em tudo, menos no pecado, porque ele não era pecador. Porém, para se tornar igual a nós, assumiu nosso pecado, se fez pecado.

Jesus segue sempre à frente e quando nós suportamos alguma cruz, ele já a sentiu primeiro.

E se hoje todos nós nos reunimos aqui, 14 meses depois do tsunami Yolanda, é porque temos a certeza de que não vamos nos frustrar na fé.

Porque Jesus passou primeiro. Em sua paixão, ele assumiu todas nossas dores

Permitam-me contar-lhe algo. Quando, em Roma, eu assisti essa catástrofe, senti que precisava estar aqui, e naqueles dias decidir vir para cá.

Quis vir para estar com vocês, um pouco tarde, me diriam, é verdade… Mas estou aqui. Estou aqui para lhes dizer que Jesus é o Senhor, que Jesus não desilude.

Papa, pode me dizer um de vocês, ele me desiludiu porque perdi minha casa, minha família, perdi tudo o que tinha, estou doente… É verdade isso e respeito seus sentimentos. Porém, eu olho para ele ali, pregado, e de lá ele não nos desilude. Ele foi consagrado Senhor nesse trono, e dali (da cruz) passou por todas nossas calamidades. Jesus é o Senhor, e é Senhor a partir da cruz, ali ele reinou.

Por isso, ele pode nos entender. Fez-se em tudo igual a nós. Por isso temos um Senhor que é capaz de chorar conosco, que é capaz de nos acompanhar nos momentos mais difíceis da vida.

Muitos de vocês perderam tudo. Eu não sei o que dizer a vocês. Mas ele sabe, sim, o que lhes dizer. Muitos de vocês perderam parte da família, apenas guardo silêncio. Eu os acompanho com meu coração em silêncio. Muitos de vocês se perguntaram, olhando para Cristo: por que, Senhor? E a cada um o Senhor responde de coração a coração.

Eu não tenho outras palavras para dizer a vocês; olhemos para Cristo, ele é o Senhor; ele nos compreende, porque passou por todas as provas pelas quais nós passamos. E junto dele, na cruz, estava a Mãe.

Nós somos como esta criança ali embaixo (referindo-se à imagem da Virgem com a criança que se agarra a ela); nos momentos de dor, de sofrimentos, quando queremos nos revelar, apenas precisamos estender a mão e agarrar seu manto. E dizer ‘mãe’, assim como uma criança fala quando sente medo. É talvez a única palavra que pode expressar o que sentimos nos momentos mais difíceis. “Mãe, mãezinha”.

Façamos juntos um momento de silêncio. Olhemos para o Senhor; ele pode compreender por que todas essas coisas aconteceram. Olhemos para nossa Mãe e, como a criança que está embaixo, vamos agarrar em seu manto. Com o coração, vamos dizer a ela: Mãe. Em silêncio, vamos fazer essa oração; cada um pode lhe dizer o que sente…

Não estamos sozinhos. Temos uma Mãe, temos Jesus, nosso irmão maior. Não estamos sozinhos. E também temos muitos irmãos que, no momento de catástrofe, vieram para nos ajudar. Nós também nos sentimos mais irmãos, ajudamos uns aos outros. Isto é o que me ocorre para lhes falar. Perdoem-me se não tenho outras palavras. Porém, tenham a certeza de que Jesus não desilude. Tenham a certeza de que o amor e a ternura de nossa Mãe não nos desilude.

Agarrados a ela como Mãe, e com a força de Jesus, nosso Senhor, sigamos adiante. E, como irmãos, caminhemos juntos”.

Ao final da missa, o Papa, novamente em espanhol, agradeceu a Deus “por estar hoje conosco, por compartilhar nossas dores, por nos dar esperança. Obrigado, Senhor, por tua tão grande misericórdia, porque quiseste ser um como cada um de nós. Obrigado, Senhor, porque sempre estás perto de nós, mesmo nos momentos de cruz. Obrigado, Senhor, por nos dar esperança. Senhor, que ninguém nos roube a esperança. Obrigado, Senhor, porque no momento mais difícil de tua vida, na cruz, tu te lembraste de nós e nos deixaste uma Mãe, a tua Mãe. Obrigado, Senhor, por não nos deixar órfãos”.

Original em espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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