Posted On 2014-09-14 In Francisco - Mensagem

A mim, o que me importa?

mda. 1914. Para o Movimento de Schoenstatt do mundo todo, esse ano é espontaneamente associado à fundação de Schoenstatt. Uma fundação em plena guerra mundial. “Filho da guerra”- por isso, assim o Padre Kentenich o chama. Uma guerra real, horrível e cruel, uma guerra que pôs fim à vida de tantos jovens, também daqueles que que tinham se entregado para que, a partir do pequeno Santuário no vale de Schoenstatt, se expandisse uma renovação do mundo, em Aliança com a Mãe do Senhor e nossa Mãe. Uma guerra que também se transformou em berço de um Schoenstatt que sai para fora, um Schoenstatt “em saída”. Um Schoenstatt que, depois de ser provado nas trincheiras e campos de batalha, sai para o mundo para ajudar o irmão que sofre, com uma fé que prova com atos que realmente ama esse irmão. Um Schoenstatt que, a partir dessa experiência de ser “filho da guerra”, sabe e deve responder hoje à proposta de Francisco de sair “para as ruas”. Sair do Santuário em nosso “pequeno vale”, em nossa pequena comunidade, para levar uma esperança que não é utópica, mas que se expressa em ações concretas, em projetos evangelizadores que oferecem vida ao ser humano e lhe devolvem sua dignidade, esteja ele onde estiver. Se é na “periferia”, ali mesmo, com todos os riscos e perigos implicados. Neste contexto, é dirigido a todo Schoenstatt o que o Papa Francisco disse esta manhã, 13 de setembro, na visita ao Cemitério monumental militar de Redipuglia, onde rezou pelos mortos de todas as guerras, a cem anos do início da Primeira Guerra Mundial.

Texto completo da homilia do Papa

Depois de ter contemplado a beleza da paisagem desta região inteira, onde homens e mulheres trabalham cuidando da sua família, onde as crianças brincam e os anciãos sonham… ao encontrar-me aqui, neste lugar, só me apetece dizer: a guerra é uma loucura.

Enquanto Deus cuida da sua criação e nós, os homens, somos chamados a colaborar na sua obra, a guerra destrói; destrói até mesmo o que Deus criou de mais belo: o ser humano. A guerra tudo transtorna, incluindo a ligação entre irmãos. A guerra é louca, propõe a destruição como plano de desenvolvimento: querer desenvolver-se através da destruição!

A ganância, a intolerância, a ambição do poder… são motivos que impelem à opção bélica. E tais motivos são muitas vezes justificados por uma ideologia; mas, antes desta, existe a paixão, o impulso desordenado. A ideologia é uma justificação e, mesmo quando não há uma ideologia, pensa-se: “A mim, que me importa?” Tal foi a resposta de Caim: “Sou, porventura, guarda do meu irmão?” (Gn 4, 9). A guerra não respeita ninguém: nem idosos, nem crianças, nem mães, nem pais… “A mim, que me importa?”

Por cima da entrada deste cemitério, campeia irônico o lema da guerra: “A mim, que me importa?” Todas as pessoas, cujos restos repousam aqui, tinham seus projetos, seus sonhos, mas as suas vidas foram ceifadas. A humanidade disse: “A mim, que me importa?”. E mesmo hoje, depois do segundo falimento de outra guerra mundial, talvez se possa falar de uma terceira guerra combatida “por pedaços” com crimes, massacres, destruições…

Para ser honestos, os jornais deveriam ter como título da primeira página: “A mim, que me importa?” Caim diria: “Sou, porventura, guarda do meu irmão?”

Esta atitude é, exatamente, o contrário daquilo que Jesus nos pede no Evangelho que ouvimos: Ele está no mais pequeno dos irmãos; Ele, o Rei, o Juiz do mundo, é o faminto, o sedento, o estrangeiro, o doente, o encarcerado… Quem cuida do irmão, entra na alegria do Senhor; quem, pelo contrário, não o faz, quem diz, com as suas omissões, “ a mim, que me importa?”, fica fora.

Há aqui muitas vítimas. Hoje recordamo-las: há o pranto, há a tristeza. E daqui recordamos todas as vítimas de todas as guerras. Também hoje as vítimas são tantas… Como é possível isto? É possível, porque ainda hoje, nos bastidores, existem interesses, planos geopolíticos, avidez de dinheiro e poder; e há a indústria das armas, que parece ser tão importante!

E estes planificadores do terror, estes organizadores do conflito, bem como os fabricantes das armas escreveram no coração: “A mim, que me importa?”. É próprio dos sábios reconhecer os erros, provar tristeza por eles, arrepender-se, pedir perdão e chorar.

Com esta disposição “a mim, que me importa?” que têm no coração, os negociantes da guerra talvez ganhem muito, mas o seu coração corrupto perdeu a capacidade de chorar. Aquele “a mim, que me importa?” impede de chorar. Caim não chorou. Hoje a sombra de Caim estende-se sobre nós aqui, neste cemitério. Vê-se aqui! Vê-se na história que vem de 1914 até aos dias de hoje; e vê-se também em nossos dias.

Com coração de filho, de irmão, de pai, peço a vós todos e para todos nós a conversão do coração: passar daquele “a mim, que me importa?” para o pranto. Por todos os mortos daquele “inútil massacre’, por todas as vítimas da loucura da guerra de todos os tempos, a humanidade precisa de chorar; e esta é a hora do pranto.


Original em espanhol – Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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