Posted On 2014-06-29 In Francisco - Mensagem

Falar da Igreja é falar de nossa mãe, de nossa família

MENSAGENS DE FRANCISCO, org. “Falar da Igreja é falar de nossa mãe”. O Papa Francisco dedicou a catequese da penúltima Audiência Geral, antes da pausa de verão, à Igreja e à sua história como povo criado por Deus. “A Igreja – disse ele – não é uma associação privada, nem uma ONG”. O Papa exortou milhares de fiéis e peregrinos de todo o mundo, que lotavam a Praça São Pedro, a não se fecharem em si mesmos e a não caírem “na tentação de negociar com Deus para resolver as coisas em benefício próprio”. Francisco lembrou que “todos somos a Igreja, uma realidade muito mais ampla, que não nasceu em laboratório e não deveria restringir-se apenas ao clero ou ao Vaticano”.

Hoje começou um ciclo de catequese sobre a Igreja. É um pouco como o filho que fala de sua mãe, de sua família. Falar da Igreja é falar de nossa mãe, de nossa família. A Igreja não é uma instituição centrada em si mesma ou uma associação privada, uma ONG, nem muito menos se deve restringir o olhar ao clero ou ao Vaticano… “A Igreja pensa…”. A Igreja somos todos nós. “De quem tu estás falando?”. Não, dos sacerdotes…”. Ah, os sacerdotes fazem parte da Igreja, porém a Igreja somos todos nós. Não se deve reduzi-la aos sacerdotes, aos bispos, ao Vaticano… Claro que são parte da Igreja, porém a Igreja somos todos nós, todos família, todos de uma mesma mãe. E a Igreja é uma realidade muito maior, que se abre a toda humanidade e que não nasce em laboratório; a Igreja não nasceu em laboratório, não nasceu improvisadamente. Foi fundada por Jesus, porém é um povo com uma longa história nos ombros e uma preparação que tem seu início antes mesmo de Cristo.

Essa história, ou “pré-história” da Igreja encontra-se já nas páginas do Antigo Testamento. Escutemos o livro do Gênesis: Deus escolheu Abraão, nosso pai na fé, e pediu-lhe que se pudesse a caminho, que deixasse sua pátria terrena e que fosse para outra terra que Ele indicaria (cf. Gn 12, 1-9). E, nessa vocação, Deus não chama apenas Abraão como individuo; desde o princípio, implica também sua família, seus parentes e todos aqueles que estavam a serviço de sua casa. Uma vez no caminho – sim, assim a Igreja começa a caminhar – logo depois, Deus ampliará ainda mais o horizonte e encherá Abraão de sua bênção, prometendo-lhe uma descendência numerosa como as estrelas do céu e as areias do mar. O primeiro ato importante é exatamente este: começando por Abraão, Deus forma um povo para que leve sua bênção a todas as famílias da terra. E no seio desse povo nasce Jesus. É Deus quem forma esse povo, essa história, a Igreja a caminho, e exatamente ali nasce Jesus, no meio desse povo.

Um segundo elemento: não é Abraão quem constitui um povo em torno dele, porque quem dá vida a esse povo é o próprio Deus. Geralmente, era o homem que se dirigia à divindade, cuidando de encurtar a distância e invocando apoio e proteção. As pessoas rezavam aos deuses, às divindades. Ao contrário, nesse caso, presencia-se algo muito inédito: é o próprio Deus quem toma a iniciativa. Escutemos isto: é o próprio Deus quem bate à porta de Abraão e lhe diz: siga adiante, deixa tua terra, comece a caminhar e eu te darei um grande povo. Esse é o começo da Igreja e nesse povo nasce Jesus. Deus toma a iniciativa e dirige sua palavra ao ser humano, criando um vínculo e uma nova relação com ele. “Mas, padre, como é possível? Deus não fala?”. “Sim”. “E nós podemos falar com Deus?”. “Sim”. “Mas podemos ter uma conversa com Deus?”. “Sim”. Isso se chama oração, mas é Deus que fez isso desde o começo. Assim, Deus forma um povo com todos aqueles que escutam sua Palavra e que a colocam em prática, acreditando n’Ele. Esta é a única condição: acreditar em Deus. Se você acredita em Deus, você o escuta e se coloca a caminho – isso é Igreja. O amor de Deus precede tudo. Deus sempre é o primeiro, chega antes de nós, Ele nos precede. O profeta Isaías, ou Jeremias, não me lembro bem, dizia que Deus é como a flor da amêndoa, porque é a primeira árvore que floresce na primavera. Para dizer que Deus sempre floresce antes de nós. Quando nós chegamos, Ele já está nos esperando, Ele nos chama, Ele nos faz caminhar. Sempre se adianta em relação a nós. E isso se chama amor, porque Deus nos espera sempre. “Mas, padre, eu não acredito nisso, porque se o senhor soubesse, padre, como minha vida tem sido ruim… como posso pensar que Deus me espera?”. Deus espera você. E se você for um grande pecador, Ele te espera mais ainda e te espera com muito amor, porque Ele é o primeiro. Assim é a beleza da Igreja, que nos leva a esse Deus que nos espera. Precede a Abraão e precede também a Adão.

Abraão e os seus escutaram o chamado de Deus e se puseram a caminho, apesar de não saberem exatamente quem era esse Deus e para onde os estava levando. É verdade, porque Abraão se pôs a caminho acreditando nesse Deus que lhe havia falado, porém não tinha um livro de teologia para estudar quem era esse Deus. Acredita, acredita no amor. Deus o faz sentir o amor e ele acredita. Isso, com certeza, não significa que essa gente estava sempre convencida e que tenha sido sempre fiel. Pelo contrário, desde o início, houve resistências; curvaram-se sobre si mesmos e sobre os próprios interesses e à tentação de regatear com Deus e resolver as coisas do seu próprio modo. Essas são as traições e os pecados que marcam o caminho do povo ao longo de toda a história da salvação, que é a história da fidelidade de Deus e da infidelidade do povo. Deus, com certeza, não se cansa. Deus tem paciência, tem muita paciência; a todo momento, continua educando e formando seu povo, como um pai faz com seu filho. Deus caminha conosco. Disse o profeta Oséias: “Eu caminho contigo e te ensino a caminhar como um pai ensina seu filho a andar”. Muito linda essa imagem de Deus. Assim acontece conosco: nos ensina a andar. E é a mesma atitude que mantém em relação à Igreja. Inclusive nós, de fato, em nosso propósito de seguir o Senhor Jesus, experimentamos a cada dia o egoísmo e a dureza de nosso coração. Com certeza, quando nos reconhecemos pecadores, Deus nos cobre com sua misericórdia e seu amor. E nos perdoa, nos perdoa sempre. É exatamente isso o que nos faz crescer como povo de Deus, como Igreja: não é nossa bondade, não são nossos méritos – nós somos muito pequenos; não, não é isso – mas, sim, a experiência cotidiana de quanto o Senhor nos ama e se preocupa conosco. É isso que nos faz sentir verdadeiramente seus, em suas mãos, e nos faz crescer na comunhão com Ele e com o próximo. Ser Igreja significa sentir-se nas mãos de Deus, que é pai e nos ama, nos acaricia, nos espera, nos faz sentir sua ternura. E tudo isso é muito lindo.

Queridos amigos, este é o projeto de Deus. Quando Deus chamou Abraão pensava nisto: formar um povo abençoado por seu amor, que levasse sua bênção a todos os povos da terra. Esse projeto não muda, está sempre em ação. Em Cristo aconteceu sua realização e, mesmo assim, hoje Deus continua agindo na Igreja. Peçamos, pois, a graça de sermos fiéis ao seguimento do Senhor Jesus e na escuta de sua Palavra, dispostos a sair cada dia, como Abraão, rumo à terra de Deus e do ser humano, nossa verdadeira pátria, e assim chegarmos a ser bênçãos, sinais do amor de Deus para todos seus filhos. Eu gosto de pensar que um sinônimo, outro nome que nós, cristãos, podemos ter é este: homens e mulheres, somos pessoas que abençoam. Com sua vida, o cristão deve abençoar sempre, abençoar a Deus e abençoar a todos. Nós, cristãos, somos pessoas que abençoam, que sabem abençoar. Esta é uma bela vocação!



Original em espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

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