Posted On 2014-08-26 In Francisco - iniciativos e gestos

O Papa recorda a sua viagem à Coreia: “Cristo não anula as culturas”

ROMA, José M. Vidal – RD/mda. Audiência de quarta-feira na sala Paulo VI. Audiência de luto pela tragédia que acaba de atingir a família do Papa Francisco, com a morte da esposa do seu sobrinho e dos seus dois filhos pequenos. Nota-se emoção no ambiente. O Papa agradece as condolências. Na catequese centra-se na recente viagem à Coreia e assegura que “Cristo não anula as culturas”.

O Papa está triste, apesar de querer dar a sensação de normalidade: a sua família é o mundo. E as pessoas entendem-no e acompanham-no no seu sentimento, enquanto os speakers apresentam as condolências nos distintos idiomas. Vive-se uma aliança solidária com Francisco, tão singela e tão normal. É pai, e a família sofre com o pai, como se alegra com ele. Agradeço-vos pelas condolências e pela oração: com estas palavras o Papa Francisco dirigiu-se aos fiéis que participaram esta manhã na audiência geral na sala Paulo VI para agradecer-lhes a sua proximidade e oração neste difícil momento que atravessa a sua família, a perda de três dos seus membros num trágico acidente de viação ocorrido ontem na Argentina. Valeria Carmona, mulher de Emmanuel Bergoglio, José Bergoglio de dois anos e Antonio Bergoglio de 8 meses: “Agradeço-vos também pelas orações, pelas condolências pelo que aconteceu na minha família. Também o Papa tem uma família e nós eramos cinco irmãos, tenho dezasseis sobrinhos e um destes sobrinhos teve um acidente de viação e morreu a sua mulher, os dois filhos pequeninos de dois anos e outro de poucos meses. E ele, neste momento, está em estado crítico. Mas agradeço-vos muito, muito, pelas condolências e pela oração”.

“Faz parte da minha identidade cultural”

Num clima muito distinto do habitual nas audiências gerais, menos entusiasta e marcado pelo luto que atingiu a família do Papa, o Papa, em seguida, saudou, um por um, os diretores da sua equipa de alma, a Copa Libertadores, vestidos de luto. Ao lado da sua cadeira, sobre uma mesa de madeira, saltavam à vista dois grandes troféus de prata. A Copa Libertadores verdadeira e a sua réplica, que ficará no Vaticano. Ao saudar em espanhol os peregrinos hispanos, destacou a presença de representantes do Ciclón: “De modo especial, saúdo os campeões da América, a equipa de San Lorenzo, aqui presente, que faz parte da minha identidade cultural”, disse, provocando uma ovação entre os argentinos.

Um Papa que chora, que tem família, um Papa que visita os seus amigos, que ri, que brinca, que surpreende, que improvisa, que dialoga, que telefona, em resumo, que atua humanamente: Francisco chega ao coração dos seres humanos porque é simplesmente ele próprio. Não atua como Papa, ele é-o.

A sua viagem à Coreia

O Santo Padre partilhou, nas suas palavras, a gratidão e reflexão depois da sua viagem pastoral à Coreia. Francisco falou sobre a intensa atividade desenvolvida na Coreia, com a beatificação de 124 mártires, a Jornada da Juventude Asiática e a Missa pela paz e reconciliação na península dividida.

Texto completo da catequese do Papa

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Nos dias passados realizei uma viagem apostólica à Coreia e hoje, juntamente convosco, dou graças ao Senhor por este dom. Pude visitar uma Igreja jovem e dinâmica, fundada no testemunho dos mártires e animada pelo espírito missionário, num país onde se encontram antigas culturas asiáticas e a novidade perene do Evangelho: encontram-se ambas.

Desejo manifestar novamente a minha gratidão aos amados Bispos da Coreia, à Senhora Presidente da República, às demais Autoridades e a todos aqueles que colaboraram para esta minha visita.

O significado desta viagem apostólica pode ser resumido em três palavras: memória, esperança e testemunho.

A República da Coreia é um país que teve um desenvolvimento económico notável e rápido. Os seus habitantes são grandes trabalhadores, disciplinados, metódicos e devem conservar a força herdada dos seus antepassados.

Em tal situação, a Igreja é guardiã da memória e da esperança: é uma família espiritual na qual os adultos transmitem aos jovens a chama da fé recebida dos idosos; a memória das testemunhas do passado torna-se novo testemunho no presente e esperança de futuro. É nesta perspectiva que se podem ler os dois acontecimentos principais desta viagem: a beatificação de 124 Mártires coreanos, que se acrescentam aos já canonizados há 30 anos por são João Paulo II; e o encontro com os jovens, por ocasião da Sexta Jornada Asiática da Juventude.

O jovem é sempre uma pessoa à procura de algo pelo que valha a pena viver, e o Mártir dá testemunho de algo, aliás, de Alguém por quem vale a pena dar a vida. Esta realidade é o Amor de Deus, que se encarnou em Jesus, Testemunha do Pai. Nos dois momentos da viagem dedicados aos jovens, o Espírito do Senhor Ressuscitado encheu-nos de alegria e esperança, que os jovens levarão aos seus vários países e que farão muito bem!

A Igreja na Coreia conserva também a memória do papel primário desempenhado pelos leigos, quer nos alvores da fé, quer na obra de evangelização. Com efeito, nessa terra a comunidade cristã não foi fundada por missionários, mas por um grupo de jovens coreanos na segunda metade de 1700; fascinados por alguns textos cristãos, estudaram-nos a fundo e escolheram-nos como regra de vida. Um deles foi enviado para Pequim a fim de receber o Baptismo, e depois este leigo baptizou por sua vez os companheiros. Daquele primeiro núcleo desenvolveu-se uma grande comunidade, que desde o início e durante cerca de um século padeceu perseguições violentas, com milhares de mártires. Por conseguinte, a Igreja na Coreia está fundamentada na fé, no compromisso missionário e no martírio dos fiéis leigos.

Os primeiros cristãos coreanos propuseram-se como modelo a comunidade apostólica de Jerusalém, praticando o amor fraterno que supera todas as diferenças sociais. Por isso, encorajei os cristãos de hoje a ser generosos na partilha com os mais pobres e excluídos, segundo o Evangelho de Mateus, no capítulo 25: «Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (v. 40).

Caros irmãos, na história da fé na Coreia vê-se que Cristo não anula as culturas, nem suprime o caminho dos povos que ao longo dos séculos e milénios procuram a verdade e praticam o amor a Deus e ao próximo. Cristo não extingue o que é bom, mas leva-o em frente, completa-o.

Ao contrário, o que Cristo combate e derrota é o maligno, que semeia joio entre os homens, entre os povos; que gera exclusão por causa da idolatria do dinheiro; que lança o veneno do nada no coração dos jovens. Foi isto que Jesus Cristo combateu e venceu com o seu Sacrifício de amor. E se permanecermos nele, no seu amor, também nós, como os Mártires, podemos viver e testemunhar a sua vitória. Com esta fé pudemos rezar, e também agora oremos a fim de que todos os filhos da terra coreana, que padecem as consequências de guerras e divisões, possam percorrer um caminho de fraternidade e reconciliação.

Esta viagem foi iluminada pela festividade da Assunção de Maria ao Céu. Do alto, onde reina com Cristo, a Mãe da Igreja acompanha o caminho do povo de Deus, sustém os passos mais cansativos, conforta quantos vivem na provação e mantém aberto o horizonte da esperança. Pela sua intercessão materna, o Senhor abençoe sempre o povo coreano, concedendo-lhe paz e prosperidade; e abençoe a Igreja que vive naquela terra, para que seja sempre fecunda e cheia da alegria do Evangelho.


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