org. Ordenando os seus “papers”, Claudia Echenique da equipa schoenstatt.org, de Buenos Aires, encontrou uma homília de Monsenhor Jorge Bergoglio, de 1999, numa missa com os Movimentos laicais, à qual assistiram pessoas do Movimento de Schoenstatt. Em 1999, Monsenhor Bergoglio ainda não era Cardeal e há apenas um ano que tinha assumido o cargo de Arcebispo de Buenos Aires. Monsenhor Bergoglio fala do pedido de Moisés a Deus: “Senhor, converte-nos na tua herança” (Ex. 34,9) Menciona que a “herança é um presente gratuito para oferecer a outros, que não devemos guardá-la nas vitrines mas sair à rua”. Destaca que os movimentos são também “pastores de pessoas, do povo, que participam do pastoreio do Bispo”. E uma frase muito forte que disse foi: “Que triste é quando os movimentos adoecem em vez de serem pastores do povo, convertem-se “em cabeleireiros de ovelhas e passam as reuniões a “maquilhar a alma”. Por último, o nosso atual Papa Francisco, pede a Deus “a graça da fecundidade para transmitir a herança”.
Penso em todo o tesouro que nos deixou o Padre Kentenich e no nosso compromisso com ele: “Pai, tua herança, nossa missão”, comenta Claudia Echenique. Que frase tão schoenstattiana é esta: “ A graça da fecundidade para transmitir a herança”. É a terceira graça do Santuário!! Penso na Campanha do Rosário, nas Missões familiares, nas Voluntárias de Maria nos hospitais, nos projetos sociais no Paraguai e tantos outros que a partir do pequeno, dão em cada dia o seu contributo à missão.
“É para pôr em schoenstatt.org com letras de ouro”, propõe um participante da Conferência 2014. “Programático e que nos diz o que provavelmente nos propõe para 2014…”
Publicamos aqui com “letras de ouro” esta conferência de quem agora é nosso Papa Francisco:
Transcrição da Homília de Monsenhor Jorge Bergoglio aos Movimentos laicais
Sábado 29 de maio de 1999 – Festa da Santíssima Trindade
Escutámos na primeira leitura, a humilde petição de Moisés depois de se ter encontrado com Deus: “Senhor, converte-nos na tua herança” (Ex. 34,9). Assim pediu ele a Deus: “nós, o teu povo, queremos ser a tua herança”. Este pedido é conveniente que todos o façamos aqui hoje, os movimentos e as instituições diocesanas, que nos reunimos para celebrar o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
“Queremos ser a tua herança”
O que herdámos? Herdámos a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo porque tudo foi graça através Dele. Tudo o que somos, o que recebemos é graça, e muita. Derramamento de graça, derramamento de gratuidade. Devemos ser conscientes de que herdámos essa graça.
O amor do Pai
Não caminhamos sozinhos neste mundo. Caminhamos com um Pai que nos acompanha como pessoa, que nos acompanha como movimento e como instituição, que nos leva pela mão, que nos conduz o coração.
A comunhão do Espírito Santo
Não caminhamos sozinhos, caminhamos juntos e em comunhão. A diversidade de cada um de nós, a diversidade dos nossos movimentos e instituições formam um. Não numa uniformidade mas numa variedade tão prolífica do Espírito Santo que harmoniza os carismas, que Ele distribui através de todos nós.
A nossa petição: “Senhor, converte-nos na tua herança”
Queremos ser herança da graça de Jesus Cristo, do amor do Pai e da comunhão do Espírito Santo. Mas isso sim: queremos herdá-la na sua mais genuína essência. Queremos herdá-la sem a deitar a perder.
Se isto é um presente, é um presente para oferecer
É uma herança, não para nos alimentarmos a nós mesmos, usá-la e depois não nos importarmos mais com ela, “que seja o que Deus quiser”. É uma herança para deixar de herança. E deixar de herança todos os dias da nossa vida. E o ser de um movimento e de uma instituição é herdar para dar herança, é receber o presente para oferecer. É receber a graça de Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito para dá-lo a outros. Assim têm sentido os movimentos!!
Os movimentos e as instituições diocesanas têm esta participação no pastoreio do Bispo, têm algo de pastores. Pastores de pessoas, do povo. Que triste é quando um movimento ou instituição adoece e em vez de serem pastores do povo, tornam-se em “cabeleireiros de ovelhas” e passam todo o tempo nas reuniões “maquilhando a alma”!
Quantos “maquilhadores” existem? Não sei, esperemos que sejam poucos. Mas que mal nos fazem aqueles que vivem para “olhar para o seu umbigo” e não saem para missionar. Não saem para dar a herança que receberam gratuitamente por pura graça de Jesus Cristo, por puro amor do Pai em comunhão com o Espírito Santo.
Cuidado! Cuidado com as elites. As elites fecham-se numa bolha, perdem o horizonte missionário, perdem o impulso, perdem a coragem. As instituições e movimentos têm que dar a herança. Perguntar-me-ão: “Padre, onde? Na rua, na rua. Ali onde se vive a vida da nossa cidade. Ali onde se faz a salvação eterna de homens e mulheres. Ali onde estão os valores. Ali onde muitos meninos, desde muito pequenos, podem começar a tomar um caminho que os vai fazer muito infelizes o resto das suas vidas. A rua é o lugar teológico dos movimentos e das instituições. É aí que têm de se sacrificar, oferecendo o presente recebido, transmitindo a herança que receberam gratuitamente.
Neste dia de encontro em que desfrutamos do presente da graça de Jesus Cristo, do amor do Pai e da comunhão do Espírito Santo; neste dia de encontro, em que pedimos como Moisés a Deus “Senhor, converte-nos na tua herança”, também lhe pedimos a graça da fecundidade para transmitir essa herança.
Como Bispo peço-lhes: Por favor, não guardem a herança na vitrine para ser mostrada às visitas. Levem-na para a rua, procurem horizontes missionários, “trabalhando-a” todos os dias, que esta herança, que tão gratuitamente recebemos, seja fermento desta cidade.
Entrego-vos à Virgem, nossa Mãe, a primeira que recebeu a herança da Redenção. A primeira que soube o que era a graça de Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo. A Ela peço-lhe que os impulsione, que os empurre para fora, que não permita que se “embichen” (1). Cuidado! Que como boa Mãe, os ensine a levar a mensagem, a lutar pela salvação de tanta gente, pelo crescimento dos nossos meninos e jovens. Que Ela os acompanhe, Assim seja.
(1) “Embichen”: expressão argentina das zonas rurais que significa “que não se lhes encham as feridas de larvas por ficarem quietos, imóveis”.
Trad.: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal
Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal