El Pastor Foto: Aica

Posted On 2023-05-20 In Em Aliança solidária com Francisco

Apresentaram “El Pastor” na Feira do Livro de Buenos Aires

ARGENTINA, Jorge Rouillon em AICA •

O jornalista Nelson Castro apresentou o trabalho dos seus colegas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, que se debruçam sobre os dez anos do pontificado de Francisco, com quem mantiveram diálogos em Roma. —

O livro “O Pastor. Desafios, razões e reflexões do Papa Francisco sobre o seu pontificado”, dos jornalistas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, foi apresentado na Feira do Livro, num diálogo entre os autores e o seu colega Nelson Castro.

Este último disse que não tinha conseguido parar de o ler por três razões: pela clareza da escrita, para ver como os autores do livro “O Jesuíta” viam o mesmo protagonista, antigo Arcebispo de Buenos Aires e actual Papa, e pelo seu conteúdo de realidade, “porque não deixa nenhum tema por abordar”.

“Encontrei a mesma pessoa que sempre tinha encontrado”

Questionado sobre se, passados dez anos, tinham encontrado a mesma pessoa com quem tinham dialogado para o livro “O Jesuíta”, Rubin evocou o momento em que Bergoglio foi eleito Papa e teve um primeiro encontro com jornalistas, na sala Paulo VI, onde estavam 5.000 pessoas, e o viu vestido de branco. “Olá, Sergio”, saudou-o Francisco, dando-lhe um abraço. Rubin reflectiu. “Encontrei a mesma pessoa de sempre”.

Depois foi todos os anos com a Francesca. Ele explica que encontrou a mesma pessoa, mas especifica: “A única coisa que mudou é o que toda a gente vê: que ele é mais extrovertido, tem um sorriso que não tinha na Argentina, uma maior predisposição para os meios de comunicação”. Disse que não se trata de uma questão de marketing, mas “exprime uma alegria evangélica, aberta à esperança, de uma Igreja aberta e que acolhe todos”… porque Deus é amor.

Francisco lembrava-lhes em que ponto tinha ficado a última conversa

Por sua vez, Ambrogetti disse que, apesar de ser o mesmo, está sempre a surpreender. Recordou um primeiro encontro com correspondentes estrangeiros em Buenos Aires, em 2001; todos ficaram impressionados com a sua simplicidade, afabilidade e humildade, ao mesmo tempo que revelava profundidade intelectual. Ambrogetti observou algo que, se lhe tivessem dito, não teria acreditado. Com todos os problemas do mundo que tem de enfrentar e ter presentes, sempre que o encontravam em Roma, Francisco lembrava-lhes a última conversa, um ano antes, para continuar o assunto. Retomava o fio da meada do que tinham estado a falar há um ano. Sublinhava a sua total atenção à escuta.

A jornalista, que fez uma longa carreira na agência noticiosa italiana Ansa, observou que as profundas raízes familiares italianas de Francisco facilitaram a sua ligação ao contexto italiano.

Apesar de ser originário da América Latina, exprime-se muito bem na língua desse país, conhecendo mesmo muitos termos dialectais. “Às vezes sentia-me como se estivesse a falar com um italiano”, disse Ambrogetti. Achou que era altura de lhe perguntar se se sentia argentino. “Sim”, respondeu ele categoricamente. Ela sublinhou, que é o Papa que vem de uma megalópole, que é “um universo à escala, com tudo o que há de bom e de mau”. E vem de “um país hospitaleiro, aberto a outras culturas”, onde frequentou uma escola pública e se misturou com colegas judeus e muçulmanos de diferentes origens. Considera que é uma pessoa que se enriqueceu com a argentinidade e que a levou até onde está hoje. “É por isso que ele é agora um Papa que está a enriquecer a Igreja com a sua identidade argentina. Rubin salientou também as suas idiossincrasias como portenho, que na sua juventude dançou a milonga.

Embora o tenha descrito como uma “pessoa muito culta, muito preparada, como um bom jesuíta”, Rubin salientou que “nunca ostentou os seus conhecimentos” e sublinhou a sua humanidade, a sua atitude como pastor, “a atitude que qualquer padre deve ter, que tem um grande coração, que pode acolher toda a gente”.

Rubin afirmou que o livro tenta resumir o seu pontificado em pontos altos, ano após ano: a sua atitude em relação aos abusos sexuais, a transparência nas finanças do Vaticano (agora sujeitas a controlos muito exigentes por parte de organismos independentes), os seus 120 pronunciamentos contra a invasão da Ucrânia, etc.

A liberdade absoluta que tiveram para perguntar o que lhes apetecia nas reuniões

Ambos autores concordaram com a liberdade absoluta que tiveram para colocar questões nas suas reuniões. Rubin disse que Francisco afirmou que a última corte europeia de monarquia absoluta é o Vaticano e que tentou transmitir aos Cardeais e Bispos uma mensagem de austeridade, de mudança de hábitos, de mudança cultural, o que não é fácil; quer uma Igreja mais despojada e pronta a servir, mais próxima das pessoas.

Ambrogetti observou que ele deu mais espaço às mulheres e à colegialidade, uma Igreja mais horizontal e menos vertical. Alguns observam que a Igreja não é uma democracia. Ambrogetti considera que a Igreja está muitas vezes alguns passos atrás do que se passa na sociedade e, num certo sentido, isso é bom, na medida em que pode actuar como um contrapeso, um guia. Mas considera que, por vezes, a Igreja tem estado “demasiado atrás” e que o actual Papa tem uma boa ligação. “É o Papa que melhor escutou o que a sociedade lhe pede actualmente. Isso deu origem a críticas. Mas a Igreja não será a mesma depois de Francisco”.

Francisco

O Padre Pedro com o Papa Francisco, 8 de Novembro de 2019, Conferência dos responsáveis pela Pastoral Penitenciária. Foto: Servizio Fotografico – Dicastério para a Comunicação

Ele está a universalizar a Igreja

Sublinhou também que, numa sondagem séria, ele aparece como a personalidade mais respeitada do mundo, pelo que lamenta “que alguns argentinos não o valorizem ou não se orgulhem dele”. Na Europa, disse, “estão conscientes de que ele está a enriquecer a Igreja, embora em alguns círculos possam não gostar dele, possam pensar que estão a perder centralidade. Mas ele está a universalizar a Igreja”.

O Papa recordou que cerca de 50% dos novos Cardeais provêm de países que nunca estiveram representados no Vaticano. O seu objectivo é que os últimos, os deslocados, os abandonados e os invisíveis tenham uma presença mais universal. A mensagem do Evangelho deve ser universal e não estar ligada a uma área geográfica ou a uma época específica”, afirmou.

Por seu lado, Rubin disse que, vindo da América Latina, do terceiro mundo, tem uma visão periférica e, a partir daí, olha para o centro. A partir da periferia, disse, as coisas são vistas de uma forma diferente. Uma visão periférica não apenas em termos geográficos ou económicos, “mas num sentido amplo, porque existem periferias espirituais e afectivas”.

Ele sabia que era necessário noutro lugar

Por fim, perguntaram-lhe se virá à Argentina. Rubin estimou que, uma vez ultrapassadas as tensões de um ano eleitoral – mesmo que outras continuem por aliviar -, pode haver a possibilidade de vir no próximo ano, talvez em Março, Abril ou Maio, se estiver de boa saúde. O Presidente da República afirmou que pretende coroar uma espécie de acordo básico na sociedade argentina. “Penso que seria muito bom que, nesta altura, a nossa liderança pensasse em como construir pontes”. Recordou que Bergoglio, em Buenos Aires, falou com toda a gente, recebeu políticos, empresários, sindicalistas, etc., na Cúria. “O Papa está a ajudar a partir de lá, falando com todos, mas nós também temos de nos preparar”.

Considerou também positivo que a Igreja argentina esteja a preparar os seus fiéis para receber o Vigário de Cristo na Terra. Lamentou que, por vezes, se perca a dimensão religiosa do Papa. E concluiu: “Espero que a sua visita seja frutuosa e que tenhamos os nossos corações preparados para que assim seja”.

Ambrogetti referiu que ele está ansioso por vir. Mas salientou que aqueles que não compreendem o Papa não conhecem Bergoglio. Ele tende a adiar o que mais lhe interessa e dá prioridade a estar onde acha que é mais necessário. “Quando era um simples padre, nunca passava as férias com a família, apesar de a amar, porque sabia que era necessário noutro lugar. Hoje precisam dele em Roma e por isso ele adia o que mais quer fazer. Mas o que ele mais quer é regressar, e é por isso que o deixa para o fim”.

Após a apresentação, os autores autografaram exemplares no stand da Penguin Random House, editora do livro, que tem 346 páginas e um prefácio do próprio Papa Francisco.

 

El Pastor

Na Argentina:
nas livrarias

Fora da Argentina:
A partir de Junho de 2023 na Editora Origen, também como E-Book
ISBN-10 : ‎ 164473852X
ISBN-13 : ‎ 978-1644738528

 

 

 

 

Original: castelhano (18/5/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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