todos alle all tudos tutti

Posted On 2024-01-01 In Igreja - Francisco - movimentos

Fiducia Supplicans: Todos podem vir a Ti

Por Maria Fischer •

“Quem interprete a bênção como uma legitimação do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou não leu o documento ou tem más intenções”, afirmou o Cardeal Víctor Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, em entrevista a Javier Martínez-Brocal para o jornal espanhol ABC. Se em 18 de Dezembro, quando foi publicado Fiducia supplicans, alguns pensaram: “Finalmente”, outros “é demasiado tarde, as pessoas já partiram”, e outros ainda temeram o fim da Doutrina da Fé sobre o matrimónio (ou sobre a sexualidade humana?), houve uma palavra da recente Jornada Mundial da Juventude que ressoou em muitos: “Todos”. Na Igreja há lugar para todos, todos, todos. —

Sem entrar em questões teológicas e pastorais – é o que faz o Cardeal Fernández na entrevista ao jornal  ABC e no que compilamos a seguir -, se fizermos nossa, a recomendação implícita do Cardeal nesta entrevista: É preciso ler e querer entender o documento antes de dar a sua opinião. Mas algo me vem à mente neste momento, uma oração escrita há quase 30 anos, no início humilde e muito simples dos “Dez Minutos Juntos no Presépio”, que muito mais tarde saiu também com música de Kathy Kirkland-Kanewske (DE)  .

O paradigma da misericórdia

Todos podem vir a Ti, Jesus, bebé na manjedoura.
Anjos e ovelhas
pastores e reis,
ricos e pobres,
famosos e desconhecidos,
velhos e crianças,
felizes e tristes,
fortes e fracos,
habilidosos e não habilidosos,
culpados e santos
… e eu também.

Em palavras simples e escrito, na altura, para uma iniciativa missionária no presépio da Igreja da Adoração, a partir da experiência que tocou o coração, esta oração fala de uma mudança de paradigma. Durante séculos, a Igreja actuou a partir do esquema do ‘poder sobre a pertença’, do poder de decidir quem devia entrar e quem não devia, ou quem era expulso, excluído da pertença plena, do poder sobre quem, depois de fazer ou oferecer algo, devia voltar e quem nunca devia.

A mudança de paradigma que é o grande tema do Papa Francisco e dos seus, hoje, é o de “todos”. Antes de mais, todos. E depois veremos como evolui o paradigma da misericórdia nas pessoas. Na verdade, nada de revolucionário, porque aquele Jesus, aquele menino pobre nascido em Belém, pregava a mesma coisa. Bem, sabemos como acabou. Aqueles que não queriam perder o seu poder de aceitar e excluir, crucificaram-no.

Mas ressuscitou e, desde então, procura aliados para este Reino do Pai, este Reino de Misericórdia, esta Igreja de todos, onde todos podem vir a ELE, anjos e ovelhas, pastores e reis, ricos e pobres, famosos e desconhecidos, velhos e crianças, alegres e tristes, fortes e fracos, hábeis e não hábeis, culpados e santos, … e eu também.

Esta Igreja que dá a resposta do pastor, não a resposta do juiz.

O Cardeal dá um exemplo: “Imaginemos que, no meio de uma grande peregrinação, um casal divorciado em nova união diz ao padre: ‘Por favor, abençoe-nos. Não conseguimos encontrar trabalho e ele está muito doente, a vida está a tornar-se muito difícil para nós, que Deus nos ajude. Negarias esta bênção, e se eles fossem homossexuais, negarias?”

É um momento de discernimento

todos “Os Bispos locais e as Conferências Episcopais devem fazer um exercício de discernimento sobre a aplicação da declaração de Fiducia supplicans“, disse o Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, Cardeal Victor Manuel Fernandez, comentando as reticências expressas por muitos Bispos em todo o mundo sobre o documento publicado a 18 de Dezembro, que autorizava bênçãos não litúrgicas para casais “irregulares”.

O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé distingue entre bênçãos litúrgicas e outras bênçãos informais e encoraja as bênçãos para pessoas em “situações irregulares” e “casais do mesmo sexo”, estipulando que estas não devem ser confundidas com a aprovação de comportamentos ou circunstâncias contrárias aos ensinamentos da fé.

A resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus

Numa entrevista publicada no jornal espanhol ABC, o Cardeal argentino respondeu às críticas e opiniões divergentes expressas por outros Cardeais, Bispos e Conferências Episcopais, afirmando que “se se ler o texto com a devida disposição, vê-se que apoia com grande clareza e simplicidade o eterno ensinamento católico sobre o matrimónio e a sexualidade humana” e acrescentou: “Quem interpretar a bênção como legitimando o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou não leu o documento ou tem má intenção”.

“A declaração afirma clara e consistentemente que se trata de bênçãos não ritualizadas e, por conseguinte, não são interpretadas como casamento”, insistiu.

Estas bênçãos “são simplesmente a resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus”, e não “um casamento”, “uma aprovação do estilo de vida que levam” ou uma “absolvição”.

Diferentes contextos regionais

Nos últimos dias, vários Cardeais, Bispos e Conferências Episcopais de todo o mundo, mas especialmente em África, questionaram a clareza do texto, ou simplesmente afirmaram que não o querem aplicar. Estas críticas, segundo o Cardeal, exprimem muitas vezes “a inoportunidade de dar bênçãos nos seus contextos regionais, o que poderia facilmente ser confundido com a legitimação de uma união irregular”.

Em particular, reconhece a dificuldade de a aplicar num país onde, como em África, existe “uma legislação que pune com prisão o simples facto de se declarar homossexual”. Cabe, portanto, “a cada Bispo local fazer esse discernimento ou, em todo o caso, dar orientações complementares”, afirma o Prefeito argentino.

Mas, insiste, os Bispos “não podem estar em desacordo com esta doutrina” por tudo isto. “Teremos de nos habituar a compreender que, se um padre dá este tipo de bênção simples, não está a ser herético, não está a ratificar nada e não está a negar a doutrina católica sobre o casamento”, concluiu.

Fiducia supplicans

 

Entrevista completa (só para subscritores)

Screenshot

Com material de AICA. Colaboração: Roberto González, Juan Zaforas

 Original: castelhano (30/12/2023). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

Tags : , , , , , , , , ,

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *