Posted On 2014-09-17 In Artigos de Opinião

Que Ele nos roube até com violência

EM POUCAS PALAVRAS, Pe. Joaquín Alliende. A palavra “rapiamur” indica, em latim, uma acção decidida e quase violenta. Significa agarrar em alguma coisa e mudá-la de sítio. Cristo é Qem nos muda do pecado para a graça. Ele é o Verbo da Trindade criadora. E nós,em conjunto com tudo o criado, somos criaturas. Com elas partilhamos uma tarefa: tornar visível o Invisível, atrair o finito para o Infinito. Na Liturgia do Natal, o Prefácio fala desta “mudança “ da terra para o Céu, usando , em latim, a já mencionada palavra “rapiamur”. No som das suas três sílabas ecoa “pilhagem-saque”, “ave de rapina” (águia, condor). Também na linguagem militar: os vencedores “cobraram com violência a sua pilhagem”. O texto natalício podê-lo-íamos traduzir assim:””A Palavra faz-Se Carne para que, conhecendo-A visivelmente, Ele nos sequestre como Seu saque rumo ao amor do Invisível”. Concretamente, o corpinho palpável e risonho do Menino de Maria, em Belém, rouba-nos para o Céu. Somos o seu saque. Ele arranca-nos quase à força para nos depositar na mão acariciadora do Pai e no beijo do Espírito Santo.

O nosso Fundador José Kentenich formula pedagógica e genialmente a relação da terra e do céu. Diz que a terra é uma réplica do céu, que o desvenda, que nos fala, porque é “expressão” do céu. Ao mesmo tempo, porque a Criação nos devolve à origem, ela é “caminho” de regresso. Por outro lado, amando bem o visivel, evita-se que o Invisível se transforme em etéreo longínquo, impessoal, vago, sem temperatura. (Nisto consiste o Deísmo: Deus existe mas é apático, ausente). O visível terreno é um “seguro” para podermos chegar a amar existencialmente a Trindade e os filhos já “usufruidores” para sempre.

Cada celebração terrena do nosso centenário é expressão-caminho-seguro da gozosa liturgia do Céu. Cada côr, cada forma, os cânticos e os fogos e as refeições e os apertos de mão, são expressão prática e poética do mistério de Schoenstatt. Tudo isso nos deveria “pilhar” o coração. Para isso, trataremos de celebrar o 18 de Outubro de 2014 com intimidade festiva, com louvor e urgência pela missão. Desde já imploremos à Trindade e à Mater (MTA) que nos cativem, que nos encantem, que nos pilhem, até com suave violência. Assim, o Centenário nos converta, também dolorosamente, à fidelidade mais plena, à santidade.

P. Joaquín Alliende L.

Original: espanhol. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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