Posted On 2010-07-14 In Artigos de Opinião

Mestre da Vida e Pai

P. José Kentenich - Foto: Arquivo das Senhoras de SchoenstattFrancisco Nuño. Foi em uma sexta-feira, 20 de setembro de 1985. Minha mulher e eu havíamos chegado dois dias antes a Roma e nos encontrávamos junto com muitas outras pessoas, na sala Paulo VI, à sombra da Basílica de São Pedro, escutando as palavras que João Paulo II dirigia aos presentes. Éramos todos membros e amigos do Movimento Internacional de Schoenstatt. E havíamos nos reunido com o Papa para comemorar o centenário do nascimento do Pai Fundador.

 

As palavras de João Paulo II voltam uma, e outra vez, ao meu pensamento: “A experiência de séculos da Igreja nos ensina que o compromisso espiritual interior com a pessoa do Fundador e de fidelidade à sua missão, é a fonte de vida para a própria fundação e todo o povo de Deus… O carisma dos fundadores é revelado como uma experiência do Espírito, que é transmitida aos seus discípulos para que eles vivam mantidos aprofundados e constantemente em desenvolvida comunhão, e para o bem de toda Igreja.”

O Papa se referia ao Padre José Kentenich, sacerdote alemão e fundador do Movimento citado. No dia 8 de julho de 2010, completaram-se 100 anos de sua ordenação sacerdotal na cidade de Limburgo, na Alemanha. Este evento é celebrado em todo mundo com diversos atos e liturgias. Eu o celebro a minha maneira: quero revelar aos meus amigos o meu primeiro encontro com este “líder profético”, sacerdote e diretor espiritual; fundador e, sobretudo, profeta e interprete do tempo que eu vivi. Quando ouvi falar pela primeira vez sobre ele haviam passados alguns anos de seu falecimento. Morreu em 15 de setembro de 1968. Devido a esta circunstância, não cheguei a conhecê-lo em vida, mas tive, depois de algum tempo, um encontro com ele, o encontro íntimo e definitivo que mudou a minha vida.

Uma mudança de época importante

É sabido que minha família, avós e pais, foram católicos praticantes e me ensinaram a viver a vida diária desde a fé em Jesus Cristo e sob o cuidado amoroso da Providência de Deus. Eu também conheci desde pequeno a proteção e ajuda de Maria, Mãe de Jesus e Nossa. Os primeiros formadores, da minha infância e juventude, os Padres Escolápios, cujos colégios e internatos me abrigaram, souberam fazer crescer em mim o amor à Virgem Santíssima. Quando a vida me levou a cortar o “cordão umbilical” com a família e o mundo escolar, e conheci a mulher que seria minha futura esposa, notei que ela também participava dos mesmos amores que eu, fazendo com que o salto para a idade madura, fosse neste âmbito, mais simples.

Armado com estes presentes do meu passado enfrentei (e ainda enfrento), como todos da minha geração, uma mudança de tempo importante. Uma nova ordem mundial está emergindo, e eu fui protagonista e testemunha desta mudança tão profunda que até mesmo a experiência de hoje é de “construir” a cada dia. Sem entrar em uma análise pormenorizada das mudanças, gostaria de destacar algo que acho relevante: as tempestades dos últimos anos estão nos trazendo, muitas vezes, desenraizados, como quando “perdemos a casa”, caminhando ao longo da vida sozinhos, sem laços para nos proteger. Em toda parte está presente um orfanato, e todos nós vivemos em uma sociedade mecanicista e uma cultura, onde se prepara a idéia de vida, fé, natureza e graça, de Deus e das criaturas. E o mais triste de tudo, já não temos capacidade de amar, amar a verdade, a fidelidade eterna e incondicional. A decisão foi danificada seriamente pelo “modo de amar mecanicista” do homem moderno. E eu sou filho do meu tempo, o bacilo mecanicista estava presente, minha capacidade de amar “real” e organicamente, estava em perigo, até o dia quando aconteceu o “encontro” com ele, com o profeta.

Santos e fundadores

Em todas as mudanças seculares de épocas, Deus fez surgir homens e mulheres excepcionais. Antigamente os chamavam de profetas, mais tarde os conhecemos como “santos” e fundadores. Lembro-me de alguns mais conhecidos: João Batista, Bento de Núrsia, Francisco de Assis, Catarina de Senna, Ignácio de Loyola, Teresa de Jesus e tantos outros. Todos eles tiveram a mesma sorte: viver em suas próprias vidas, sentir em suas próprias carnes, os problemas e desafios de sua época. E mais uma coisa, todos eles escutaram em algum momento de sua existência aquela palavra que Deus dirigiu ao profeta Isaías: “Antes de ter sido formado no seio materno, te elegi e te chamei por teu nome: você é meu!”.

O Pe. José Kentenich também escutou esta palavra. Foi em meio a sua luta pessoal para superar seu ceticismo juvenil, seu idealismo exagerado, seu individualismo e seu naturalismo unilateral. Sua ordenação sacerdotal, que faz agora cem anos, e a prática pastoral de seus primeiros anos de sacerdócio o levaram, com o olhar e o coração postos a Maria, sua Mãe e Senhora, a superar as crises mencionadas e com isso, a ser Pai e Mestre de muitos, de sacerdotes, de consagrados e leigos, de comunidades e gerações diversas, Fundador de um grande Movimento para a Igreja do terceiro milênio.

O Encontro

E o encontro? Foi em uma conferência. A relatora, uma mulher delicada, gentil e sorridente, falou sobre o Pe. Kentenich. Relatou-nos sobre algumas passagens de sua vida e tentou explicar a forma e a maneira que o fundador e seus filhos têm para superar os problemas da vida moderna. Suas palavras e gestos me fizeram compreender que aquela maneira de pensar simples e que vê a natureza e a graça como um todo, só conhece uma forma de amar: o chamam de “amor orgânico”. Naquela noite eu disse a minha esposa, e nós dois conhecemos, na plenitude do nosso amor, o verdadeiro amor de Deus, a essência do amor trinitário.

Obrigado, Mestre Kentenich, desde então és também meu PAI José.

Tradução: Priscila Bernardo, São Paulo – Brasil

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