Posted On 2018-01-10 In Vida em Aliança

Uma apaixonada defesa do matrimónio

ALEMANHA, Pe. Elmar Busse •

Há cinco anos que existe o projeto “Boletim para casais”, iniciado e concebido por dois casais e um Padre de Schoenstatt, apoiado pelo Ramo Familiar da Alemanha. O boletim quer ser “uma apaixonada defesa do matrimónio” e “ajudar a manter viva a alegria entre os esposos e fomentar o seu permanente desenvolvimento”. No final de novembro, a redação de schoenstatt.org conversou sobre o projeto com o Pe. Elmar Busse.

Em dezembro fue publicado o boletim N° 60. Celebra o seu 5º aniversário de publicação. Muitas felicidades! Mas com a idade de cinco anos ainda não se saiu da infância…

Pe.Busse:

Sim, isso é certo. Com aproximadamente 850 subscritores, ainda somos como crianças do jardim de infância no meio dos boletins. Por outro lado, também me sinto orgulhoso, porque somos uma equipa de redação muito pequena: dois casais, Claudia e Heinrich Brehm, Gisela e Klaus Glas, os quais trabalham de forma voluntária e eu como sacerdote, onde não se pode diferenciar entre trabalho voluntário e tempo inteiro. Comigo, os limites são variáveis.

Como nasceu a ideia do Boletim para casais?

Pe. Busse:

Nós os cinco trabalhamos há anos com o Ramo Familiar e Klaus Glas como terapeuta a tempo inteiro no seu próprio consultório. Muitas vezes, nos demos conta que os casais investiam uma grande quantidade de energia para manterem a fachada: “Se não somos um bom casal, pelo menos queremos dar essa imagem aos outros”. O orgulho tem um papel muito importante. “O matrimónio é o mais natural do mundo. Então quem nos podia ajudar nisto? Seguramente não podia ajudar um  sacerdote que não está casado! E se já não se pode continuar assim um dos dois busca desesperadamente ajuda fora, nessa altura já há pouca esperança . Alguns inclusive procuram um cenário de saída justo e, se possível, pouco doloroso.

Se os casais tivessem chegado três ou quatro anos antes, teria havido mais possibilidades de esperança e não tantas lesões. Então, podíamo-nos limitar a mostrar e a ensinar novas estratégias. Nestes casos, há que dar a ambos, muita esperança. Esta observação foi sempre um tema nas nossas conversas durante as reuniões e congressos. Então dissemos: “Chegou o momento de fazer algo concreto a este respeito!” E assim surgiu a ideia.

Como chegam aos temas?

O Padre Kentenich, que trabalhou com casais durante a sua estadia em Milwaukee (1952 a 1965),  deixou-se guiar nos temas pelas perguntas que lhe faziam os casais. Depois do seu regresso à Alemanha, disse uma vez ao talentoso sacerdote de Maguncia, Werner Krim, que ele deveria estudar mais as almas que os livros. Este sacerdote assim o fez. No seu funeral, a catedral de Maguncia estava repleta de crentes. Também nós nos deixamos conduzir pelos temas que nos trazem os que procuram conselho.

Sim, mas não se repetem os conteúdos? Não se torna aborrecido com o tempo?

Pe.Busse:

É algo parecido como com a música. Antonio Salieri escreveu 28 variações para orquestra (1815), Johann Sebastian Bach compôs as suas Variações Goldberg (1741), Johannes Brahms escreveu variações sobre um tema de Haydn (1874). O ouvinte com experiência é capaz de constatar: Ah, agora volta a aparecer em menor o tema que originalmente estava em maior; a mesma melodia que era uma valsa agora converteu-se numa marcha; agora os tons da melodia básica repetem-se brincando como se decora um colar de pérolas e um ramo de pinheiro.

Existem os típicos “pontos centrais de problemas” na vida matrimonial: falta de comunicação entre eles; falta de ajuste na forma de educar, que eles trazem da sua própria experiência; gestão de tempo mal implementada; falta de disposição para perdoar; diferentes formas de entender o grau de desordem no qual se sentem bem; frustração na vida sexual; auto-compaixão, problemas de adição, falta de atenção – só para nomear os pontos mais importantes. Aqui há nove pontos sobre sexualidade e ternura, sete sobre comunicação (apesar deste tema central estar presente em quase todos os boletins), quatro sobre gestão de conflitos, cinco sobre perdoar. E nenhum boletim com estes temas se parece ao outro. Eu gosto das comparações técnicas, Klaus e Gisela gostam de citar os novos livros sobre matrimónio, os Brehms caracterizam-se pelas suas detalhadas observações. Isto é especialmente importante, porque muitas vezes são as pequenas coisas que nos desesperam: assim como uma pedrinha no sapato atrai a atenção dos nossos 5 sentidos.

Este boletim não passa inadvertido entre as muitas ofertas para casais, especialmente dentro da igreja?

Pe. Busse:

Não há muitas ofertas. Os mais importantes são, sem dúvida, os seminários EPL (Programa de aprendizagem para casais com 5 anos de casados), KEK (Comunicação construtiva para casais com mais de 5 anos de casados; KESS (cooperativo, motivador, social, orientado para a situação): a formação de KESS encontra-se no marco de um projeto da AKF -Comunidade católica de trabalho para a formação da família- em cooperação com o Departamento para a família do Arcebispado de Friburgo. Os centros da EFL (Aconselhamento matrimonial, familiar e de vida) fazem um valioso serviço, mas muitas vezes com a desvantagem descrita anteriormente do “demasiado tarde”.

Já que o meu horizonte se limita ao contacto direto, quero citar o teólogo pastoral de Múnich Wollbold, que devido à sua profissão, tem um horizonte mais amplo. Em 2015, ele foi o foco de discussão porque publicou um livro chamado “Pastoral com divorciados que voltaram a casar – oportunidades inimagináveis”.

Ali também cita o Papa Bento XVI numa conferência de sacerdotes em 2007: “O que fazer?” Um primeiro ponto seria, naturalmente, a prevenção… A primeira parte da minha resposta sugere a prevenção, não só no sentido de preparar, mas também de acompanhar, ou seja, a presença de uma rede de famílias…” (Papa Bento XVI, 24/7/2007, durante o encontro com os párocos e sacerdotes das dioceses de Belluno-Feltre e Treviso).

Wollbold continua: “Infelizmente, temos de confessar: nada disto é padrão nas dioceses alemãs. Em muitas delas não existe um plano de pastoral familiar que aborde os múltiplos problemas e desafios e não se limite só a ofertas pontuais.”

Muitos sacerdotes confessaram-me: “Estudámos o incorreto. Ninguém me perguntou alguma vez sobre as doutrinas erróneas do século III, mas perguntaram-me como ser felizes novamente como casal: isso é o que as pessoas querem saber e não os posso deixar satisfeitos com alguns princípios gerais e com boa vontade. Assim nunca mais me vêm pedir conselhos. A pastoral familiar está pouco considerada na formação sacerdotal”.

 

Dados os números de divórcio, não é como uma gota de água que cai sobre a pedra quente? Se o Gabinete Federal de Estatística publica os últimos números e se pode ler como um titular, que cada terceiro casal está divorciado e cada segundo nas grandes cidades, isto não os desanima?

Pe Busse:

Tal titular é uma  falsificação deliberada dos factos, porque só se colocam em relação os números de casais com os do divórcio. Isso não diz nada da estabilidade marital e da duração dos casais em geral. Um exemplo de cálculo: numa povoação há 396 casais. Nessa povoação casaram-se em 2017 quatro casais e dois divorciaram-se. Então em alguns jornais aparece: cada segundo casal se divorcia. Na verdade é 0,5% dos casais existentes nessa povoação. O matrimónio tem uma reputação muito melhor do que se pensa.

Um olhar para o futuro?

Pe Busse:

Espero que, como nos processos de crescimento natural, possamos conseguir com os subscritores uma curva de crescimento exponencial. O bonito com os boletins é o facto de que mais subscritores não significam mais trabalho nem tão pouco significa que exemplares impressos permaneçam como capital morto enchendo-se de pó nas estantes. Sem dúvida que conto com a bênção de cima. O próprio Deus está muito interessado em que os casais tenham êxito e que através das suas experiências interpessoais de qualidade de vida e fidelidade, eles possam transmitir algo da fidelidade da aliança de Deus.

Finalmente, espero que a ideia de prevenção também ganhe um lugar na política familiar. As crianças de pais solteiros correm um alto risco de pobreza. Se se outorgasse só una fração do que se investe para os gastos de famílias de pais solteiros na prevenção, ou seja, para a estabilidade dos casais, então existiriam muitos mais casais felizes a longo prazo. Depois de tudo, os casais de noivos não carecem de motivação. Os casais têm o anseio de que o amor dure eternamente. O que muitas vezes falta são as competências sociais. E elas podem ser transmitidas. Não são um segredo.

 

 Original: alemão, 15.11.2018. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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